sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O plim-plim e a cegonha

Publicado no Portal IG – 30 jan.2009

Novelas da Globo influenciam divórcios e natalidade no Brasil, diz estudo

SÃO PAULO - As novelas produzidas pela Rede Globo a partir do início da década de 1970 tiveram um papel decisivo na queda das taxas de natalidade e no aumento de divórcios no Brasil acontecidos nas últimas décadas. Esta é a conclusão de dois estudos realizados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O primeiro estudo, Novelas e Fertilidade: Evidências do Brasil, concluiu que as taxas de natalidade caíram mais nas áreas alcançadas pelo sinal da Globo. Nas regiões cobertas, a queda foi 0,6 ponto percentual maior do que nas áreas sem cobertura.

Segundo o texto, o impacto foi ainda maior entre mulheres de famílias mais pobres e no meio ou final da idade reprodutiva. "A exposição constante às famílias menores que aparecem na televisão pode ter criado uma preferência por ter menos filhos", explica o economista Anthony Chong, um dos autores do estudo.

A influência das novelas no número divórcios, tema do texto Televisão e Divórcio: Evidências de Novelas Brasileiras, é menor, mas ainda assim significativa. Nas áreas cobertas pela Globo, a quantidade de mulheres divorciadas entre 15 e 49 anos é entre 0,1 e 0,2 ponto percentual maior do que nas regiões sem cobertura.

Entre 1970 e 1999, período analisado pelos dois textos, a taxa de fertilidade no Brasil caiu mais de 60%, e os divórcios aumentaram mais de cinco vezes desde a década de 1980. Neste mesmo período, a quantidade de aparelhos de televisão no país aumentou dez vezes.

A explicação de Anthony Chong para o fenômeno é simples: em geral, as famílias mais felizes nas novelas são pequenas e ricas, e a infidelidade feminina também é comum. Mais uma vez, números: das protagonistas femininas das novelas, 62% não tinham filhos e 26% eram infiéis a seus parceiros.

Outra contatação comprovada cientificamente pelos estudos é que as novelas realmente influenciam a escolha dos nomes das crianças. A probabilidade de que os 20 nomes mais populares em uma determinada área incluíssem um ou mais nomes de personagens de uma novela exibida naquele ano foi de 33% se a região recebesse o sinal da Globo. Em regiões sem acesso à Globo, a probabilidade foi de apenas 8,5%.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Os eufemismos da mídia

A última edição da revista Língua Portuguesa (Editora Segmento) comenta sobre o uso cada vez mais recorrente do eufemismo - figura de linguagem que suaviza um raciocínio cruel, um sentimento desagradável ou um tabu. A mídia é o principal instrumento de difusão dos eufemismos na sociedade, principalmente quando reproduz a retórica de políticos, intelectuais e outras personalidades.

Quando um jornal utiliza o termo "ocupação" para se referir à invasão norte-americana ao Iraque, na verdade, se quer atenuar a realidade nua e crua da guerra. Um exemplo mais recente é como foi tratada a estatização de uma grande instituição financeira nos EUA. A imprensa preferiu falar que o governo Bush socorreu, salvou ou mesmo resgatou a empresa em crise. Veja mais alguns exemplos:

Mensalão Mineiro: Mensalão do PSDB;
Colaboradores: Empregados;
Defensivos agrícolas: Agrotóxicos;
Empurrão facial: Tapa na cara;
Baixas: Mortes;
Dano colateral: Vítimas civis;
Descontinuar o negócio: Ir à falência;
Ofensiva de Israel: Massacre de Israel;
Conflito: Guerra.

Dependendo de quem fala, os eufemismos são usados para enganar, dissimular e desviar a atenção do interlocutor. Assim, é preciso que o espectador/leitor tenha discernimento diante de discursos pensados estrategicamente para manipular a opinião pública.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Receitas que vendem revistas

Promessas de corpo sarado e dietas milagrosas alavancam as vendas de revistas semanais e segmentadas no Brasil. O mercado editorial percebeu esse comportamento do leitor e começou a investir, cada vez mais, em matérias relacionadas à saúde, bem-estar e beleza.

No entanto, saúde é um tema que requer rigor e fontes especializadas. Divulgar pesquisas sem resultados comprovados é cometer estelionato com o leitor. Antes da publicação de matérias desse tipo, deve-se atentar para as seguintes questões: As informações são precisas? Quais instituições atestam a validade desses estudos? Os procedimentos possuem contra-indicações?

