Uma obsessão temática. É assim que a mídia contemporânea trata a violência. A cobertura sobre o sequestro das garotas Eloá e Nayara em Santo André é mais um triste exemplo dessa realidade. Neste caso, todos os limites éticos e do bom senso foram ultrapassados. Na busca frenética por índices de audiência, as emissoras de TV comprometeram de forma crucial o trabalho da polícia, contribuindo muito para o desfecho tão trágico. A loucura de um psicopata e a angústia de uma família foram transformadas em um verdadeiro espetáculo midiático transmitido em cadeia nacional.
Entre os equívocos cometidos pela mídia, o maior deles foi glamourizar a figura do sequestrador Lindemberg. Um desses programas da tarde chegou a conversar ao vivo com ele, assumindo um papel de negociador que cabia exclusivamente à polícia. Outra apresentadora teve a coragem de pedir um "tchauzinho" ao criminoso. Alguns comunicadores fizeram apelos no ar pela libertação das garotas. No entanto, nenhum canal avaliou que essas atitudes apenas reforçavam o momento de celebridade do ex-namorado de Eloá. Não é à toa que ele se sentia o "príncipe do gueto", como revelou o depoimento de Nayara.
Os meios de comunicação precisam fazer uma autocrítica depois desse episódio. Será que a cobertura repetitiva e desumana desse sequestro não é em si uma violência? O fato precisava ser informado, mas a tragédia não deveria ser explorada de uma maneira tão sensacionalista. Durante a cobertura, a mídia poderia ter um caráter propositivo, promovendo discussões sobre temas relacionados à juventude e afetividade, ao diálogo com pais ou mesmo sobre a importância da doação de órgãos.
Mas nenhum veículo se arrisca a fugir do lugar-comum, é como se todos seguissem o mesmo manual. A lógica da audiência impede que a mídia aprofunde questões importantes que a própria tragédia revela. Como o professor de comunicação da PUC-SP Norval Baitellho Jr explica na Folha de S. Paulo, "o fetiche da informação a qualquer custo não passa de espetacularização".
7 comentários:
é diante desses acontecimentos que a sociedade se pergunta se não seria bom ter um órgão q regulamentasse o trabalho da imprensa
Em alguns países, existe uma regulação a respeito da cobertura da mídia para sequestros, roubos, salvamentos, entre outros. Mas no Brasil, qualquer possibilidade de regulamentação é encarada como atentado à liberdade de imprensa.
o erro está em fazer de simples modelos, ex-big brothes, etc... jornalistas!
Infelizmente a imprensa não aprendeu nada com o caso Isabela Nardoni, quando chega um momento que ninguém aguenta mais o assunto, com o sensacionalismo, e neste caso com a descabida interferência de apresentadores de TV num caso sério de sequestro. É uma pena !!
Grande, Michel!
Olha, uma psicanalista disse dia desses em um jornal que o que ocorreu nesse processo do sequestro nada mais foi que foi um mutualismo imprensa-público. A mídia, toda ela, novelizou o episódio porque o público clamou e o público se envolveu porque a mídia novelizou. Uma retroalimentação grotesca que permeou e foi fundamental no desfecho dessa tragédia.
Mas o mais triste disso tudo é constatar que esse envolvimento público esporádico com um episódio de violência surge justamente porque a sociedade está deixando de se sensibilizar com as barbáries políticas e socias do país. E, com isso, precisa de atores cá e lá de vez em quando para torcer, chorar, vibrar, xingar.
Na falta de novela das oito que dê audiência...
Abraços, cappucino
Essa constatação de que "a sociedade está deixando de se sensibilizar com as barbáries políticas e socias do país" como bem observado pelo jornalista Pedro Ozores assusta. A mídia exerce esse papel de regulação social de uma forma maniqueísta, ora comovendo, ora revoltando o espectador. Por isso, o caminho é a democratização dos meios de comunicação e o investimento pesado em educação para que o público não continue sendo refém dessa dualidade midiática. Grande Capuccino!Bravo!
http://dasmelodiasurbanas.blogspot.com
vai lá, também. Abraço.
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