sábado, 25 de abril de 2009

O mito numa versão sem brilho

O revolucionário Ernesto Che Guevara merecia uma cinebiografia à altura do mito que representa para o mundo. Che – O Argentino, do diretor Steven Soderbergh (Onze Homens e um Segredo e Traffic), de tão didático chega a ser chato. Sem emoção, o filme vale pelo resgate histórico e pela atuação correta do ator Benício Del Toro que vive o personagem título.

O longa narra a trajetória do médico argentino que se transformou em dos líderes da Revolução Cubana. Tudo começa no México em 1955 com o encontro entre Che e Fidel que planejam derrubar o corrupto Fulgêncio Batista do poder. Paralelamente, o filme mostra a visita do guerrilheiro à ONU (Organização das Nações Unidas) em 1964 na condição de Ministro de Estado.

Dono de uma retórica única e um grande estrategista, Che conquista a admiração dos cubanos na luta contra as tropas do governo, representando a esperança de uma América socialista. A história acompanha o mito até a vitória do grupo em janeiro de 1959. Como se trata de um projeto duplo, o longa de Soderbergh terá sequência, Che – A Guerrilha, previsto para ser lançado ainda este ano no Brasil.

Outros mitos da história tiveram mais sorte no cinema, como Gandhi, retratado em 1982 num belo filme, vencedor de oito Oscars do diretor Richard Attenborough. Quem esperava um épico repleto de frases de efeito vai se decepcionar. Fora uma ou outra fala contra o imperalismo americano, Che – O Argentino parece mais preocupado em ser fiel à história, como se fosse um documentário, sem o brilho da ficção, nem a alma do herói.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Uma ambiguidade calculada

Manchete do jornal Folha de S.Paulo da última segunda(20/04)
***
Comunicar com clareza é um dos objetivos da imprensa, ou, pelo menos, deveria ser. A exatidão evita ambiguidades e consequentemente diferentes interpretações de uma determinada informação. A manchete acima é um exemplo clássico de como não ser claro. Ao utilizar a palavra "pessoal" para se referir à folha de pagamento dos servidores, o editor faz uma opção pelo contraditório. Muitos leitores que leram somente a manchete acreditarão que o presidente gastou o dinheiro economizado dos juros com despesas particulares. Ninguém é ingênuo de imaginar que esse processo de construção da capa é exclusivamente estilístico. As palavras são cuidadosamente escolhidas de acordo com o impacto que se pretende causar. Por isso, fica a pergunta: A quem interessa a conotação negativa dessa manchete?

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Por que tanta gente quer ser jornalista?

Por Ricardo Kotscho
-
Faz muitos anos que os cursos de comunicação social que formam jornalistas são os mais cobiçados nos exames vestibulares. Faculdades de jornalismo pipocam por todo país, são centenas por toda parte.

Por isso, eu me pergunto: por que tanta gente quer ser jornalista, exatamente neste momento em que se anuncia a morte dos jornais e a nossa profissão é tão criticada pelo conjunto da sociedade?

Além disso, estamos prestes a ter uma decisão do Supremo Tribunal Federal, provavelmente acabando com a obrigatoriedade do diploma, o que, na prática, significa que qualquer um poderá ser jornalista, como já vem acontecendo.
Leia na íntegra:
***
Simplesmente por status ou pelo sonho de mudar o mundo?
Alguém arrisca um palpite?

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Decreto presidencial convoca Conferência

Publicado no Diário Oficial

DECRETO DE 16 DE ABRIL DE 2009.

Convoca a 1ª. Conferência Nacional de Comunicação - CONFECOM e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição,

D E C R E T A:

Art. 1º Fica convocada a 1a Conferência Nacional de Comunicação - CONFECOM, a se realizar de 1 a 3 dezembro de 2009, em Brasília, após concluídas as etapas regionais, sob a coordenação do Ministério das Comunicações, que desenvolverá os seus trabalhos com o tema: “Comunicação: meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital”.

Art. 2º A 1a CONFECOM será presidida pelo Ministro de Estado das Comunicações, ou por quem este indicar, e terá a participação de delegados representantes da sociedade civil, eleitos em conferências estaduais e distrital, e de delegados representantes do poder público.

Parágrafo único. O Ministro de Estado das Comunicações contará com a colaboração direta dos Ministros de Estado Chefes da Secretaria-Geral e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, na coordenação dos trabalhos para a realização da Conferência.

Art. 3º O Ministro de Estado das Comunicações constituirá, mediante portaria, comissão organizadora com vistas à elaboração do regimento interno da 1a CONFECOM, composta por representantes da sociedade e do poder público.

Parágrafo único. O regimento interno de que trata o caput disporá sobre a organização e o funcionamento da 1a CONFECOM nas suas etapas municipal, estadual, distrital e nacional, inclusive sobre o processo democrático de escolha de seus delegados, e será editado mediante portaria do Ministro de Estado das Comunicações.

