quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Melhores estrangeiros de 2010


Nada contra os hollywoodianos, mas eis a minha lista dos melhores longas "gringos" do ano:


1. O Profeta: Premiado no Festival de Cannes, este filme francês retrata de maneira vigorosa a ascensão do jovem Malik dentro do presídio, de um garoto assustado para um grande mafioso. Cenas fortes e um ótimo trabalho de direção e elenco. 
2. Mother: Este filme coreano me surpreendeu totalmente. A saga da mãe que pretende prova a inocência do filho de qualquer jeito prende o espectador. Um suspense cheio de reviravoltas.
3. O Segredo dos Seus Olhos: O vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro mostra que os argentinos estão no caminho certo. Apesar de longo, você não vê as horas passarem. Uma história policial como há muito tempo não via.
4. A Rede Social: O diretor David Fincher é conhecido por surpreender. E ele novamente consegue com uma história atual, diálogos inteligentes e um ritmo empolgante.
5. Guerra ao Terror: Venceu seis Oscars este ano, incluindo melhor direção e filme. Realmente, é de tirar o fôlego. Apesar do tema recorrente no cinema, trouxe um olhar novo sobre os bastidores da guerra.
6. Preciosa: Talvez o filme com as melhores atuações. Mo'nique venceu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante dando vida a uma mãe odiosa. A história de Preciosa emociona e choca ao mesmo tempo.
7. Ajami: Este filme israelense mostra os conflitos de uma região em que muçulmanos, judeus e cristãos precisam conviver juntos. Dividido em capítulos, trata-se de um thriller com  final surpreendente
8. Tudo pode dar certo: O bom e velho Woody Allen de sempre. Mas neste filme um pouco mais sarcástico. O protagonista seria um alterego do diretor. Para mim, a melhor comédia do ano.
9. O pequeno Nicolau: Essa comédia infantil francesa me impressionou por contar com uma mulecada afinada e divertida. Uma história ingênua, mas não tola, como são alguns filmes voltados para as crianças. Recomendado para toda família.
10. Minhas Mães e Meu Pai: As atrizes Annette Bening e Juliane Moore estão ótimas como um casal de lésbicas que tem dois filhos, frutos de inseminação artificial. Uma trama moderna que rende boas risadas.

Obs.: Sei que deixei de assistir alguns filmes que poderiam estar na lista, como A Origem, ou ter sido menos "lado B" na seleção, mas a vida é feita de escolhas, não é?


 Feliz 2011!!! Saúde, paz e sucesso para todos!!!

sábado, 25 de dezembro de 2010

Os melhores nacionais de 2010


O cinema nacional viveu em 2010 um dos seus melhores anos, tanto em termos de público quanto em número de títulos lançados. Tropa de Elite 2, de José Padilha, bateu o recorde de Dona Flor e seus Dois Maridos e passou dos 11 milhões de espectadores, consagrando-se como o filme nacional mais assistido da história. O ano também foi marcado por filmes de temática espírita, Chico Xavier (Daniel Filho) e Nosso Lar (Wagner de Assis) levaram juntos mais de 7 milhões aos cinemas.


O título mais polêmico lançado em 2010 foi Lula – O Filho do Brasil (Fábio Barreto), que sofreu um bombardeio tanto da crítica especializada quanto de políticos da oposição. No final, a história do presidente mais popular da história brasileira não atingiu nem a marca de 1 milhão de espectadores, mas, contrariando as expectativas, conseguiu a vaga na disputa pela indicação para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Mas, particularmente, o que me impressionou em 2010 foi a lista de ótimos títulos lançados, ao contrário de 2009, em que predominou filmes de qualidade mediana. O ano marca a estreia de grandes promessas, como o ousado Esmir Filho, e coloca outros nomes no rol dos grandes diretores do cinema nacional, como Laís Bodanzky.

