sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mídia Cidadã apoia Luiza Erundina



O signatário deste blog conheceu a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) numa palestra na Universidade Federal de São Paulo, em Santos. Neste evento, ela afirmou que tão importante quanto a reforma política, é a reforma nas comunicações. Um pouco antes da palestra, tive a oportunidade de trocar algumas ideias com a deputada, lembro que a parabenizei por sua atuação em favor da Confecom (Conferência Nacional da Comunicação) e ela me falou que estava sendo “massacrada” por causa disso. Imagino que cutucar grandes impérios de mídia  seja realmente uma cruzada de Davi contra Golias. 

A deputada Luiza Erundina é uma guerreira incansável contra o monopólio dos meios de comunicação. Defensora da democratização das comunicações, Erundina é a parlamentar que mais luta para acabar com as distorções que existem em torno da radiodifusão brasileira.
A deputada defende o controle social dos meios de comunicação como instrumento para garantir a própria democracia brasileira. Para ela, é preciso assegurar leis que tornem real o direito à comunicação.

Erundina é considerada uma das parlamentares mais influentes do Congresso, como revela o DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).  Ela é finalista do Prêmio Congresso em Foco 2010 que destaca os melhores congressistas. A deputada ainda tem um grande trabalho nas áreas da infância, dos direitos da mulher e da cultura.  

Por tudo isso, o blog Mídia Cidadã apoia e recomenda a reeleição da deputada federal Luiza Erundina. Sua fala durante o ato contra o golpismo midiático só aumenta a convicção da escolha certa. A luta deve continuar!!!


Em tempo: Luiza Erundina foi a 10ª deputada mais bem votada de São Paulo, tendo recebido 211.848 votos de confiança. O Mídia Cidadã parabeniza a parlamentar e espera que ela continue lutando por todos nós no Congresso.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O medo se avizinha





O que pode fazer um homem simples, honesto e trabalhador ao perceber que a paz de sua família está ameaçada? Esse é o grande dilema de Valter (Marat Descartes) em Os Inquilinos, de Sergio Bianchi. O mais panfletário e ácido diretor brasileiro abandona seu didatismo, investindo numa trama cheia de mistério e dramaticidade. A história mostra que é preciso ter nervos de aço para conviver com a ameaça que mora ao lado.

Como muitos brasileiros, Valter trabalha durante o dia e estuda à noite. Sua mulher, Iara (Ana Carbatti) é dona-de-casa e cuida dos dois filhos do casal. A tranquilidade da família é quebrada quando novos vizinhos se mudam. Os três rapazes, que ninguém sabe de onde vieram, não trabalham e vivem fazendo festinhas regadas a música alta, bebidas e mulheres. Seu Dimas (Umberto Magnani), que mora no mesmo lote, é refém da truculência desses inquilinos muito suspeitos.

Os excessos dos novos vizinhos irritam Iara, que observa tudo de sua janela. Ela desconfia que os rapazes são bandidos e estão envolvidos com algo muito grave.  Todo dia, Valter escuta o relato da esposa, isso faz com que ele comece a se sentir pressionado. Como “provedor” e macho, não pode deixar sua família correr risco. Esse sentimento domina a cabeça de Valter, que não é de briga e só quer dormir depois de uma cansativa jornada. Um desfecho trágico será inevitável?

Depois de filmes-tese como Quanto Vale ou é por Quilo? e Cronicamente Inviável, Bianchi agora mostra que pode tocar em questões sociais, apenas contando uma boa história. Os Inquilinos transmite o clima de medo que domina a maioria das cidades brasileiras. Conviver com a violência é um traço da sociedade atual. O longa faz alusão aos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) em 2006, que acabou paralisando São Paulo.

O elenco se destaca pela naturalidade das interpretações, principalmente Marat Descartes, que torna Valter um sujeito muito familiar. O longa ainda conta com as participações especiais de Caio Blat e de Cássia Kiss que, aliás, está brilhante como uma professora de português. Realmente, a maior virtude de Os Inquilos é a simplicidade. Um retrato do cotidiano da periferia, não somente ligado à violência, mas a valores como honra e família. E Bianchi ressalta isso nos detalhes.


sábado, 11 de setembro de 2010

Números que dizem quase tudo

Já é tradição. O dia é riscado no calendário. A pauta preestabelicidda. A capa do jornal reservada. Os jornalistas não veem a hora de repercutir. A divulgação de estudos do IBGE ou de outras instituições de pesquisa é um bálsamo para as redações, ávidas por um assunto que renda boas matérias. Dependendo da linha editorial do veículo, os números apresentados serão superdimensionados ou relativizados, principalmente em tempos de campanha eleitoral. No centro de tudo isso, o cidadão, que não sabe se o Brasil vem melhorando ou não.

Primeiro, vamos a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada na última quarta (dia 8): 

Segundo a pesquisa, o índice de lares brasileiros que ainda não têm acesso a rede coletora ou fossa séptica chega a 26,4%. Isso significa que cerca de um em cada quatro casas utilizam formas irregulares de esgotamento ou deixam os dejetos a céu aberto.

