sábado, 26 de fevereiro de 2011

Bruna Surfistinha: uma versão sem alma na telona


A história de uma ex-prostituta, famosa dos programas de TV e da internet, interpretada por uma estrela das novelas mexe com o imaginário do público. E o que ele mais espera, sem hipocrisia, é muito sexo. Nisso, Bruna Surfistinha, de Marcus Baldini, não decepciona, apesar de toda sutileza. O longa, polêmico por natureza, não choca na medida do que se imagina, mas é ousado e tem Deborah Secco como grande trunfo. 

Bruna Surfistinha conta a história da jovem Raquel Pacheco, filha de classe média paulistana que um dia decide sair de casa e virar garota de programa. O filme acompanha a trajetória da adolescente que no inicio divide um privê com outras prostitutas e depois acaba atendendo em seu próprio flat. Raquel se transforma em uma celebridade nacional, dando entrevistas a programas de TV e recebendo convites para festas VIPs.

O sucesso da garota de programa é fruto de seu blog em que ela comenta sobre rotina do trabalho e a performance dos clientes na cama. Em pouco tempo, o site começa a ser acessado por milhares de internautas diariamente, interessados nas aventuras sexuais da jovem, lotando assim sua agenda. Talvez Bruna Surfistinha tenha sido o primeiro fenômeno da internet no Brasil. Isso não é muito explorado no filme.

O filme erra ao tentar explicar os motivos que levaram Raquel a se transformar em Bruna Surfistinha. Ser ridicularizada na escola, ter sentimento de inferioridade, carência afetiva, pais ausentes ou autoritários, isso tudo ajuda a entender a decisão da garota, mas não é o principal. Em outros momentos, Bruna já declarou que gostava do que fazia, não sendo simplesmente uma vítima daquela situação. O diretor comenta que o filme não é uma biografia de Raquel, mas uma versão ficcional inspirada no best-seller O Doce Veneno Do Escorpião em que a ex-garota de programa revela suas experiências.

Acostumada a interpretar tipos caricatos na TV, Deborah está convincente na pele de Bruna Surfistinha. Sem pudores, ela é verdadeira tanto como a tímida adolescente como a mulher fatal em que a jovem se transforma ao longo do filme. Se falta carga dramática não é culpa dela, mas sim do roteiro que não revela mais nuances da personagem. O elenco ainda conta com as ótimas atuações de Cássio Gabus Mendes, Cristina Lago, Drica  Moraes e Fabíula Nascimento

Bruna Surfistinha é o primeiro longa de ficção de Marcus Baldini, que é conhecido por seu trabalho na MTV e pela direção do curta Sopa no Mel (1995), o documentário Sonho Verde (2006) e a série Natalia (2010). O diretor opta por uma linguagem frenética em vez de dedicar espaço para o que passa pela cabeça da menina. A sensação de vazio fica no ar. A intenção é abusar da sensualidade de Deborah, sem muito tempo para conhecer sua alma.

O filme é independente, contando apenas com dinheiro vindo de leis de incentivo. Houve um certo moralismo por parte das empresas que não quiseram associar suas marcas a um filme que conta a história de uma ex-prostituta. Uma preocupação que não se justifica, o longa não exibe nenhum nu frontal ou outra cena que escandalize as famílias, tudo é muito sutil. E o mais importante, Bruna Surfistinha não glamouriza a profissão mais antiga do mundo. A falta de patrocinadores revela conservadorismo.

12 comentários:

Rubi disse...

Achei bem interessante esse texto.
Cheguei a dar uma olhada no livro, mas definitivamente, não faz meu tipo de leitura.

Achei uma boa jogada eles investirem no filme.
Parece ser interessante, o elenco pelo menos é ÓTIMO.
Parabéns pelo blog, me dei o direito de lhe seguir HAHA

Até mais!

Gabriel Messias disse...

li o livro e ouvi o audiobool narrado por ela mesma... e esse filme me parece ser interessante... quem nao curte um filme que instiga a imaginação alheia? heheheh bom blog e bom texto...

http://eporaivaii.blogspot.com/

Láh/ disse...

Assisti ao filme ontem. Ele é muuito bom!
Só fiquei um pouco chocada com a censura do filme (16 anos). Mesmo que não tenha nenhum nu frontal, eu diria que as cenas de sexo são 95% explícitas.. Acredito que não sejam adequadas para adolescente de 16 anos.
Mas o filme é realmente muito bom! Gostei do fato de eles terem feito um filme sem pudores. Afinal, é um filme sobre uma prostituta. Ele tem cena de sexo forte (para um filme), e não teria como ser diferente! Perderia toda a essência se as cenas sexuais fossem, digamos, escondidas.
O elenco do filme é perfeito. Eu não gosto da Deborah Secco, mas ela fez um trabalho maravilho sendo a Bruna Surfistinha. Ela é corajosa.. Afinal, não é qualquer atriz que faz um papel desses. :)

E concordo com você. Já vi a Raquel dizendo que gostava do que fazia. Realmente, o filme não explorou esse detalhe!

Enfim, saí sem críticas ruins sobre o filme em si!

Espero não ter torrado sua paciência escrevendo um comentário desse tamanho! haha

Beijos. :*

Láh/ disse...

Nossa, acho que houve muita repetição da palavra "filme", mas enfim.. horeahoer xDDD

Michel Carvalho disse...

Oi Larissa,

Gostei de sua análise, o filme realmente é bom, só faltou aprofundar mais a questão emocional da Bruna Surfistinha, parecia tudo no automático. Espero que você apareça por aqui sempre.

Bjos

Lucas Mergel disse...

Parabéns pelo post cara. Muito bom.

Eu ainda não vi o filme, mas acredito que tu transpareceu muito bem sua visão no texto.

Gregory Vancher disse...

Ainda não assisti ao filme, mas já li o livro e escutei o audiobook. Estou ansioso pra assistir pois estão falando muito bem dele. Verei pra poder entender melhor a matéria do blog, que por isnal está ótima, conta sobre, revela detalhes, mas nada quma possível surpresa do filme.

robson disse...

Ainda reclamam o porquê as pessoas so assistem filmes enlatados, mas a analise do seu texto sobre esse ''filme''fica válido.

[b] ROTATIVA

WWW.SEMENTE-TERRA.BLOGSPOT.COM

POEMAS, CONTOS...

Michel Carvalho disse...

Caro Robson,

Bruna Surfistinha tem seus defeitos mas não é pior do que a maioria dos enlatados norte-americanos. Apesar de tudo, recomendo o filme

Abs

Luis Tonello disse...

Eu gostei do fiolme. E ele tem alma. Grande atuação de Déborah Secco. Quinhentos mil espectadores em 3 dias.....

Rômulo disse...

Eu nem me interessei a assistir o filme,achei que seria um daqueles filmes de nudez explicita do inicio ao fim sem mais nada pra contar.Mas agora até quero ver e achei interessante o modo como o diretor decidiu agir em relação ao roteiro .
agora quero ver =)

parabéns pelo blog.

Se gosta de poesia ai vai uma indicação
http://algopoetico.blogspot.com
vlw´s

Érica França disse...

Michel, não estava com vontade de assistir ao filme, mas fiquei instigada. Bjo, bacana seu blog.