sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O medo se avizinha





O que pode fazer um homem simples, honesto e trabalhador ao perceber que a paz de sua família está ameaçada? Esse é o grande dilema de Valter (Marat Descartes) em Os Inquilinos, de Sergio Bianchi. O mais panfletário e ácido diretor brasileiro abandona seu didatismo, investindo numa trama cheia de mistério e dramaticidade. A história mostra que é preciso ter nervos de aço para conviver com a ameaça que mora ao lado.

Como muitos brasileiros, Valter trabalha durante o dia e estuda à noite. Sua mulher, Iara (Ana Carbatti) é dona-de-casa e cuida dos dois filhos do casal. A tranquilidade da família é quebrada quando novos vizinhos se mudam. Os três rapazes, que ninguém sabe de onde vieram, não trabalham e vivem fazendo festinhas regadas a música alta, bebidas e mulheres. Seu Dimas (Umberto Magnani), que mora no mesmo lote, é refém da truculência desses inquilinos muito suspeitos.

Os excessos dos novos vizinhos irritam Iara, que observa tudo de sua janela. Ela desconfia que os rapazes são bandidos e estão envolvidos com algo muito grave.  Todo dia, Valter escuta o relato da esposa, isso faz com que ele comece a se sentir pressionado. Como “provedor” e macho, não pode deixar sua família correr risco. Esse sentimento domina a cabeça de Valter, que não é de briga e só quer dormir depois de uma cansativa jornada. Um desfecho trágico será inevitável?

Depois de filmes-tese como Quanto Vale ou é por Quilo? e Cronicamente Inviável, Bianchi agora mostra que pode tocar em questões sociais, apenas contando uma boa história. Os Inquilinos transmite o clima de medo que domina a maioria das cidades brasileiras. Conviver com a violência é um traço da sociedade atual. O longa faz alusão aos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) em 2006, que acabou paralisando São Paulo.

O elenco se destaca pela naturalidade das interpretações, principalmente Marat Descartes, que torna Valter um sujeito muito familiar. O longa ainda conta com as participações especiais de Caio Blat e de Cássia Kiss que, aliás, está brilhante como uma professora de português. Realmente, a maior virtude de Os Inquilos é a simplicidade. Um retrato do cotidiano da periferia, não somente ligado à violência, mas a valores como honra e família. E Bianchi ressalta isso nos detalhes.


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