terça-feira, 13 de setembro de 2011

A criminalização da imagem do professor




No último dia 4, apresentei o artigo 'Aula do Crime': O discurso jornalístico e a criminalização da imagem do professor e de sua prática pedagógica durante o XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado em Recife-PE, dentro da mesa A imagem do professor nos meios de comunicação do Grupo de Pesquisa Comunicação e Educação. 

No trabalho, analiso a cobertura da imprensa em relação ao episódio que ficou conhecido como 'aula do crime', em que um professor de matemática na cidade de Santos (SP) utilizou exemplos de práticas criminosas, como tráfico de drogas e prostituição, para elaborar problemas aritméticos para alunos do primeiro ano do ensino médio. 

A partir das matérias jornalísticas, reflito como a imprensa, por meio de estratégias discursivas, constrói socialmente a representação do docente e influencia o debate sobre educação na esfera pública.

Para conferir na íntegra, acesse

sábado, 3 de setembro de 2011

Laurindo defende modelo britânico para TV Brasil e Ley de Medios



Laurindo Lalo Leal Filho, jornalista, professor da ECA/USP e ouvidor-geral da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) foi um dos convidados da Roda de Conversa Acesso à Informação Pública: Direito de Todos, promovida pelo Fórum da Cidadania no no SESC/Santos no dia 19 de Agosto. Na ocasião, o professor concedeu uma entrevista ao blog. Confiram:

MÍDIA CIDADÃ- Existe muita confusão entre os conceitos de TV pública e TV estatal. Como o Sr os diferencia e quais exemplos desses dois modelos temos no Brasil e no mundo?
LAURINDO - Televisão pública é aquela que mantém independência em relação ao Estado e aos interesses privados. A estatal é um órgão do Estado. A BBC no Reino Unido, a NHK no Japão e a PBS nos Estados Unidos são bons exemplos de TV públicas. No Brasil a TV Cultura de São Paulo e a TV Brasil, graças a independência do Conselho Curador, são também bons exemplos.

MD- O modelo britânico de televisão pública deveria ser seguido pelo Brasil? O que falta para a TV Brasil ser uma emissora com a qualidade da BBC de Londres?
L - Sem dúvida. É o melhor exemplo. A TV Brasil necessita ter outras fontes de financiamento para garantir mais independência em relação ao Estado. Embora nos governos dos presidentes Lula e Dilma ela tem tido total independência tanto pela postura desses governantes como pelas posições tomadas pelo Conselho Curador.


MD - O controle social da mídia é atacado por vários setores da sociedade, principalmente por jornalistas e empresários da comunicação que o acusam de volta da censura. O Sr acredita em uma Lei Geral das Comunicações que atenda as demandas dos mais diferentes setores? O que acha da Ley de Medios da presidente Cristina Kirchner?
L - Começando pelo fim, a Ley de Medios argentina é uma das mais modernas e democráticas leis de comunicação existentes no mundo. Ela foi produzida após uma ampla pesquisa realizada em vários países com sólidos princípios democráticos e debatida por longo tempo e profundamente na sociedade. Uma lei de comunicações para o Brasil não tem necessariamente de atender as demandas dos mais diferentes setores. Aqueles, por exemplo, que querem manter os monopólios de comunicação intactos não devem ser atendidos. Ela tem que atender aos interesses das camadas mais amplas da população e não de setores minoritários e privilegiados.


MD - O Sr defende a exibição do programa de rádio Voz do Brasil, herança do getulismo? Ele ainda tem o caráter público de prestação de contas do governo e do legislativo?
L - Sim. É talvez o único programa informação de rádio independente existente no Brasil. Ele independe totalmente dos interesses dos donos das emissoras de rádios, refletidos sempre nos noticiários. Não presta conta apenas do executivo e do legislativo, mas também do judiciário e dá informações importantes para o público que não são dadas pelas emissoras comerciais. E defendo também a manutenção da Voz do Brasil no horário da 19h em todas as emissoras, como é hoje.


MD - Com a internet, há uma maior diversidade de opiniões colocadas em jogo. No entanto, a TV ainda é o meio mais popular de entretenimento e informação da população brasileira. O Sr acredita que os blogs e redes sociais podem influenciar os debates colocados na agenda social brasileira, mesmo com a primazia da TV?
L - Sim. Embora ainda o número de usuários da internet em relação a TV ainda seja pequeno, isso já está ocorrendo.