A relação dos melhores filmes nacionais de 2010 que elaborei não deve agradar a todos, até acredito que a maioria desaprove. Porém, listas desse tipo servem para serem contrariadas, então, vamos lá:

  1. As melhores coisas do mundo: Uma boa história com um elenco afinado só poderia render um ótimo filme. Mas Laís soube ir além ao mostrar de forma sensível os conflitos da adolescência. Bem realizado, é um longa que agrada toda a família. A cena dos ovos na parede arranca lágrimas. 
  2. Os Famosos e os Duendes da Morte: Inovador, o filme de Esmir Filho é contemporâneo por utilizar imagens de vídeos da internet na telona. A história é  surpreendente e cheia de mistério. O filme transmite uma sensação de angústia. Saí da sessão completamente atordoado. 
  3. Viajo porque preciso volto porque te amo: Os diretores conseguiram contar uma história de amor sem mostrar seus protagonistas. Imagens de um Brasil bruto são o pano de fundo desse belo longa.
  4. Olhos Azuis: Belas atuações fazem desse filme um dos melhores do ano. O diretor conseguiu transmitir toda a humilhação que os latinos passam no setor de deportação nos EUA.
  5. Reflexões de um liquidificador: Estilo tarantino, esse longa é uma comédia de humor cáustico.  Merecia uma maior divulgação. Destaque para a atuação da atriz Ana Lúcia Torre, além da narração de Selton Mello que vive o liquidificador.
  6. Antes que o mundo acabe: Poderia ser mais uma história sobre adolescentes, mas o diferencial é a simplicidade como o tema é tratado e o belo roteiro. É o filme mais premiado pela crítica no ano.
  7. Os Inquilinos: O diretor Sergio Bianchi continua com sua crítica social, mas dessa vez, não com um filme-tese. Trata-se de uma história cheia de suspense e um retrato fiel do sentimento dos moradores das grandes cidades.
  8. Uma noite em 67: Melhor documentário do ano. Narra os bastidores daquele festival que mudaria a história da MPB. Filme para assistir e cantar junto.
  9. Tropa de Elite 2: Tecnicamente, é o melhor filme. Fotografia, elenco, edição, enfim, tudo perfeito. O que me incomodou foi o maniqueísmo do roteiro. Nada é sugerido ao espectador, Padilha aposta num filme didático e fatalista demais.
  10. 5X Favela agora por nós mesmos: São cinco histórias diferentes sobre o cotidiano das favelas, em que o maior diferencial é o olhar dos diretores, todos moradores das comunidades retratadas. É a favela sem clichês nem exageros.

Obs.: Bróder, de Jeferson De, poderia entrar na lista, pois é um belo filme, mas como só será lançado ano que vem, decidi excluí-lo da relação. 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O encanto da simplicidade


Um dos filmes nacionais mais premiados do ano, Antes que o mundo acabe, de Ana Luiza Azevedo, é uma combinação perfeita entre roteiro, direção e elenco. A história narra os conflitos de Daniel, um menino de 15 anos que se depara com situações que mudarão sua pacata vida numa pequena cidade gaúcha. Apesar de a adolescência ser um tema recorrente no cinema, o longa se diferencia por sua simplicidade. Simples, não no sentido de menos interessante, mas de comum, como é a realidade da vida da maioria das pessoas. 
 
Daniel (Pedro Tergolina) e Lucas (Eduardo Cardoso) são grandes amigos, mas a disputa pelo coração de Mim (Bianca Menti) causa grandes estragos a essa relação. Na verdade, como é normal nessa fase, eles não sabem exatamente o que sentem e querem de verdade. Em meio a tudo isso, Daniel começa a receber cartas e fotos de um pai que nunca conheceu. No começo, o garoto ignora, mas, aos poucos, ele vai descobrindo um mundo novo através dessas correspondências. Imagens de pessoas e lugares que parecem ter data para desaparecer do mapa. 
 
A história é narrada por Maria Clara (Caroline Guedes), irmã caçula de Daniel, que analisa tudo o que acontece a sua volta. Suas observações ingênuas, mas críticas, rendem bons momentos ao filme. Antes que o mundo acabe dialoga com toda família por tratar de questões que se você não passou como adolescente poderá passar como pai de um. As primeiras decisões, o ciúme, as amizades, a descoberta do inimaginável, todas essas experiências são retratadas de maneira natural, sem grandes rupturas.

Antes que o mundo acabe guarda algumas semelhanças com Os famosos e os duendes da morte, de Esmir Filho, e As melhores coisas do mundo, de Lais Bodanzk. Ambos retratam o universo jovem e procuram fugir dos velhos clichês. Mas diferente dos outros dois, o filme de Ana Luiza não tem vocação para ser alternativo nem popular. Talvez por isso o resultado soe mais verdadeiro ou menos impressionante, dependendo de quem julgue. Os três longas confirmam que 2010 foi realmente o ano da geração teen no cinema brasileiro.

