sexta-feira, 26 de março de 2010

Não existe santo numa queda-de-braço

Quem acompanha o noticiário percebeu que a troca de farpas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a imprensa está se tornando cada vez mais constante e inflamada. Não é coincidência que esse recrudescimento ocorra às vésperas das eleições. Enquanto Lula fala que alguns segmentos da mídia agem com má-fé em relação ao seu governo, jornalistas acusam o petista de autoritarismo.

O professor de comunicação Eugenio Bucci, ex-diretor da Radiobras, disse recentemente que um presidente deve se limitar a responder o que os meios de comunicação lhe perguntam. Bucci ainda comentou que a postura de Lula trata-se de uma campanha contra a credibilidade da imprensa. A relação entre o petista e grande parte da mídia já não é boa há muito tempo. Em uma entrevista à revista Piauí, Lula ironizou dizendo que não lia os jornais porque lhe causavam azia.

É verdade que o noticiário não pode se resumir a inaugurações, notas oficiais e fatos positivos como às vezes parece que Lula deseja. No entanto, o presidente está certo quando comenta que há uma predileção pela desgraça na mídia, particularmente contra a sua gestão. Muitos podem discordar, mas é uma crítica legítima, afinal num regime democrático, o trabalho dos meios de comunicação pode e deve ser criticado por qualquer cidadão, inclusive pelo chefe de estado.

A agenda positiva apregoada por Lula não existe no jornalismo. O lançamento de um programa do governo por si só dificilmente se torna notícia, a não ser que seja algo revolucionário ou que desperte suspeitas. Por outro lado, o partidarismo de alguns veículos ultrapassa qualquer princípio de imparcialidade. Será que a gestão do governador José Serra foi devidamente fiscalizada e cobrada pela imprensa paulista?

A imprensa livre é um dos pilares de qualquer democracia, mas a alcunha de quarto poder é exagero, ainda mais nesses tempos de redes sociais, onde todo mundo tem voz. Procurar informar os fatos, com isenção e responsabilidade é prerrogativa de todo jornalista. Esse trabalho, como outro qualquer, é passível de falha, por isso, os profissionais de comunicação precisam aceitar as críticas, principalmente porque ninguém tem o monopólio da verdade absoluta, nem Lula, nem a mídia.

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