sexta-feira, 30 de julho de 2010

O poder da TV nas eleições


Publicado no jornal Folha de S. Paulo

TV é a principal fonte de informação dos eleitores
A televisão é o principal meio de comunicação utilizado pelos eleitores brasileiros para se informar sobre os candidatos que disputam as eleições neste ano. Segundo o Datafolha, 65% dos entrevistados afirmam que a TV é a mídia preferida para obter informações.
Os jornais aparecem em segundo lugar, com 12% de preferência, e a internet e o rádio vêm em terceiro, com 7% cada um. Conversas com amigos ou familiares são apontadas por 6%.
INTERNET - Nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, em 2008, segundo informações do Pew Research Center, instituto de pesquisa americano, a internet era a principal fonte de informação de um quinto do eleitorado do país.
No Brasil, a popularidade da rede é baixa mesmo quando o Datafolha pede para os entrevistados citarem três meios de comunicação usados para se informar: 27% mencionam a internet, que fica atrás de conversas com amigos e familiares (32%).
A TV é lembrada por 88% e continua em primeiro lugar. Em segundo vêm os jornais, com 54%, e rádio aparece em terceiro, com 52%.
O Datafolha ouviu 10.905 eleitores em 379 municípios de todo o país (exceto Roraima). A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais.
Entre os principais candidatos à Presidência, a internet tem maior penetração entre os eleitores de Marina Silva (PV): 11% dizem que a rede mundial de computadores é a principal fonte de informação, contra 7% dos que têm intenção de votar em José Serra (PSDB) e 7% dos que afirmam querer votar em Dilma Rousseff (PT).
Acima da média nacional, 70% dos nordestinos afirmam que a TV é a principal fonte de informação sobre os candidatos, e os moradores do Sudeste são os que menos preferem essa mídia (60%).
A TV é também o veículo mais citado pelos mais pobres: 68% entre os que têm renda familiar mensal acima de dois salários mínimos, em contraposição aos 47% dos que ganham acima de dez salários mínimos.
O jornal, por sua vez, tem maior penetração entre os mais ricos: 24% dos que têm renda familiar mensal acima de dez mínimos.
O melhor desempenho da internet ocorre entre os mais escolarizados (20% entre os que têm ensino superior), os mais ricos (18%) e os mais jovens (14% dos que têm de 16 a 24 anos).


COMENTÁRIO: Se por um lado, a TV é o meio em que o candidato pode apresentar melhor seus projetos, seja através dos debates ou da propaganda gratuita. Por outro, o marketing político utiliza a linguagem televisiva para construir um candidato perfeito, carismático e sem defeitos. O ideal é que o eleitor procure informações sobre os postulantes em todas as mídias, confrontando dados e avaliando a biografia de cada um. Outro aspecto importante é o posicionamento ideológico da fonte, às vezes, alguns veículos possuem interesse particular na divulgação de determinada notícia. A TV não pode ser a única fonte de informação para o eleitor, até porque o vídeo pode enganar muito, a história mostra que candidatos sem conteúdo já foram transformados em verdadeiros líderes na telinha.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A negação continua


No último dia 20, o presidente Lula sancionou o Estatuto da Igualdade Racial (Lei Nº 12.288/10) que prevê garantias e políticas públicas de valorização da população negra, que hoje é de mais de 90 milhões entre pretos e pardos. O instrumento, que é fruto de muitas lutas do movimento negro, acabou desidratado, deixando de lado, por exemplo, as cotas sócio-raciais nas universidades.

O Estatuto da Igualdade Racial na verdade é uma carta de intenções, não tendo o mesmo efeito legal que o da Criança e do Idoso. A correção de desigualdades históricas no que se refere às oportunidades e aos direitos dos afrodescendentes continua não sendo assumida pelo Estado, fica tudo como está, quem sabe um dia a realidade muda e os negros terão mais espaço na política, no mundo corporativo, no meio acadêmico e na mídia.

No que se refere aos meios de comunicação, o Estatuto diz que a produção veiculada deve valorizará a herança cultural e a participação da população negra na história do País. Além disso, na produção de filmes e programas veiculados na TV e no cinema, a lei prevê que “deverá ser adotada a prática de conferir oportunidades de emprego para atores, figurantes e técnicos negros, sendo vedada toda e qualquer discriminação de natureza política, ideológica, étnica ou artística”.

Escrito nos termos acima, até parece que de agora em diante os profissionais de mídia negros terão maior participação no mercado. A discriminação não ocorre de maneira explícita, ela se manifesta na reafirmação dos estereótipos. Na novela Viver a Vida, de Manoel Carlos, a modelo negra, interpretada por Taís Araújo, foi sutilmente trocada do papel de protagonista pela personagem vivida por Alinne Moraes. Algum estrangeiro que assiste à programação brasileira, terá a impressão que está num país europeu, tamanha é a ausência de negros na TV. Essa invisibilidade está tão arraigada na sociedade brasileira, que é vista com naturalidade.

