sábado, 2 de janeiro de 2010

A saga de um filho com a cara do Brasil

Antes de assistir Lula, o filho do Brasil, de Fábio Barreto, o público deveria se perguntar: será que o presidente precisa realmente de um filme para potencializar seu poder de influência nas eleições deste ano? Depois dessa reflexão, as pessoas poderão assistir a um drama, semelhante ao de milhões de brasileiros, contado com contornos épicos e muita emoção.


O filme é baseado na biografia Lula: o Filho do Brasil, de Denise Paraná, que também assina o roteiro do longa. A história narra a trajetória de Luis Inácio da Silva, de Caetés (PE), sua cidade natal, até a sua prisão no ABC em 1980, com menção a sua consagração nas urnas em 2002.


Tudo começa com a vinda de Dona Lindu (Glória Pires), mãe de Lula, e os filhos para Santos (SP) num pau-de-arara em 1950. Ela reencontra o marido, Aristides (Milhem Cortaz), um homem alcoólatra e violento, que não quer as crianças estudem. Cansada de tanto sofrimento, a matriarca da família Silva decide ir para Vila Carioca em São Bernardo do Campo em busca de um futuro melhor.


Dona Lindu fica ao lado de Lula nos momentos mais dramáticos de sua vida, desde o acidente no torno mecânico até a perda da primeira esposa e do filho no parto. A matriarca não queria que Lula se envolvesse com sindicato, mas, aos poucos, ele se torna um líder entre os metalúrgicos. Nesta época, ele conhece Marisa Letícia (Juliana Baroni) e os dois acabam se casando.


Trata-se de um filme bem realizado, de bela fotografia, trilha sonora que dita o ritmo e o mais impressionante são as passagens de tempo que acontecem de maneira sutil. Outra boa solução é alternar imagens ficcionais com reais para retratar a greve geral dos metalúrgicos do ABC em março de 1979, aliás, é uma das melhores sequências do longa.


Rui Ricardo Diaz, que interpreta Lula adulto, se esforça para fugir da caricatura, na maioria das vezes, até consegue, porém, quando a língua presa vem à tona soa cômico. Isso não compromete o desempenho do ator, que tem carisma e dá conta da carga dramática do personagem. Mas quem rouba a cena é Glória Pires, que encarna com maestria Dona Lindu, uma mãe batalhadora e conselheira, a grande mulher por trás do mito.


Depois de fracassos como Bela Donna (1998) e A Paixão de Jacobina (2002), Fábio Barreto tenta salvar a carreira com uma cinebiografia de respeito, apesar de omitir alguns fatos importantes. Para mostrar credibilidade e isenção, os produtores do filme não recorreram a leis de incentivo. Mesmo sem dinheiro público, Lula, o filho do Brasil conta com uma lista extensa de patrocinadores privados, entre eles, empresas que costumam fazer doações para o PT.


Quem leu nos últimos meses os comentários sobre Lula, o filho do Brasil, imaginou que o filme não passasse de propaganda de governo. A má vontade dos “críticos” não é com o longa em si, mas com a figura do protagonista. A ascensão de Lula ainda causa aversão em muitos formadores de opinião, isso fica evidente em algumas críticas, que nada têm a haver com aspectos cinematográficos.

5 comentários:

Daniel Silva disse...

o engraçado é que o filme será lançado em um ano de eleição.. porque não fizeram quando ele foi eleito pela primeira vez?

bom.. não vi e não gostei.

abraço

Michel disse...

É, no mínimo, precipitado não gostar de um filme que nem ao menos se assistiu. Mas vivemos numa democracia, cada um pensa como quiser.

robson disse...

Michel, meu caro amigo, ainda não vi o filme, mas certamente o farei. Não por ser a história do presidente, mas por narrar uma trajetória sofrida e de sucesso, que sempre inspiram pessoas como nós, de origem humilde ou de classe média e que anseiam por ascensão profissional, financeira, intelectual.
Creio que o lançamento do filme em um ano eleitoral não sea coincidência. De fato, foi um ganho encontrado pelo diretor, patrocinadores e todos os envolvidos no longa. Para sorte do presidente, também servirá como propaganda eleitoral, claro.
Quando assistir à película, faço comentários mais técnicos.
Forte abraço,
Robson Ferreira

Suzy disse...

Eu nunca gostei do governo do Lula , mas afirmo que esse filme foi fantástico e gostei . Nós julgamos pessoas sem saber o passado delas , e foi isso que eu fazia .
Parabéns pelo blog .
Se quiser fazer uma visitinha : http://codinomefilosofico.blogspot.com/

Michel Carvalho disse...

Realmente, às vezes, julgamos sem conhecer a história de uma pessoa. Goste ou não, Lula é uma figura cinematográfica. O que pode ser questionado é seu governo e suas ações políticas. Espero que muitos deixem de lado seus preconceitos e prestigiem esse filme que sintetiza a alma do povo brasileiro, mesmo com exageros e eufemismos.