Sem dúvida, Antes que o mundo acabe é um sucesso de crítica. A saga de Daniel recebeu seis prêmios no II Festival de Paulínia, além de conquistar o de melhor longa juvenil no 15º Festival Internacional de Cinema para Crianças e Jovens na Alemanha. E nesta semana foi aclamado pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Artes), como melhor filme do ano. Esse reconhecimento mostra que boas histórias não precisam de grandes malabarismos, basta contá-las com sutileza e um toque de simplicidade.

sábado, 11 de dezembro de 2010

O caso WikiLeaks: ONU condena perseguição

Bertil Ericson/14.08.2010/Reuters

Publicado em 10 dez. 2010 no Portal Imprensa

ONU classifica pressões contra WikiLeaks de "censura"

Depois do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticar a prisão do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, a Organização das Nações Unidas (ONU) saiu em defesa do site. Na última quinta-feira (09), a alta comissária para direitos humanos da entidade, Navi Pillay, classificou as pressões contra a organização de Assange como tentativa de censura e podem ser interpretadas como uma violação ao direito à liberdade de expressão.

Assange foi preso na última terça-feira (07), em Londres (Inglaterra), após se entregar às autoridades britânicas. O fundador do WikiLeaks foi acusado na Suécia de cometer crimes sexuais, e teve sua ordem de captura emitida pela Justiça sueca e pela Interpol. Além disso, o banco suíço PostFinance fechou a conta aberta pela organização para recebimento de doações, e as empresas de cartão de crédito Mastercard, Visa e Paypal anunciaram que bloqueariam os pagamentos.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a comissária se disse preocupada com as tentativas de intimidação feitas ao site de Assange. "Se o WikiLeaks cometeu algum ato reconhecidamente ilegal, então isso deve ser abordado pelo sistema legal, não por pressão e intimidação a terceiros", afirmou. Para Navi, o caso expôs a necessidade de os países protegerem o direito ao compartilhamento de livre informações, como determina leis internacionais.

"Muito do que se publica poderia levantar uma questão fundamental para os direitos humanos: o equilíbrio entre a liberdade e informação e os interesses de segurança de um país. Esse é um equilíbrio difícil de encontrar, mas apenas tribunais e a lei podem dizer qual é esse equilíbrio", disse Navi, segundo informou O Estado de S. Paulo.

No final de novembro, o WikiLeaks divulgou mais de 250 mil documentos secretos revelando os bastidores da diplomacia dos EUA, entre despachos e registros. A Casa Branca condenou a publicação dos dados, dizendo que o site colocava em risco a vida de americanos e aliados do país.

Após o vazamento histórico, o governo norte-americano pressionou o maior servidor do país, a Amazon Web Services, para interromper o acesso ao WikiLeaks e evitar outra divulgação de informações comprometedoras. A França também enviou um comunicado aos servidores do país, declarando que as empresas francesas não podem hospedar páginas da web consideradas criminosas em outros países.

A alta comissária da ONU ressaltou o fato de que o caso WikiLeaks deve ser resolvido nos tribunais. "Se Assange ou qualquer pessoa cometeu algum crime reconhecido, é à Justiça que ele deve ser levado", disse. 

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A Rede Social: a irresponsabilidade de um gênio



Ele não era bonito, forte, nem engraçado. Não fazia sucesso com as mulheres. Não fazia parte da equipe de remo da universidade, nem do clube de notáveis de Havard. Mas Mark Zuckerberg era um visionário, um gênio da informática que foi capaz de criar a rede social mais popular do mundo: o Facebook. A Rede Social (The Social Network) do diretor David Fincher narra os bastidores dessa história que envolve status, ambição, genialidade e traição. O longa é o retrato de uma geração conectada que constrói sua identidade a partir de um perfil construído na internet.

A história começa na noite em que Mark curte uma “fossa” após o rompimento com a namorada. Com a cabeça cheia de ideias e a ajuda do amigo brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield), o jovem cria um aplicativo que compara fotos dos estudantes de Havard. Em pouco tempo, o programa vira febre e desperta o interesse dos gêmeos Winklevoss, que fazem parte de um um grupo seleto de alunos veteranos. As conversas avançam, mas o que poderia significar uma parceria, transforma-se em um grande golpe.
 
Mark compreendeu que muitas pessoas tinham o desejo de interagir pelo computador, em casa, sem precisar ir à festas. Daí surge o The Facebook, um site em que os usuários criam seus perfis e fazem amigos segundo seus próprios critérios de interesse. Para bancar esse projeto, Eduardo decide injetar um grande capital, mas Mark ainda achava que faltava algo. Entra em cena, então, Sean Parker (Justin Timberlake), criador do Napster, que prometeria expandir de vez os negócios, o que acabaria comprometendo a amizade dos dois estudantes. 
 