Art. 4º As despesas com a realização da 1a CONFECOM correrão por conta dos recursos orçamentários do Ministério das Comunicações.

Art. 5º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Hélio Costa
Este texto não substitui o publicado no DOU de 17.4.2009

E ae galera, vamos nos mobilizar!!!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Um filme obrigatório

Ácido e inquietante, Entre os muros da escola, do diretor Laurent Cantet, não é mais um filme sobre professores heróis e alunos problemáticos. Ao retratar o cotidiano de uma escola do subúrbio francês, o drama questiona os limites da educação diante dos conflitos culturais, dos dramas familiares e, sobretudo, do desinteresse dos estudantes.

O abnegado dessa vez é o professor François Marin que tenta impor disciplina e extrair o máximo dos alunos numa turma multiétnica, em que árabes, africanos, orientais e franceses dividem o mesmo espaço. Provocado a todo momento, o educador procura não deixar nenhum comentário sem resposta. Aliás, esses confrontos geram os momentos mais tensos do filme.

Mas o maior problema de Marin é conviver com um sentimento de frustração muito presente. Ver que seus alunos não aprenderam é o que mais lhe incomoda como profissional. Além disso, o contato com outros professores da escola é desolador. Muitos também se encontram no limite. Marin é o exemplo do educador que se cansa, tanto do regime burocrático quanto da indiferença dos estudantes.

Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes do ano passado, Entre os muros da escola é um longa para ser discutido por educadores, dirigentes de ensino e pais de alunos. Algumas questões levantadas são muito parecidas com a realidade brasileira, principalmente no que se refere a falta de valorização dos professores e na desestrutura familiar dos alunos.

Diferentemente de outros filmes do gênero como Escritores da Liberdade com Hilary Swank e Mentes Perigosas com Michelle Pfeiffer, o longa de Cantet não tem um final feliz. Com grandes interpretações, Entre os muros da escola tem o mérito de tratar o assunto educação com os pés na realidade e sem o glamour hollywoodiano. Não é por acaso que se trata de uma obra-prima do cinema.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Uma ficção de olhar documental


Existem filmes que valem pelas belas imagens. Esse é o caso de Deserto Feliz, do diretor Paulo Caldas que co-dirigiu Baile Perfumado com Lírio Ferreira. O longa retrata paisagens bem diferentes: o sertão pernambucano e o inverno europeu. A transição entre elas é sútil. Quanto ao enredo, parece que essa não foi a maior preocupação.

O longa conta a história de Jessica, interpretada pela grata revelação Nash Laila, uma adolescente de sorriso fácil que mora com a família num povoado chamado Deserto Feliz. Ela acaba fugindo para Recife depois de ser violentada pelo padrasto. Lá, se torna prostituta e divide o quarto com algumas meninas, entre elas, Pâmela (Hermila Guedes), com quem compartilha alguns momentos de tristeza e descontração.

Na capital pernambucana, a menina conhece Mark, vivido por Peter Ketnath (Cinema, Aspirinas e Urubus), um turista alemão, que se encanta por ela e a leva para Berlim. O que poderia ser um sonho, na verdade não passa de ilusão. A vida no velho continente não é fácil para Jessica que mergulha numa grande solidão. Aliás, é comum esse sentimento nos brasileiros que tentam a sorte no exterior. Falta calor humano na fria Alemanha.

Com uma câmera nervosa, longas sequências e a valorização da imagem em detrimento dos diálogos, Deserto Feliz lembra um documentário. Os momentos de silêncio também confirmam esse característica. Por falar nisso, uma grande sacada do diretor é a inesperada cena em que um tatu bate na lente do cinegrafista.

Quando o filme acaba, fica a impressão que dava para caprichar mais no roteiro. No entanto, o longa vale à pena pela proposta visual e pela denúncia ao turismo sexual. Deserto Feliz ainda conta com as participações dos atores João Miguel e Zezé Motta.


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Por um jornalismo de qualidade e responsável

Em poucos dias, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgará o recurso extraordinário (RE) 511961 que regulamenta a profissão de jornalista, decidindo sobre a obrigatoriedade ou não do diploma de Jornalismo para o seu exercício.

Defender essa bandeira não significa cooperativismo, manutenção de privilégios, nem atentado à liberdade de expressão. Na verdade, o fortalecimento da categoria contribui para melhorar a qualidade da informação veiculada nos meios de comunicação.

O que deveria ser discutido no momento é a reformulação da grade curricular dos cursos de jornalismo com a inserção de novas disciplinas. As universidades precisam formar profissionais sintonizados com as novas tecnologias, mas sem abrir mão da formação teórica, prática e ética .

Os contrários à obrigatoriedade do diploma querem a precarização do jornalismo. É inaceitável ver ex-BBBs, atores, atletas ou outros profissionais trabalhando como jornalistas sem a formação adequada. O direito à comunicação passa pela questão da responsabilidade. Por isso, nem todo mundo pode assinar uma matéria de interesse público.