sexta-feira, 23 de abril de 2010

Diversão garantida para todas as idades

Num primeiro momento, As melhores coisas do mundo de Laís Bodanzky poderia ser visto apenas como um filme teen, que retrata o cotidiano de adolescentes da classe média. Mas a história é, acima de tudo, sobre o ser humano e suas inquietudes. Amor, sexo, preconceito e família são temas delicados em qualquer idade, a diferença é quando se tem quinze anos tudo parece mais intenso, dramático e cheio de espinhas.


As melhores coisas do mundo narra as desventuras de Mano (Francisco Miguez), um jovem que estuda numa típica escola particular de São Paulo. Seu mundo começa a cair quando seus pais se separam e o motivo do rompimento vem à tona. Para complicar, ele ainda tem que conviver uma paixão não correspondida por uma colega de classe e o fato de ser virgem. Ao longo da história, o colégio se transforma num inferno para quem é o “zuado” da vez. Mano conseguirá suportar tamanha pressão?


Mano divide todas suas “neuras” com Carol (Gabriela Rocha), que assim como todos os adolescentes anda confusa sobre seus sentimentos, principalmente em relação a Artur (Caio Blat), professor de física. Os dois trocam várias confidências e impressões sobre a vida adulta. Outro refúgio do garoto são aulas de violão com Marcelo (Paulo Vilhena), que funcionam como uma espécie de terapia.


A exemplo de Os Famosos e os duendes da morte (Esimir Filho), o longa de Laís também aborda a questão do mundo virtual. Tudo o que “bomba” na escola de Mano acaba sendo postado num blog que por sinal causa muitas confusões. Pedro (Fiuk), irmão mais velho de Mano, também tem um site em que publica seus pensamentos e angústias. Por falar nisso, esse cara guarda outras semelhanças com o protagonista do filme do Esmir.


O elenco transmite muita naturalidade e sentimento, particularmente os atores adolescentes. A exceção fica com o filho de Fabio Jr. e ídolo da Malhação que tem uma atuação discreta, quase destoante. Agora, uma cena que merece destaque é aquela em que Mano e sua mãe (Denise Fraga) jogam ovos na parede da cozinha, é difícil segurar as lágrimas com tamanha sensibilidade.


Depois de filmar O Bicho de Sete Cabeças e Chega de Saudade, Lais se consolida como um dos principais nomes do cinema brasileiro com As melhores coisas do mundo. Nele, ela tem o mérito de divertir e emocionar na medida certa. Seja adolescente ou da terceira idade, é bom ver que nada é tão complicado assim, nem tampouco definitivo quanto se imagina.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Os dilemas de uma geração ou de toda a humanidade?

Complexo e surpreendente, Os Famosos e Os Duendes da Morte, de Esmir Filho, foge do convencionalismo e escreve uma nova página no cinema brasileiro. O diretor dialoga com outras linguagens e discute questões próprias da pós-modernidade, como realidade virtual, identidade e melancolia. O longa retrata a vida de um adolescente entediado com seu cotidiano que mergulha num mundo povoado por lembranças de outra dimensão.

A história se passa numa cidade do interior gaúcho, de colonização alemã, em que o tempo parece que parou. O ambiente bucólico cria uma atmosfera de mistério. A vida pacata é abalada por uma série de suicídios que ocorre na ponte do lugarejo. A morte de uma garota (Tuane Eggers) mexe especialmente com um rapaz (Henrique Larré), conhecido como Mr. Tambourine Man na internet. Ele dedica a maior parte do seu tempo a cultuar as fotos e os vídeos da jovem por quem nutre uma verdadeira fixação.

Fã de Bob Dylan, o garoto não curte a cidade onde mora, ao contrário, acha os moradores um bando de colonos. A vida virtual é a única que lhe motiva. É na tela do computador que ele demonstra o que sente de fato. Como muitos adolescentes, mantém uma relação fria e conflituosa com a mãe (Áurea Baptista). O mundo ao seu redor é de um vazio angustiante, quebrado apenas pelas conversas com Diego (Samuel Reginatto), seu melhor amigo e irmão de sua musa.

