quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Um tempo para recordar



São Paulo, 21 de outubro de 1967. Em plena ditadura militar, ocorria a final do III Festival de Música Popular Brasileira promovido pela TV Record. Os artistas que subiriam no palco naquela noite se consagrariam como grandes nomes da MPB. As canções inéditas até aquele momento se tornariam verdadeiros hinos de um período delicado, mas de grande efervescência cultural e política. Uma Noite em 67, dos diretores Renato Terra e Ricardo Calil, resgata essa história num documentário descontraído e emocionante, com direito a revelações surpreendentes.
Chico Buarque e o MPB 4 vieram com “Roda Viva”; Caetano Veloso, com “Alegria, Alegria”, Gilberto Gil e os Mutantes, com “Domingo no Parque”; Edu Lobo, com “Ponteio”; Roberto Carlos, com o samba “Maria, Carnaval e Cinzas”; e Sérgio Ricardo, com “Beto Bom de Bola”.
O cenário musical vivia um momento de ruptura. A jovem guarda representava a alienação e a subserviência ao som norte-americano. Já a MPB, estava ligada à esquerda intelectual, nacionalista, de letras mais engajadas. Ainda nesse período, as primeiras sementes do Tropicalismo foram plantadas por Caetano e Gil. A questão cultural estava tão politizada nos anos 60 que até uma marcha contra a guitarra elétrica foi organizada.
O público também queria ser protagonista naquela noite, por isso vaiava com a mesma volúpia do que aplaudia. Os artistas pareciam que estavam entrando numa arena de leões, a tensão era grande e alguns acabaram perdendo a cabeça. O Festival, como num folhetim, apresentava "mocinhos" e "bandidos". Sérgio Ricardo acabou ficando com o segundo papel. O cantor quebrou o violão, atirando-o à plateia depois de ser duramente vaiado.
O filme traz imagens de arquivo com depoimentos inéditos dos principais personagens daquela noite: Chico, Caetano, Roberto, Gil, Edu Lobo e Sérgio Ricardo. O jornalista Sérgio Cabral (um dos jurados), o produtor Solano Ribeiro e o diretor da TV Record, Paulo Machado de Carvalho, também contam suas memórias sobre os bastidores daquele festival que transformaria a música brasileira. 
Depois de conferir Uma noite em 67, a sensação é nostálgica até para quem não viveu aquele momento tão especial. Um tempo que parecia mais vibrante, tanto no campo ideológico quanto na cultura. Um tempo em que o repórter aparecia fumando ao vivo na TV, em que festivais apresentavam o que existia de melhor na música e os grandes ídolos justificavam a histeria do público. Que inveja dessa época em que os artistas não eram fakes. 
 

Em Cartaz:
Espaço Unibanco Miramar (sala 3): 18h10 
 

4 comentários:

Ygor disse...

ae Michel, atendeu à sugestão de incluir o "serviço" dos filmes!

Quanto ao texto, não acho nem um pouco legal o repórter aparecer fumando na entrevista. Mas eu tenho a mesma impressão que você tem de que aquela geração foi muito mais fértil do q a nossa, culturalmente falando.

Sequelanet disse...

Interessante esse filme. Quanto ao repórter fumando na entrevista, isso é por que na época, não tinha tanta repreensão ao cigarro como agora.
Abs

Anônimo disse...

Oi Michel, amei simplesmente à indicação do filme,esse momento diz muito para mim, muito embora eu tenha vivido esses tempos nossos apenas. O cigarro na entrevista era o charme da época.
Depois de assistir, eu posto mais comentários.
Beijos

Michel Carvalho disse...

Anônima,

Quem é vc? ahauha. Obrigado pela visita.