quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Será que tudo depende do ponto de vista?

Unanimidade e verdade absoluta são conceitos inexistentes na sociedade contemporânea marcada pela multiplicidade de opiniões. Talvez existam temas mais sagrados em que a adesão das pessoas é quase total e imediata, como a repugnância à pedofilia ou ao combate à miséria. Mas esses assuntos são exceção, na maioria da vezes, tudo tende a se polemizar, justamente pelo ponto de vista de cada um. Vejamos alguns acontecimentos recentes:

1) A suspensão do comercial da Caixa que mostrava o escritor Machado de Assis, negro,  sendo interpretado por um ator branco;

2) O pedido da Secretaria de Políticas para as Mulheres ao CONAR para a retirada da propaganda da Hope, acusada de sexista;

3) A ausência do humorista Rafinha Bastos na bancada do programa CQC na última segunda após fazer uma piada com a gravidez da cantora Wanessa Camargo.

Nos três casos,  houve uma grande discussão a respeito de um tema em comum: liberdade de expressão ou artística. Argumentos contra ou favor se multiplicaram na internet. Particularmente, defendo as três medidas (retirada dos comerciais e veto ao humorista), até porque não acredito em liberdade irresponsável e irrestrita, principalmente em relação à mídia. Mas o  interessante é pensar que os temas são complexos, porque envolvem desde questões culturais, étnico-raciais e de gênero até econômicas.

Vivemos a era da complexidade em que o avanço tecnológico convive com a exclusão social, a liberdade se choca com os direitos humanos e os valores éticos, e a criatividade  se vê ameaçada pelo politicamente correto. Nossa postura diante esses fatos depende das várias mediações  que nos circundam (familiares, educacionais, religiosas e ideológicas), isso quer dizer que "ponto de vista' não tem necessariamente relação com coerência, bom senso ou veracidade. Toda postura é, de certa maneira, contaminada, atravessada por várias outras. 

Diante disso, o consenso não deve ser um objetivo, mas um fator opcional. O que deve prevalecer é a tentativa do debate, mas no campo das ideias e não na busca da eliminação do outro. Tempos complicados, mas melhores, principalmente se pensarmos que já existiu uma ditadura do pensamento único em nosso país.

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