Mark acaba sendo acusado de ter desenvolvido o Facebook a partir das ideias dos gêmeos Winklevoss. Além disso, o jovem tem que responder judicialmente por ter enganado Eduardo no momento em que a rede social começava a ser lucrativa. Ele ainda foi processado pela ex-namorada pelas ofensas que publicou em seu blog. Controvérsias à parte, a verdade é que Mark Zuckerberg é considerado hoje o jovem mais rico do mundo. 
 
O filme é baseado no livro Bilionários por acaso : A Criação do Facebook, de Bem Mezrich. O autor contou com depoimentos de alguns dos envolvidos no caso, menos de Mark. Em recente entrevista, o jovem diz que se divertiu com o longa, apesar de algumas imprecisões. Na realidade, ninguém sabe exatamente o que aconteceu nos bastidores desse fenômeno da internet. A única certeza é que Mark é um gênio de sua época. 
 
Mark é vivido pelo ator Jesse Eisenberg e sua interpretação é um dos pontos altos. Ele dá vida a um jovem inseguro, ressentido e capaz de tudo para conseguir seus objetivos. Apesar de diálogos longos, o filme tem uma narrativa ágil, alternando cenas da batalha judicial e dos fatos anteriores a ela. O longa ganhou os prêmios de melhor filme, diretor, ator e roteiro adaptado da Associação Nacional de Críticos de Cinema dos Estados Unidos 
 
Depois de sucessos como O Curioso Caso de Benjamin Button (2008), Clube da Luta (1999) e Seven (1995), David Fincher acerta na mosca ao narrar uma história contemporânea que mostra bem a constante transformação que sofre as relações sociais.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Vamos discutir o Plano Nacional de Cultura?

A Secretaria Municipal de Cultura de São Vicente realiza no próximo sábado ( dia 27), o 1º Encontro Vicentino de Cultura. O objetivo do encontro é discutir o Plano Nacional de Cultura recentemente aprovavado no Congresso Nacional. Estarão presentes no encontro: Sergio Maberti: Presidente da Funarte; Maurício Dantas: Secretário Executivo do Ministério da Cultura e Renato Caruso: Secretário de Cultura de São Vicente. 

Segundo Elaine Porta, uma das organizadoras do evento, a discussão vem de encontro às propostas da Secretaria de Cultura de São Vicente cujo objetivo é o de implantar uma nova Política de Cultura para a cidade de São Vicente. "Na verdade estamos desenvolvendo o projeto desde 2009 com vários eventos na períferia da cidade; criação do Fundo Municipal de Cultura; da Lei de Incentivo a Cultura; a realização do 1º Fórum de Cultura, entre outros", explica Elaine.

O encontro será realizado no Centro Cultural da Imagem e do Som, Parque Ipupiara a partir das 14h, e é aberto ao público em geral.
Publicado no site Amigos da Cultura

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A escalada da intolerância


Quem acompanha o noticiário, observa uma escalada da intolerância no país. São agressões físicas contra homossexuais, preconceito contra pobres e incitação à violência contra nordestinos. Tudo isso em poucas semanas. Por uma questão de classe ou hegemônica, muitas pessoas não aceitam o contraditório, aquele que é diferente de sua turma. Essas manifestações contra grupos historicamente discriminados revela uma mente atrasada e rancorosa, que não consegue conviver com a diversidade, seja ela de qualquer natureza.

Um dia depois do segundo turno das eleições, a estudante de Direito Mayara Petruso utilizou o twitter para manifestar todo o seu preconceito contra os nordestinos. Para ela, os moradores da região são os grandes responsáveis pela vitória de Dilma Rousseff (PT). Na rede social, ela disparou "nordestisto (sic) não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado". A OAB-PE acionou à Justiça contra Mayara que pode responder criminalmente por suas manifestações xenofóbicas.

No Rio de Janeiro, um militar admitiu ter atirado contra o estudante Douglas Igor Marques, 19 anos, logo após a Parada Gay, na última segunda. Uma testemunha que depôs sobre a agressão, disse que o agressor falou para o grupo de homossexuais: "Vocês são uns veadinhos. São uma vergonha para a família de vocês.". Ao dizer isso, ele teria atirado contra a barriga do jovem.

