sábado, 29 de novembro de 2008

A comunicação a serviço da solidariedade

Em questões de segundos, um estado soterrado. Milhares de lares destruidos. Mais de cem mortos. Cerca de 80 mil desabrigados. Muitos desaparecidos. Famílias arruinadas. Uma catástrofe com prejuízos incalculáveis. O dilúvio que arrasou Santa Catarina criou um cenário desolador de caos e sofrimento. As imagens da tragédia chocaram tanto a sociedade brasileira que uma grande rede solidária se formou no país para ajudar as vítimas e reconstruir as cidades atingidas.
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Nesta semana, telejornais e programas foram transmitidos ao vivo dos locais da tragédia. Mesmo com os excessos de praxe, os meios de comunicação souberam canalizar a comoção coletiva, promovendo e incentivando a doação de dinheiro, alimentos, remédios, brinquedos e água para os desabrigados. Sensacionalista ou não, a mídia se comportou como um verdadeiro instrumento de mobilização social, capaz de sensibilizar desde empresários até alunos da pré-escola.
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Essa tragédia mostrou que o país se une em torno do lamento e da solidariedade. Numa época em que a sociedade está cada vez mais individualista, ver tantos voluntários ajudando as famílias do Vale do Itajaí é uma demonstração que o mundo ainda jeito. Nesse aspecto, a mídia tem um papel fundamental, divulgando essa "onda solidária" para os quatro cantos. Se isso dá audiência ou vende jornal é outra conversa.

sábado, 22 de novembro de 2008

Um thriller à brasileira

Vingança, do diretor e roteirista Paulo Pons, mostra como fazer cinema com pouco dinheiro no Brasil. Com um modesto orçamento de R$ 80 mil, o longa é uma boa opção frente aos blockbusters. Câmera nervosa, história intrigante e elenco afinado são elementos que minimizam qualquer problema de produção.

A história começa numa cidade do interior do Rio Grande do Sul onde a jovem Camila (Barbara Borges) é violentada. Ela é uma lembrança viva na cabeça de Miguel (Erom Cordeiro), um enigmático rapaz que chega ao Rio de Janeiro e inicia um relacão inusitada com a espevitada Cris (Branca Messina), irmã de Bruno (Marcio Kieling), que passa férias na capital carioca e guarda um grande segrado.

As atuações dos protagonistas surpreendem. Erom se destaca pelo olhar melancólico e misterioso. Branca por sua naturalidade e doçura. Já Bárbara, convence em suas cenas de intensa dramaticidade. José de Abreu faz uma pequena, mas marcante participação como o pai da menina estrupada. Um legítimo gaúcho, querendo lavar a honra da filha com sangue.

Se Vingança tem uma trama envolvente e bem construída, o desfecho é um pouco frustrante, mas não a ponto de comprometer o filme. Alternando momentos de suspense e de sonolência, o longa está seguramente entre as melhores produções nacionais do ano, justificando a indicação ao Festival de Gramado.

Vingança é fruto do programa Pax/Riofilme para longas de baixo orçamento que prevê a realização de mais três trabalhos. Mas pouco dinheiro significa dificuldades com divulgação. Lançado somente em 12 salas de exibição, o filme de Paulo Pons conta apenas com a propaganda boca-a-boca e a internet para levar o público ao cinema.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

De que consciência estamos falando?

Vinte de Novembro, Dia da Consciência Negra, uma data simbólica para os afro-brasileiros que foram oprimidos durante séculos e ainda hoje sofrem com o preconceito racial e as desigualdades sociais. É o momento de celebrar a memória de Zumbi dos Palmares, líder quilombola morto brutalmente em 1695.
Apesar de todo o significado, observa-se que a cobertura sobre o Dia da Consciência Negra é burocrática, mostrando atos e eventos pontuais. Na realidade, fica a impressão que se trata de mais um feriado daqueles que ninguém sabe por que existe. É preciso dedicar um espaço maior na mídia para a data, resgatando a história e a cultura africana.
Aproveitando o "gancho", os meios de comunicação poderiam promover uma campanha anti-racista no país, repudiando toda e qualquer forma de preconceito. Além disso, é oportuno comentar sobre o fosso social que ainda divide brancos e negros no que se refere ao acesso à educação, saúde, emprego e renda. Essas informações contribuiriam muito para justificar a data como um dia de luta e resistência e, não somente como mais um feriado para ir à praia.
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Leia mais sobre o negro na mídia:

