A história de uma ex-prostituta, famosa dos programas de TV e da internet, interpretada por uma estrela das novelas mexe com o imaginário do público. E o que ele mais espera, sem hipocrisia, é muito sexo. Nisso, Bruna Surfistinha, de Marcus Baldini, não decepciona, apesar de toda sutileza. O longa, polêmico por natureza, não choca na medida do que se imagina, mas é ousado e tem Deborah Secco como grande trunfo.
Bruna Surfistinha conta a história da jovem Raquel Pacheco, filha de classe média paulistana que um dia decide sair de casa e virar garota de programa. O filme acompanha a trajetória da adolescente que no inicio divide um privê com outras prostitutas e depois acaba atendendo em seu próprio flat. Raquel se transforma em uma celebridade nacional, dando entrevistas a programas de TV e recebendo convites para festas VIPs.
O sucesso da garota de programa é fruto de seu blog em que ela comenta sobre rotina do trabalho e a performance dos clientes na cama. Em pouco tempo, o site começa a ser acessado por milhares de internautas diariamente, interessados nas aventuras sexuais da jovem, lotando assim sua agenda. Talvez Bruna Surfistinha tenha sido o primeiro fenômeno da internet no Brasil. Isso não é muito explorado no filme.
O filme erra ao tentar explicar os motivos que levaram Raquel a se transformar em Bruna Surfistinha. Ser ridicularizada na escola, ter sentimento de inferioridade, carência afetiva, pais ausentes ou autoritários, isso tudo ajuda a entender a decisão da garota, mas não é o principal. Em outros momentos, Bruna já declarou que gostava do que fazia, não sendo simplesmente uma vítima daquela situação. O diretor comenta que o filme não é uma biografia de Raquel, mas uma versão ficcional inspirada no best-seller O Doce Veneno Do Escorpião em que a ex-garota de programa revela suas experiências.
Acostumada a interpretar tipos caricatos na TV, Deborah está convincente na pele de Bruna Surfistinha. Sem pudores, ela é verdadeira tanto como a tímida adolescente como a mulher fatal em que a jovem se transforma ao longo do filme. Se falta carga dramática não é culpa dela, mas sim do roteiro que não revela mais nuances da personagem. O elenco ainda conta com as ótimas atuações de Cássio Gabus Mendes, Cristina Lago, Drica Moraes e Fabíula Nascimento
Bruna Surfistinha é o primeiro longa de ficção de Marcus Baldini, que é conhecido por seu trabalho na MTV e pela direção do curta Sopa no Mel (1995), o documentário Sonho Verde (2006) e a série Natalia (2010). O diretor opta por uma linguagem frenética em vez de dedicar espaço para o que passa pela cabeça da menina. A sensação de vazio fica no ar. A intenção é abusar da sensualidade de Deborah, sem muito tempo para conhecer sua alma.
O filme é independente, contando apenas com dinheiro vindo de leis de incentivo. Houve um certo moralismo por parte das empresas que não quiseram associar suas marcas a um filme que conta a história de uma ex-prostituta. Uma preocupação que não se justifica, o longa não exibe nenhum nu frontal ou outra cena que escandalize as famílias, tudo é muito sutil. E o mais importante, Bruna Surfistinha não glamouriza a profissão mais antiga do mundo. A falta de patrocinadores revela conservadorismo.