MD - O Sr acha que o Ranking da Baixaria na TV publicado anualmente é ignorado pelas emissoras da TV e pela sociedade? Como fazer para que ele seja mais efetivo na defesa dos direitos humanos?
L - Divulgando-o mais. Envolvendo mais pessoas e abrindo novos canais para manifestações do público que está saturado de tanta baixaria. Só assiste e dá audiência porque não tem alternativas melhores.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Divulgação científica, direito do cidadão


A sociedade do século XX é fruto da cultura tecnocientífica. Os avanços obtidos nas áreas da saúde, habitação, alimentação, energia ou comunicação estão associados às descobertas de cientistas e técnicos. Muitos desses avanços científicos foram desenvolvidos em pesquisas de instituições públicas de ensino, financiados por organismos ligados ao Estado, o que exige a devolutiva à sociedade do conhecimento desenvolvido nesses espaços.

As instituições científicas possuem responsabilidades sociais específicas, que incluem a prestação de contas dos recursos públicos utilizados, como a obrigação de ser uma organização transformadora, capaz de contribuir para o desenvolvimento do senso crítico dos cidadãos.

A divulgação científica tem três objetivos principais: educacional, que amplia o conhecimento e a compreensão do público leigo a respeito do processo científico; cívico, que desenvolve uma opinião pública informada sobre os impactos do desenvolvimento científico e tecnológico sobre a sociedade; e de mobilização popular, que instrumentaliza os atores sociais na formulação de políticas públicas e na escolha de opções tecnológicas.

Dessa maneira, é necessário que universidades e centros de pesquisa invistam em políticas de divulgação científica. Primeiramente, para traduzir o conhecimento da ciência para o público em geral, de forma que as pessoas observem na prática os resultados dos fenômenos estudados cientificamente.

Além desse aspecto, a divulgação da ciência significa uma população mais informada a respeito das descobertas científicas e tecnológicas. Isso contribui para a quebra de paradigmas, instrumentalizando os atores sociais para a mudança de comportamento, seja no cuidado à saúde ou na preservação do meio ambiente. 

A questão da divulgação científica também está ligada ao direito à informação - assegurado pelo artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamado pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em 1948. Dessa forma, a socialização do saber é uma obrigação de qualquer Estado democrático. A ciência não pode continuar falando somente para os pares e circunscrita ao mundo acadêmico.

domingo, 7 de agosto de 2011

A fome e a função do jornalismo


Quando me deparei com essa capa fiquei perplexo. Vários pensamentos povoaram minha cabeça. Num primeiro momento, pensei que capa sensacionalista, explorando a imagem de uma criança africana em situação de miséria. Mas depois refletindo melhor concluí o quanto essa foto é adequada enquanto denúncia. O jornalismo só se faz necessário numa sociedade por sua função social.

É lógico que a foto da criança faminta choca, nos incomoda como ser humano. Às vezes, penso como o mundo ainda convive com cenas desse tipo. A fome que atinge milhões de pessoas Somália não pode ser ignorada pelos países mais ricos, pela ONU e por cada um de nós. É triste ver como boa parte de nossa sociedade considere normal a miséria nos países africanos. Parece que nossa capacidade de sensibilizar com o sofrimento do outro está cada vez menor. 

Voltando à função da imprensa, vejo que a manchete escolhida é sobre o medo de recessão mundial e a sub-manchete se refere à saída de Nelson Jobim do Ministério da Defesa. Pelos dogmas do jornalismo, está tudo correto. A primeira é mais forte pelo alarmismo e pela escala global. A segunda nos remete à questão local, a troca de posto numa pasta importante do Executivo Nacional. Mas, então, porque só a foto com uma pequena legenda da criança faminta? Inegavelmente, a imagem chama a atenção, mas o assunto em si não é novidade. Cenas de uma África miserável em que as crianças morrem de fome devido a conflitos armados ficaram banalizadas. Elas não causam mais indignação, no máximo, um sentimento de resignação. 

A fome é a maior denúncia social que o jornalismo pode fazer. Pensar que crianças morrem por não terem o que comer é de um absurdo que não pode ser ignorado por todos nós. É evidente que a mídia é movida por seus interesses políticos e econômicos, mas vejo que os profissionais que trabalham nela podem fazer a diferença. Utopia ou não, creio que a imprensa tem um papel importante ao resgatar certos sentimentos na sociedade e a capacidade de se indignar com a fome é um deles.