sábado, 15 de novembro de 2008

Uma exibição que não é brincadeira

Recentemente, um vídeo com cenas de uma menina de 15 anos sendo violentada por três jovens numa festa foi colocado na internet. O caso ocorrido em Joaçaba (SC) chocou tanto pelo estupro como pela audácia dos criminosos em divulgar as imagens na web. Este fato é uma amostra assustadora da "sociedade do espetáculo" em que vivemos.
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A necessidade de exibicionismo marca essa geração conectada que não vive sem celular ou câmera digital. Não basta viajar com amigos, é preciso tirar várias fotos e postá-las no Orkut. Não basta ir ao show de música, tem que registrar a curtição e publicá-la no Youtube. Parece que disponibilizar as imagens na internet é mais importante do que viver o momento em si.
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Nessa concepção, um fato para ter valor de verdade é preciso que seja exibido na web ao alcance de todos. No caso da menina de 15 anos, o grande "lance" para os rapazes não era somente o estupro, mas mostrar ao mundo o que foram capazes de fazer. Essa atitude conta com a audiência de milhares de internautas que agem como verdadeiros voyeurs.
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É preciso criar leis rígidas contra a publicação de imagens e vídeos que promovam qualquer forma de violência. Além disso, os sites deveriam ter maior controle no que se refere ao conteúdo divulgado pelas pessoas. A internet não pode ser um espaço conivente com o crime. Apesar dos holofotes, nem tudo que vai ao ar é espetáculo.

sábado, 8 de novembro de 2008

A cor da discórdia

Moreno. Mulato. Preto. Mestiço. Afinal, como pode ser definido o presidente eleito dos EUA, Barack Obama? Filho de um queniano negro de origem muçulmana e uma norte-americana branca, o novo homem forte da Casa Branca causa polêmica quando o assunto é a sua etnia.

Muitos ativistas do movimento afro-americano vêem Obama como sucessor de Martin Luther King, grande ícone da luta contra o racismo, assassinado em 1968. Já a Ku Klux Klan, organização xenofóbica que prega a supremacia branca, considera o presidente democrata só metade negro, uma vez que foi criado num ambiente familiar de brancos.

O sociólogo Demétrio Magnoli comenta que a imprensa errou ao estampar a manchete "Eleito o primeiro presidente negro dos EUA". Segundo ele, o democrata se apresentou como candidato pós-racial. É verdade que mesmo convivendo com o preconceito na infância e na juventude, Obama não compartilha dos mesmos ideais do reverendo Jesse Jackson, líder americano dos direitos civis, defensor de ações reparatórias.

Em nenhum momento da campanha presidencial, Obama se colocou como candidato negro. Até porque esse posicionamento poderia afugentar o voto de 85% do eleitorado norte-americano que é branco. O democrata não defende bandeiras históricas e exclusivas da população negra. Não costuma falar de raça nem de cotas.

As referências de alguns chefes de Estado a Obama também são curiosas. O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, afirmou que ele é "bonito, jovem e bronzeado". Já Hugo Chavez, presidente da Venezuela, disse esperar que "a eleição de um afrodescendente marque o início de novas relações com Washington".

Mesmo criado por brancos, formado em uma instituição como Harvard, é inegável que a cor da pele de Obama é negra. Mais clara, menos escura, não interessa. Este é o seu fenótipo. A manchete dos jornais está correta. No entanto, ele parece acima dessa questão étnica. Apesar de simbólica, sua vitória representa mais um avanço da democracia do que a ascensão de um povo.

Independente de ser negro ou não, o novo presidente dos EUA já entrou para a história como um fenômeno mundial, de Wall Street à Nairóbi passando por Tóquio. Ele hoje encarna a figura do salvador, aquele que pode acabar com o colapso financeiro, retirar as tropas americanas do Iraque e, quem sabe, revogar o embargo à Cuba. Agora é torcer para que essa expectativa não seja frustrada.

sábado, 1 de novembro de 2008

Somos uma nação colonizada?

Para provocar:

* Porque os brasileiros celebram o Halloween, uma festa tipicamente norte-americana? O Dia do Saci, comemorado na mesma data, não mereceria um destaque maior por se tratar de um patrimônio da cultura nacional?
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* Porque o telejornal de maior audiência do Brasil destina quase uma edição inteira para cobertura da eleição presidencial norte-americana? O pleito municipal, que afeta diretamente a vida do cidadão brasileiro, não deveria ter o mesmo tratamento?
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* Porque os brasileiros lotam os cinemas para assistir o filme High School Musical 3, fenômeno pop norte-americano, em detrimento das produções nacionais, como o nosso representante na corrida pelo Oscar, o longa Última Parada 174?
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Algumas respostas são lógicas, outras nem tanto. A globalização, o processo histórico, enfim, muitas são as razões para esse comportamento do povo brasileiro. Mas, às vezes, a impressão é que vivemos numa colônia dos EUA, submissa e condicionada ao modo american life.