No mesmo levantamento, 98,2% dos domicílios têm luz, um acréscimo de 0,5% em relação ao ano anterior. Em relação ao abastecimento de água, 83,3% das casas brasileiras possuem esse serviço, o ritmo de 2007 foi o mesmo do ano anterior: 0,1%. A coleta de lixo atinge 87,5% dos domicílios brasileiros, um acréscimo de 0,9% comparado a 2006.

Ainda segundo a Pnad, um em cada cinco brasileiros com 15 anos ou mais é analfabeto funcional. O número corresponde a mais de 29 milhões de pessoas, ou 20,3% da população nesta faixa etária, que é de 143 milhões. No período de 2004 a 2009, o analfabetismo entre os brasileiros com mais de 15 anos caiu de 11,5% para 9,7%.

Já a pesquisa A Nova Classe Média: o lado brilhante dos pobres, da Fundação Getúlio Vargas revela que cerca de 3,1 milhões de pessoas das classes D e E migraram para o segmento C, entre 2008 e 2009. Com isso, 94,9 milhões de pessoas passaram a compor a classe média, totalizando 50,5% da população. A pobreza, representada pela classe E com 28,8 milhões de pessoas, recuou 4,34% em plena crise, isso significa que um milhão de brasileiros cruzou a linha da miséria. 

Até julho deste ano, o mercado formal de trabalho criou 181.796 vagas, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego. Com isso, o saldo acumulado em 2010 chega a 1.655.116 empregos com carteira assinada, representando uma expansão de 5,02%, no melhor resultado para o período, desde que foi criado o índice.

Diante de tantos números, o leitor fica perdido, não tendo a noção exata do que eles representam em termos de avanço ou retrocesso. A expansão de serviços básicos, como rede de esgoto e abastecimento de água, tem sido lenta no Brasil? Lógico que sim, principalmente para um país que pretende ser a quinta economia mundial. Mas se pensarmos que o país possui dimensões continentais, com abismos entre os estados da federação, podemos ter uma ideia das dificuldades para conseguir a cobertura total desses serviços. 

Quando o assunto é economia, a imprensa costuma comparar o crescimento do PIB brasileiro ao da China ou da Índia, mas isso é factível? Apesar de nações emergentes, há grandes diferenças em relação ao regime de trabalho e ao tipo de mercado que caracteriza cada país. Aspectos históricos e culturais também são ignorados nessa análise comparativa.  Seria mais razoável ter como referência os números de nossos vizinhos, como a Argentina.

Parece que os dados são manipulados conforme o enfoque que o jornal pretende dá a matéria. As análises seguem uma linha ora alarmista ora otimista, faltando equilíbrio para uma interpretação mais precisa e dentro da realidade. Aquela máxima de que os números não mentem jamais não se aplica necessariamente ao trabalho da imprensa. A apresentação de pesquisas sem a devida contextualização não favorece o debate, pior, torna o assunto restrito a tecnocratas, especialistas em decodificar números.

A discussão em torno dos resultados apresentados pela Pnad é importante para que a opinião pública cobre ações efetivas do Estado, com metas e prazos bem definidos. Não há mais como conviver com esse índice tão elevado de lares sem esgoto ou de brasileiros em situação de miséria, mesmo que esse quadro venha mudando nos últimos anos. 

O jornalista precisa enxergar além dos números frios, afinal, por trás de gráficos e tabelas sobre o analfabetismo, existem milhares de pessoas que não sabem ler nem o próprio nome.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Você já pensou em ser educomunicador?


Publicado originalmente no site MídiativaSantos

A centralidade da comunicação na vida das pessoas vem transformando vários setores da sociedade, particularmente a educação. Educar já não é mais exclusividade de pais e professores. Com as novas tecnologias, a informação circula rapidamente e o conhecimento é construído de forma horizontal. Ser mediador nessa nova conjuntura é uma das funções do educomunicador, uma carreira que está começando a ser descoberta no Brasil e no mundo. Para se ter uma ideia, a Universidade de São Paulo (USP), a partir de 2011, passa a oferecer 30 vagas para o curso de Licenciatura em Educomunicação.

Nos dias 23 e 24 de agosto, o Núcleo de Comunicação e Educação da USP promoveu o II Encontro Brasileiro de Educomunicação, com o tema Diálogo entre sociedade civil e universidade. No evento, pesquisadores, representantes do Poder Público e membros do terceiro setor trocaram experiências sobre diversas ações educomunciativas que estão sendo realizadas com êxito em todo o país. Além disso, os convidados discutiram sobre as várias possibilidades desse novo profissional no mercado de trabalho, que vai desde a gestão de projetos na área de mídia-educação até a consultoria na formação de educadores, passando pela atuação nas emissoras de TV e rádio.