Essas publicações apostam em títulos persuasivos para atrair o público, utilizando geralmente adjetivos ("ideal" como na Isto É) ou imperativos ("derreta" como na Mens Health). Além desse artifício, as capas dessas revistas são estampadas por modelos e celebridades que simbolizam padrões de boa forma na sociedade contemporânea.

A medicina explica que não existe fórmula mágica para alcançar o corpo perfeito. Por isso, os leitores devem desconfiar de publicações que divulgam dietas e exercícios infalíveis. A orientação médica ainda é o melhor remédio para quem deseja uma vida saudável de verdade.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Barbárie e Censura

Israel veta jornalistas e propaga sua versão sobre ação em Gaza

Publicado em 03 de jan. na Folha de S. Paulo

Enquanto Israel ignora a decisão de sua Suprema Corte, determinando o acesso de jornalistas à faixa de Gaza, os serviços de informação do país continuam sua estratégia de exploração de todos os tipos de mídia para apresentar argumentos favoráveis à ofensiva.

Apesar de ter aberto nesta sexta-feira (2) a passagem de Erez para a saída de donos de passaportes estrangeiros, os israelenses não autorizaram a entrada da imprensa. Na quarta-feira (31), ordem judicial determinou o ingresso de jornalistas à área atacada quando a fronteira com Israel, no norte da faixa de Gaza, abrisse por razões humanitárias.

"A passagem hoje [sexta-feira] estava sobrecarregada com a retirada emergencial das pessoas", justificou o porta-voz do Exército Peter Lerner. Ele acrescentou que o acesso pode ser permitido amanhã. Em contraste com a situação dos jornalistas barrados, as forças israelenses divulgaram imagens de caminhões carregados de mantimentos ingressando o território pelo sul da faixa de Gaza (por Kerem Shalom). É um dos mais de 20 vídeos publicados no canal que as Forças de Defesa abriram no Youtube na última segunda-feira.

"A blogosfera e as novas mídias são basicamente uma zona de guerra", disse a major Avital Leibovich, porta-voz do Exército, sobre o canal no Youtube (que chegou a tirar do ar imagens de bombardeios, posteriormente liberadas).

"Muitas vitórias nos conflitos modernos são mediadas pela mídia. Temos a internet e todas as formas de comunicação modernas, e os militares decidiram divulgar suas mensagens com tais ferramentas", disse Gideon Doron, ex-presidente da agência regulatória que monitorou a privatização dos serviços de rádio e TV em Israel.

A estratégia tem inclusive um órgão gerencial, o Diretório Nacional de Informações, criado há oito meses por recomendação de um escrutínio da guerra contra o Hizbollah, travada no Líbano em 2006.

"O aparato de hasbara [termo em hebraico que significa "explicação" e é usado também como sinônimo de propaganda] precisava de um órgão para coordenar suas agências e virou uma plataforma de cooperação de todas entidades que lidam com relações públicas", disse o chefe do diretório, Iarden Vatikai, ao jornal "Guardian".

Via diplomática - A investida passa também por canais diplomáticos. Nesta semana, a Embaixada de Israel em Brasília encaminhou fotos de alvos israelense visados pelos foguetes do Hamas e um vídeo no Youtube justificando os ataques a Gaza, entre outros e-mails diários.

O consulado israelense em Nova York conduziu uma "entrevista coletiva" por meio do Twitter, sistema de microblogs que permite a publicação de textos de até 140 caracteres. O esforço não é voltado só ao Ocidente. O jornal "Haaretz" registrou que a ação israelense visa também "conquistar" canais de TV árabes via satélite", ao noticiar o esforço do Exército e da chancelaria em destacar quadros fluentes em árabe para falar à Al Jazeera e a outras emissoras do mundo árabe.

Mas a investida midiática pode gerar efeito contrário, conforme o "Haaretz" mostrou nesta sexta-feira (2) a partir de um vídeo de um bombardeio. Autoridades alegaram que o caminhão atingido levava foguetes do Hamas, mas ONGs humanitárias disseram que eram tanques de oxigênio usados numa fundição.
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Porque a ONU é tão omissa no restabelecimento da paz na região da faixa de Gaza? Será que se Israel não fosse aliado dos EUA já não teria sofrido sanções internacionais?