Essa discussão é longa e polêmica. Criar cotas sócio-raciais nas universidades já é uma questão complexa, imagine fixar um percentual de profissionais afrobrasileiros na mídia. Talvez o caminho seja o negro ir para atrás das câmeras, nas funções de roteirista ou de direção, como fizeram os cineastas Joel Zito de Araújo e Jeferson De. No comando, eles puderam escalar o elenco que consideraram melhor e não o que combinava mais com o padrão estabelecido pela TV brasileira.

O respeito à diversidade étnica e cultural pode até está previsto em lei, mas só será levado a sério pelas emissoras de TV (em particular) quando sua audiência for afetada e, consequentemente, seu faturamento. Seria ingenuidade esperar que o Estatuto desperte uma tomada de consciência, trata-se de uma medida inócua. O que vale é pressionar, enviando emails para as assessorias dos canais, repercutindo abusos nas redes sociais ou mesmo boicotando atrações que ignorem a verdadeira identidade do povo brasileiro.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A banalização da imagem da mulher na mídia

O vídeo analisa a representação das mulheres na televisão brasileira e mostra importância do monitoramento do conteúdo e das políticas públicas de comunicação. O material foi produzido em março de 2009 pela Articulação Mulher e Mídia, com o apoio da Secretaria Especial de Política para as Mulheres.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Repúdio ao UOL


Falta de cuidado ou simplesmente preconceito? O portal UOL colocou a foto da candidata Mayara Cristina Silva, que é cega, para ilustrar o fórum a respeito das figuras mais bizarras que se apresentaram durante as audições do programa Ídolos da Rede Record.

Mayara impressionou os jurados com seu talento e na última quinta (dia 8) passou da fase do teatro. Por cantar tão bem, ela não deveria de forma alguma ilustrar a matéria sobre os candidatos mais excêntricos. No mínimo, o portal foi infeliz ao não respeitar uma pessoa portadora de deficiência visual.

O processo de produção de notícias na internet exige agilidade, mas isso não pode ser motivo para uma atitude tão preconceituosa. Particularmente, espero que esse erro seja corrigido e que um pedido de desculpas seja publicado o mais rápido possível.

Clique aqui para conhecer a Mayara

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Lições de uma Copa

A Copa do Mundo mexe com a emoção das pessoas, despertando paixão, ira, alegria e frustração. Todos esses sentimentos são captados pela mídia e superdimensionados. Uma partida de futebol se transforma numa batalha de gladiadores. Um gol não é simplesmente um gol, mas o tiro certeiro no adversário. Uma falha num jogo de quartas-de-final é como um crime cuja sentença é a execração pública sob os olhares de seus algozes, no caso, jornalistas e “especialistas” no assunto.

Como um megaevento midiático, a transmissão da Copa reúne elementos jornalísticos e de entretenimento. Para ser um espetáculo de grande audiência é preciso drama, comédia, suspense, heróis e vilões. O futebol em si não sustentaria horas e horas de transmissão, por isso, entra em cena o lado exótico do país anfitrião, a beleza das torcedoras, a família dos jogadores, a festa pelo mundo afora, vale tudo para segurar o telespectador diante da TV, mesmo sem a bola rolando.

O que mais se observou nesta Copa foi a irracionalidade de alguns jornalistas envolvidos na cobertura que agiram mais como torcedores fanáticos do que como profissionais de comunicação. Durante a chegada do ônibus da seleção holandesa ao estádio, José Luiz Datena da Band comentou que seria bom se o veículo batesse e que Robbin quebrasse a perna. O colega de emissora, Milton Neves, após a desclassificação brasileira, ameaçou o jogador Felipe Melo e sugeriu que ele não retornasse ao Brasil, promovendo uma verdadeira caça às bruxas.

Já a Rede Globo, sempre acostumada com entrevistas exclusivas e outras benesses, se viu contrariada com a postura de Dunga. Depois de um bate-boca com o repórter Alex Escobar, o técnico comprou uma briga contra um império, com direito a editorial no Fantástico repudiando sua conduta. Durante as transmissões dos jogos, tudo era motivo para criticá-lo. Quando então o Brasil perdeu para a Holanda, a vingança já estava preparada, Dunga, mesmo com seu retrospecto, foi responsabilizado pela derrota, sendo chamado de burro, destemperado e inexperiente para o cargo.

A falta de respeito com outras culturas também foi uma marca da mídia brasileira nesta Copa. Os estereótipos relacionados ao continente africano foram reforçados pela imprensa, a África do Sul foi retratada como a terra da vuvuzela, de rituais misteriosos, do safari e do ex-presidente Mandela. Essa abordagem reducionista e preconceituosa também pode ser vista na reportagem feita pela Sportv sobre o Paraguai, que ridicularizou a culinária do país, o fato de não contar com praias, sua moeda e até as músicas de uma cantora local.

Algumas partidas foram realmente emocionantes, mas o que mais impressionou durante a Copa foi o fenômeno CALA BOCA GALVAO que chegou ao trending topics do twitter. Apesar de ser uma brincadeira, essa manifestação mostra que o público não aprova os exageros de Galvão Bueno e todo seu maniqueísmo. O pior é que não tem para onde correr. Como disse alguém outro dia, o negócio é ligar a TV, colocar no mudo e escutar o jogo pelo rádio.