A própria LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) sugere que o ensino regular se abra a novos campos do conhecimento, como a comunicação, trabalhando-os de forma transversal em sala de aula. Organizações internacionais como a UNESCO também incentivam projetos na área da educomunicação, conhecida nos EUA como media-literacy. O consultor da entidade, Guilherme Canela, considera muito importante esse novo campo por explorar as habilidades de saber acessar as mensagens, avaliar a qualidade da informação e produzir conteúdos usando as diferentes linguagens e plataformas.

Em muitos lugares do Brasil, a educomunicação já está sendo tratada como política pública. Na capital paulista, ela foi institucionalizada por meio de um projeto de lei que ampliou o programa Educom, criado em 2001. A medida pretende envolver as secretarias municipais, as unidades escolares, os profissionais do jornalismo e toda a comunidade. No norte paranaense, a cidade de Bandeirantes é referência ao adotar projetos de mídia-educação no cotidiano escolar e nas comunidades carentes. Lá, os alunos, entre outras atividades, aprendem técnicas de fotografia e de produção de vídeo.

Mas a educomunicação não se limita somente à educação formal nas salas de aula. Instituições do terceiro setor também estão se articulando em torno de projetos de comunicação educativa. A ONG Cala-Boca-Já-Morreu é pioneira em desenvolver oficinas de rádio, vídeo e jornal impresso para crianças e adolescentes. A Viração é outro exemplo na capacitação de jovens educomunicadores. A entidade atua em comunidades pobres e em parceria com escolas, estimulando o protagonismo infanto-juvenil e a formação de sujeitos autônomos. Essas iniciativas demonstram que a educomunicação também contribui para o exercício pleno da cidadania ao garantir o direito à liberdade de expressão.

Como cada vez mais a mídia faz parte do universo do ser humano, a educomunicação atende a uma demanda da contemporaneidade, suprindo a lacuna entre o saber formal e o midiático. Apesar de parecer algo muito complexo, o perfil do educomunicador é simplesmente o de um profissional crítico, aberto ao diálogo, capaz de criar ecossistemas comunicativos e que tenha grande sensibilidade social. Quantas pessoas possuem essas qualidades e não sabem que carreira seguir? O vestibular 2011 da FUVEST pode ser uma grande oportunidade. Para saber mais sobre o curso, acesse: http://www.cca.eca.usp.br/educom

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A 'quebrada' sem retoques




Sensível ao mesmo tempo bruto; descontraído, mesmo sendo dramático, 5X Favela - Agora por Nós Mesmos apresenta cinco episódios que retratam o cotidiano das 'quebradas' sob o ponto de vista de quem está no interior delas. Cada história tem cerca de 20 minutos e, apesar de não se relacionarem, formam juntos aquilo que se pode chamar de alma da comunidade. Mais do que um filme, trata-se de uma projeto ousado, que mistura cultura e cidadania, reeditando, em parte, o movimento que revolucionou o cinema nacional nos anos 60.

No primeiro episódio, Fonte de Renda, Maicon (Silvio Guindane) é um estudante de Direito, morador de uma comunidade humilde, que encontra muitas dificuldades para bancar seus estudos. A fim de conseguir grana, o jovem começa a vender droga para colegas da faculdade. Em Arroz com Feijão, Wesley (Juan Paiva), de 12 anos, quer comprar um frango para seu pai (Flávio Bauraqui). Com a ajuda de Orelha (Pablo Vinicius), o menino tenta arranjar o dinheiro suficiente, mas acaba se envolvendo em várias confusões.

Em Concerto para Violino, os destinos de três amigos de infância, Márcia(Cintia Rosa), Jota(Thiago Martins) e Ademir(Samuel de Assis), se cruzam de uma forma definitiva, numa história de violência, sonhos e amizade. Deixa Voar mostra a aventura de Flavio (Vitor Carvalho), um adolescente que precisa buscar uma pipa que caiu na favela dominada por uma facção rival à que ele mora. Atravessar essa fronteira pode ser muito arriscado, mas também revelador.

O último episódio, Acende a Luz, talvez seja aquele que melhor represente o espírito dessas comunidades. É véspera de Natal e o morro está sem energia elétrica. O funcionário da companhia de luz (Márcio Vito Lopes) tenta sem sucesso resolver o problema, causando muita reclamação nos moradores. Mas o que poderia resultar em um grande tumulto, acaba em festa, com direito a comida, bebida e samba, comprovando a tese de que para ser feliz não é preciso de muito, aliás, esse é um sentimento comum nas favelas brasileiras.

Em 1961, cinco jovens cineastas de classe média realizaram 5X Favela que se tornou um marco do Cinema Novo. Agora, o longa ganha a extensão Agora por Nós Mesmos, reunindo moças e rapazes, moradores de comunidades pobres do Rio de Janeiro, que participaram de oficinas de roteiro e direção e foram responsáveis por revitalizar um universo tão explorado pelos filmes nacionais. Produzido por Cacá Diegues, um dos diretores da primeira versão, 5X Favela - Agora por Nós Mesmos é um retrato fiel e sem estereótipos de uma gente que tem muito o quê mostrar.