quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Uma história requentada

Para emplacar, Última Parada 174 de Bruno Barreto tem que superar três grandes desafios. O primeiro é convencer o público que não se trata de mais um longa do gênero “favela movie”. O segundo é contar uma nova história de um tragédia amplamente conhecida. O último, e não menos complicado, é justificar a sua escolha para representar o país na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

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terça-feira, 21 de outubro de 2008

A tragédia e o espetáculo midiático

Uma obsessão temática. É assim que a mídia contemporânea trata a violência. A cobertura sobre o sequestro das garotas Eloá e Nayara em Santo André é mais um triste exemplo dessa realidade. Neste caso, todos os limites éticos e do bom senso foram ultrapassados. Na busca frenética por índices de audiência, as emissoras de TV comprometeram de forma crucial o trabalho da polícia, contribuindo muito para o desfecho tão trágico. A loucura de um psicopata e a angústia de uma família foram transformadas em um verdadeiro espetáculo midiático transmitido em cadeia nacional.

Entre os equívocos cometidos pela mídia, o maior deles foi glamourizar a figura do sequestrador Lindemberg. Um desses programas da tarde chegou a conversar ao vivo com ele, assumindo um papel de negociador que cabia exclusivamente à polícia. Outra apresentadora teve a coragem de pedir um "tchauzinho" ao criminoso. Alguns comunicadores fizeram apelos no ar pela libertação das garotas. No entanto, nenhum canal avaliou que essas atitudes apenas reforçavam o momento de celebridade do ex-namorado de Eloá. Não é à toa que ele se sentia o "príncipe do gueto", como revelou o depoimento de Nayara.

Os meios de comunicação precisam fazer uma autocrítica depois desse episódio. Será que a cobertura repetitiva e desumana desse sequestro não é em si uma violência? O fato precisava ser informado, mas a tragédia não deveria ser explorada de uma maneira tão sensacionalista. Durante a cobertura, a mídia poderia ter um caráter propositivo, promovendo discussões sobre temas relacionados à juventude e afetividade, ao diálogo com pais ou mesmo sobre a importância da doação de órgãos.

Mas nenhum veículo se arrisca a fugir do lugar-comum, é como se todos seguissem o mesmo manual. A lógica da audiência impede que a mídia aprofunde questões importantes que a própria tragédia revela. Como o professor de comunicação da PUC-SP Norval Baitellho Jr explica na Folha de S. Paulo, "o fetiche da informação a qualquer custo não passa de espetacularização".

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A mídia paulistana é anti-PT?

O locutor pergunta:
“Você sabe mesmo quem é o Kassab?

Sabe de onde ele veio?
Qual a história do seu partido?
De quem foi secretário e braço direito?
De quem esteve sempre ao lado, desde que começou na política?
Se já teve problemas com a justiça?
Se melhorou de vida depois da política?
É casado? Tem filhos?
Já que ele não informa nada, não é mais prudente se informar melhor sobre ele?"

As perguntas em negrito fazem alusão à homossexualidade? Sinceramente, acho que não. Mas a maioria dos formadores de opinião considera que esse tipo de questionamento veiculado na propaganda eleitoral da candidata Marta Suplicy (PT) tem conotação discriminatória.

A mídia, que até agora disfarçava sua predileção, escancarou seu posionamento depois do polêmico comercial. Os jornais e sites repercutem o caso incansavelmente, entrevistando grupos GLBTT, políticos e sociólogos a fim de comprovar a tese que a campanha petista foi preconceituosa ao levantar tais insinuações. A imprensa em geral adotou um discurso que vitimiza o prefeito e condena a ex-ministra.

Realmente, ser casado e ter filhos são informações irrelevantes se forem comparadas com a trajetória política de cada candidato. Creio que essas perguntas de ordem pessoal mostram mais o nível de desconhecimento do eleitor em relação ao atual prefeito do que dúvidas quanto a sua opção sexual. Essa polêmica tomou conta do debate programático, esvaziando qualquer análise aprofundada das propostas dos candidatos para as áreas da saúde, educação, transporte, cultura, entre outras. Isso acaba favorecendo quem está na frente das pesquisas, no caso Kassab.
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P.S: A revista Veja dessa semana traz na Carta ao Leitor o editorial O povo não é bobo. Nele, a publicação comenta sobre o resultados das eleições municipais, destacando o desempenho de Kassab e afirmando que a população votou nos melhores, independente do partido. O texto é acompanhado por uma foto do prefeito com a legenda "Gilberto Kassab, de São Paulo: exemplo de que a maioria dos brasileiros sabe, sim, votar". Agora, não há dúvida de que lado está a revista do grupo Abril. Pelo menos, não disfarça essa manifestação de apoio de matéria jornalística isenta.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Uma crise difícil de entender

