O que faz a moradora da periferia de São Paulo se importar com o vestido que Kate Middleton usará em seu casamento com o príncipe William no próximo dia 29 ? A única resposta possível é a centralidade da mídia em nosso cotidiano. Nesta sexta-feira, o mundo promete parar diante da TV para assistir aquele que deve ser o evento do século.
A cerimônia real terá transmissão internacional e deve atingir altos índices de audiência. Como afirma Ignacio Ramonet, a força da comunicação planetária e globalizada exerce, como nunca, um papel ideológico e opressor, inundando todos os aspectos da vida social, política, econômica e cultural.
Assim como foi o funeral de Lady Diana, o casamento real será capaz de despertar emoções em pessoas que possivelmente nunca ouviram falar no primogênito do príncipe Charles, muito menos na plebeia Kate. O poder da mídia em transformar uma cerimônia da realeza britânica num evento global deriva da sua importância como principal instituição veiculadora de informação. O noticiário da proxima sexta deve mexer com o imaginário tanto da moradora da periferia de São Paulo quanto da executiva em Nova Iorque.
Imaginem a edição do Jornal Nacional do próximo dia 29. Quantos minutos serão dedicados ao casamento real? O preocupante é que todo esse poder da mídia, operando em conjunto (TV-jornal-internet) acaba explorando um acontecimento à exaustão e ignorando outros de maior relevância em termos de interesse público. Ou alguém considera o matrimônio de Kate e William mais importante que o perigo de inflação no Brasil?