domingo, 10 de julho de 2011

A tática de ignorar o problema



O Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou na última sexta (10) um novo parecer sobre a obra Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato. No texto, os conselheiros sugerem que os professores promovam uma contextualização crítica do livro com os alunos.

No parecer anterior, o CNE havia classificado a obra como racista e sugerido notas explicativas sobre o conteúdo da obra quanto à existência de estereótipos raciais. A repercussão negativa foi imediata, principalmente de grande parte da mídia e de alguns educadores. O parecer foi acusado de censura e o MEC decidiu que deveria ser refeito.

O novo parecer diz: “é essencial considerar o papel da educação escolar na superação dos preconceitos e estereótipos veiculados socialmente, na valorização da diversidade e na promoção da igualdade étnico-racial”. Nesse sentido, é importante que os professores estejam preparados para identificar a existência de mensagens discriminatórias em obras literárias e  que façam as devidas ressalvas.

O parecer prossegue: “Uma sociedade democrática deve proteger o direito de liberdade de expressão e, nesse sentido, não cabe veto à circulação de nenhuma obra literária e artística. Porém, essa mesma sociedade deve garantir o direito à não discriminação, nos termos constitucionais e legais, e de acordo com os tratados internacionais ratificados pelo Brasil”.

E, apesar de reconhecer a qualidade ficcional e o valor literário da obra de Monteiro Lobato, o parecer ressalta que “(...) a literatura, em sintonia com o mundo, não está fora dos conflitos, das hierarquias de poder e das tensões sociais e raciais nas quais o trato à diversidade se realiza”.

A polêmica começou quando a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) acionou o CNE sobre o conteúdo racista do livro Caçadas de Pedrinho. Os trechos  “— É guerra e das boas. Não vai escapar ninguém — nem Tia Nastácia, que tem carne preta” e "Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou na árvore que nem uma macaca de carvão" são os que motivaram a denúncia da SEPPIR. O que pode ser considerado sem maldade num primeiro momento, analisado criticamente, fica evidente a conotação pejorativa.

Vetar o livro de Monteiro Lobato em sala de aula não é a melhor maneira de se promover uma educação antirracista. No entanto, a ideia das notas explicativas poderia ser útil para contextualização da obra. Ao recuar, o novo parecer deixa a responsabilidade única e exclusivamente com o professor. Como muitos educadores ainda não receberam uma formação sobre a temática étnico-racial, é provável que ignorem as orientações do CNE, até porque silenciar sobre questões polêmicas neste país resulta em menos dor de cabeça. 


Lamentavelmente, um retrocesso. 

4 comentários:

Bibliotecas Comunitárias Quilombolas disse...

No fim, prefiro ficar com a ideia positiva de toda essa discussão: valeu a iniciativa e coragem da SEPPIR em propor tal veto, o qual, embora não aprovado, provocou agitação em um dos setores mais tradicionais e enraizados do Brasil.
Abraços. Rubenildo

Michel Carvalho disse...

Caro Rubenildo,

Concordo com você no qu se refere à importância do debate suscitado, mas acho que muitas decisões acabam não sendo tomadas por causa de setores mais conservadores de nossa sociedade. Nessa arena de conflitos, às vezes, avançamos, outras, recuamos.

Abs

Investigador disse...

Já tinha visto antes numa reportagem no SBT.
Esse livro é mais nojento que aquele com palavras de baixo calão que ia ser distribuídos paras as crianças em São Paulo.
Realmente valeu a iniciativa do SEPPIR .
Ótimo post.

Uilians disse...

Para bens pela iniciativa. Visite o site do Continental News, único jornal que está na Área Continental de São Vicente
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