O mundo está assustado com a crise que atinge todos os mercados financeiros. Nunca se ouviu falar tanto de commodities, circuit-breaks, câmbio, risco-país, Nasdaq, Dow Jones, entre outros termos. Para explicar o fenômeno que está derrubando as bolsas, a mídia abusa do economês, confundindo a maioria das pessoas, que não faz idéia do significado dos gráficos mostrados na TV e nos jornais.
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Na verdade, o público quer saber as reais dimensões dessa crise. Será que vai prejudicar a criação de empregos no país ou gerar a disparada dos preços nos supermercados? A oferta de crédito está comprometida? São essas questões que a mídia precisa responder, traduzindo o discurso dos analistas financeiros para uma linguagem acessível a todas classes sociais. Assim, não basta informar que os EUA criarão pacotes de socorro aos bancos falidos, o importante é saber o quanto isso vai influenciar o mercado interno brasileiro.
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Quando o assunto é economia, os meios de comunicação devem ser quase didáticos para tornar a informação clara e prática. Quem prefere um conteúdo mais aprofundado, deve procurar publicações e veículos especializados. Dessa forma, ao falar de risco-Brasil, é preciso explicar que quanto maior esse índice, menor é a confiança do investidor externo nas finanças brasileiras, ou seja, pior para o desenvolvimento do país.
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P.S: A mídia pode apontar várias causas para esse colapso global, mas a principal delas é ignorada: o fracasso do capitalismo como modelo econômico. O exemplo norte-americano de estabilidade acabou, o império está ruindo, provando que hegemonias também têm prazo de validade.

sábado, 4 de outubro de 2008

Além da grande mídia (*)

Por que ler Caros Amigos, Brasil de Fato e Carta Capital?

Caros Amigos é uma revista mensal que há mais de dez anos é um alimento sério e um contra-veneno para as intoxicações da chamada grande mídia ou, mais concretamente, a mídia empresarial, patronal, corporativa ou simplesmente burguesa. É um apanhado do mês que traz informações, fatos e dados que esclarecem o que, às vezes, ficou confuso ou incompreendido durante o período. Traz uma visão crítica, de esquerda, que é a antítese da versão e do enfoque que a direita vomita diariamente sobre a cabeça dos caros ouvintes, caros leitores, ou mais ainda caríssimos telespectadores.

Brasil de Fato é uma publicação de esquerda que a cada semana trata de vários temas centrais e atuais no debate político. Serve como um desinfetante contra a mídia que está do outro lado, o lado patronal, o lado do capitalismo, seja ele financeiro, industrial, comercial, nacional ou internacional. É uma publicação plural que abriga, em suas fileiras, desde bispos a tradicionais comunistas de vários partidos: do PCB, PCdoB, PSTU, PSOL, PT, PDT ao PSB. Reúne desde ativistas militantes de vários movimentos sociais, com destaque para o MST, que é a alma do semanário, a renomados professores, comunicadores e cientistas políticos. Dele participam ativistas ambientalistas, feministas, lutadores pelos direitos humanos e, especificamente, o direito de os trabalhadores construírem sua sociedade.

O fio condutor do Brasil de Fato é a construção de outra sociedade, com nome e sobrenome: uma sociedade socialista. Uma alternativa a esta sociedade capitalista neoliberal.

CartaCapital não é uma revista de nenhum grupo ou partido de esquerda. Definiria como uma revista social-democrata assumida. Como tal, não aceita a sociedade e as injustiças por ela produzidas. Combate e apresenta sempre outra versão da comunicação truncada, distorcida ou simplesmente falsificada que a sociedade produz para se sustentar. Com extrema clareza e coragem, fustiga o sistema e seu aparato de divulgação e sustentação ideológica, a mídia. Sua marca, até hoje, tem sido a independência e a distância do poder. É riquíssima em informações, dados e fatos que só ela conhece, investiga e publica, sem medo. É uma ferramenta essencial para quem quer agir e mudar este mundo.

Essas três publicações não podem faltar na bolsa, sacola, mesa ou nas mãos de todo lutador por uma nova sociedade. Ler estes três veículos não é uma opção. É uma condenação. Sem eles é como brincar de cabra cega. Em tempo: essa condenação é um enorme prazer, como o nascer do sol após uma noite sem lua.

(*) Por Vito Giannotti, no Boletim do Núcleo Piratininga de Comunicação