segunda-feira, 26 de julho de 2010

A negação continua


No último dia 20, o presidente Lula sancionou o Estatuto da Igualdade Racial (Lei Nº 12.288/10) que prevê garantias e políticas públicas de valorização da população negra, que hoje é de mais de 90 milhões entre pretos e pardos. O instrumento, que é fruto de muitas lutas do movimento negro, acabou desidratado, deixando de lado, por exemplo, as cotas sócio-raciais nas universidades.

O Estatuto da Igualdade Racial na verdade é uma carta de intenções, não tendo o mesmo efeito legal que o da Criança e do Idoso. A correção de desigualdades históricas no que se refere às oportunidades e aos direitos dos afrodescendentes continua não sendo assumida pelo Estado, fica tudo como está, quem sabe um dia a realidade muda e os negros terão mais espaço na política, no mundo corporativo, no meio acadêmico e na mídia.

No que se refere aos meios de comunicação, o Estatuto diz que a produção veiculada deve valorizará a herança cultural e a participação da população negra na história do País. Além disso, na produção de filmes e programas veiculados na TV e no cinema, a lei prevê que “deverá ser adotada a prática de conferir oportunidades de emprego para atores, figurantes e técnicos negros, sendo vedada toda e qualquer discriminação de natureza política, ideológica, étnica ou artística”.

Escrito nos termos acima, até parece que de agora em diante os profissionais de mídia negros terão maior participação no mercado. A discriminação não ocorre de maneira explícita, ela se manifesta na reafirmação dos estereótipos. Na novela Viver a Vida, de Manoel Carlos, a modelo negra, interpretada por Taís Araújo, foi sutilmente trocada do papel de protagonista pela personagem vivida por Alinne Moraes. Algum estrangeiro que assiste à programação brasileira, terá a impressão que está num país europeu, tamanha é a ausência de negros na TV. Essa invisibilidade está tão arraigada na sociedade brasileira, que é vista com naturalidade.

Essa discussão é longa e polêmica. Criar cotas sócio-raciais nas universidades já é uma questão complexa, imagine fixar um percentual de profissionais afrobrasileiros na mídia. Talvez o caminho seja o negro ir para atrás das câmeras, nas funções de roteirista ou de direção, como fizeram os cineastas Joel Zito de Araújo e Jeferson De. No comando, eles puderam escalar o elenco que consideraram melhor e não o que combinava mais com o padrão estabelecido pela TV brasileira.

O respeito à diversidade étnica e cultural pode até está previsto em lei, mas só será levado a sério pelas emissoras de TV (em particular) quando sua audiência for afetada e, consequentemente, seu faturamento. Seria ingenuidade esperar que o Estatuto desperte uma tomada de consciência, trata-se de uma medida inócua. O que vale é pressionar, enviando emails para as assessorias dos canais, repercutindo abusos nas redes sociais ou mesmo boicotando atrações que ignorem a verdadeira identidade do povo brasileiro.

3 comentários:

Alan Medeiros disse...

me ser um filme mto interessante meu caro, irei conferir o mais breve possível, no mais gostei de seu blog, do lay e tudo mais
abraço

Danilo Corrêa disse...

Parace sr um ótimo filme! Vamos ver né!
http://danilofutebol.blogspot.com/

Michel Carvalho disse...

Alan e Danilo,

A Negação do Brasil é um ótimo documentário, mas o texto não trata disso, o cartaz apenas ilustra a temática. Pena que não puderam ler!!!