O longa de Esmir Filho aposta numa narrativa arrastada, que valoriza cada passo, cada silêncio. As cenas dos vídeos são um pouco cansativas, mas belas. Trata-se de um filme diferente, nada linear, que apresenta um desfecho em aberto. Muitos podem considerar Os Famosos e Os Duendes da Morte depressivo demais, outros confuso, mas ninguém consegue ficar indiferente, é do tipo ame ou odeie. Outro destaque é a trilha sonora, que ajuda a criar toda mística do longa.

Os Famosos e Os Duendes da Morte é baseado no livro homônimo de Ismael Caneppele (que atua no filme como uma figura enigmática). Apesar do título não empolgar, o longa levou o prêmio de melhor filme de ficção no Festival do Rio do ano passado. Esmir Filho se credencia como um dos grandes nomes dessa nova safra de cineastas, que inclui Matheus Souza, do hilário Apenas o Fim. Parece que o cinema brasileiro está rejuvenescendo, isso é uma boa notícia para quem não aguenta mais ver sertão, favela e violência na telona.

Vejam o trailer

sábado, 10 de abril de 2010

As tragédias não precisam de espetáculo

Na última quarta(7), um deslizamento que atingiu o Morro do Bumba em Niterói (RJ) deixou pelo menos 200 soterrados, causando grande comoção no país. Resultado da fúria da natureza e da omissão do Poder Público, a tragédia vem sendo acompanhada de forma obsessiva por toda a imprensa, que em nome da informação, tenta canalizar o sentimento coletivo.

Para se ter uma idéia, os dois principais telejornais do país (Jornal Nacional e Jornal da Record) decidiram transmitir ao vivo do local do deslizamento. Fátima Bernardes e Ana Paula Padrão entrevistaram moradores do Morro e autoridades, com direito a lágrimas e muitas explicações. Se a intenção era aproximar a tragédia do público, o artifício funcionou, afinal, quem não se sensibilizou com a dor daquelas pessoas?

Mas é claro que a opção de levar as duas apresentadoras ao local da tragédia atende a uma questão nada jornalística, que mais tem a ver com a espetacularização do sofrimento humano. Perguntar a um desabrigado o que ele perdeu ou o que está sentindo no momento é tão apelativo quanto óbvio. As imagens falam por si, não é preciso dramatizar algo que já é muito doloroso.

Além disso, ficar simplesmente apontando os culpados, promovendo um linchamento público não passa de sensacionalismo. A cobertura de tragédias deveria ser pautada pela investigação das causas, principalmente no sentido de evitar novas catástrofes e mostrando como a população pode ajudar as vítimas. Para fazer um trabalho jornalisticamente responsável e propositivo não é preciso que a apresentadora saia da bancada.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Patrulha no twitter

O twitter está se tornando um espaço perigoso e chato. Nos últimos dias, o diretor comercial da empresa patrocinadora do São Paulo foi demitido por um comentário no microblog. O filho do presidente Lula também se envolveu numa polêmica por ironizar os sãopaulinos e acabou tendo que pedir desculpas. Parece que há uma patrulha virtual alerta a todos os tweets alheios. O aplicativo de 140 caracteres é hoje uma arena em os usuários são julgados por suas postagens. Nem a "zueira" tão comum entre torcedores do futebol é perdoada. Tudo pode ser encarado como preconceito, incitação à violência ou apologia às drogas. Com todo esse monitoramento, a naturalidade e a espontaneidade darão lugar ao politicamente correto, principalmente por parte dos famosos. Dessa maneira, o twitter perde um dos seus maiores atrativos: a irresponsabilidade. Isso não significa sair por aí ofendendo todo mundo, mas ficar pensando muito antes de "twittar" não tem graça. Estou errado?