Em São Paulo, na semana passada, quatro adolescentes, de classe média alta, agrediram três outros jovens na avenida Paulista. A violência teria sido motivada por homofobia, já que o grupo que sofreu a agressão seria homossexual. A Justiça acabou liberando os bandidos (é esse o termo correto) no domingo sob a alegação que se tratava apenas de uma briga de rua e que os acusados não representariam perigo a nenhuma minoria se fossem soltos.

Já o comentarista da RBS, afiliada da Rede Globo de Santa Catarina, Luis Carlos Prates, destilou toda sua ira contra os pobres ao culpá-los pelo tráfego intenso nas estradas durante o feriado da Proclamação da República. Segundo o jornalista, pessoas de baixa de renda, que nunca leram um livro, estão comprando carros devido ao atual governo que estimula a oferta de crédito para essa camada social. Em nome da tão falada liberdade de imprensa, um profissional de comunicação se acha no direito de utilizar uma concessão pública para difundir ideias preconceituosas. Isso é um absurdo.

Motivadas por diferentes razões, as agressões têm em comum o preconceito. Um preconceito muitas vezes negado pela sociedade brasileira e, particularmente pela mídia. Manifestações contra gays, nordestinos e negros acontecem diariamente no país, algumas resultam em mortes, mas acabam não ganhando notoriedade. A imprensa poderia ao retratar esses casos, promover um amplo debate sobre homofobia, racismo e respeito ao direitos humanos. Essa escalada da intolerância não pode ser banalizada. Quem não sabe conviver com a diferença, não serve para viver em sociedade.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A Sociedade ocupa a TV - O caso Direitos de Resposta

Do site Intervozes



Em 2005, uma ação civil pública movida contra a Rede TV! e o programa Tardes Quentes, do apresentador João Kléber, por violações de direitos humanos na mídia obteve um resultado inédito na Justiça brasileira. Durante 30 dias, a emissora foi obrigada a exibir um direito de resposta coletivo dos grupos ofendidos pela programação. Assim nasceu o programa "Direitos de Resposta", produzido por organizações da sociedade civil e que exibiu inúmeras produções independentes em torno da defesa dos direitos humanos.

 O resultado foi considerado uma vitória para aqueles que reivindicam melhorias na programação na TV aberta brasileira e seu aniversário de 5 anos será celebrado no dia 12 de novembro, em São Paulo, com o lançamento do livro A Sociedade Ocupa a TV, produzido pelo Intervozes, que resgata a memória do episódio, e com um debate sobre liberdade de expressão, que contará com a presença do Procurador da República Sergio Suiama, autor da ação contra a Rede TV!.

 De acordo com o procurador, programas como os então apresentados por João Kléber legitimam preconceitos. “A emissora de TV é uma concessão pública e como tal deve obedecer a preceitos estabelecidos pela Constituição Federal”, diz ele. Entre eles, os previstos no artigo 221, que determina que a programação das emissoras deve respeitar os valores éticos e sociais da pessoa humana. “No caso dos homossexuais, principal grupo atingido pelo programa, esse tipo de veiculação reforça uma conduta homofóbica”, completa o procurador.

 Na época, a Justiça Federal concedeu liminar exigindo a suspensão do programa por 60 dias e a exibição de um direito de resposta. A Rede TV! descumpriu a ordem judicial e teve seu sinal cortado por 25 horas. Pressionada principalmente por anunciantes, a emissora aceitou assinar um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público Federal e as organizações da sociedade civil co-autoras da ação. Assim, financiou a produção e exibiu os 30 programas, além de pagar uma multa de R$ 400 mil para o Fundo de Defesa de Direitos Difusos pelos danos causados à sociedade.

Participaram da ação e da posterior direção do programa Direitos de Resposta as seguintes organizações: Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação; Centro de Direitos Humanos (CDH); Identidade – Grupo de Luta pela Diversidade Sexual; Ação Brotar Pela Cidadania e Diversidade Sexual (ABCDS); Associação da Parada do Orgulho dos Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros de São Paulo; e Associação de Incentivo à Educação e Saúde de São Paulo (AIESSP).

 Em 2009, na I Conferência Nacional de Comunicação, poder público, empresários e sociedade civil aprovaram a criação de mecanismos para normatização e regulação dos conteúdos veiculados pelos meios de comunicação e sua responsabilização na perspectiva de evitar as práticas discriminatórias e a violação dos direitos humanos na mídia.

Serviço:
Celebração dos 5 anos do caso Direitos de Resposta
Debate e coquetel de lançamento do livro "A Sociedade Ocupa a TV"
Dia 12 de novembro (sexta), das 18h30 às 21h30
Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Avenida Paulista, 37 - São Paulo

sábado, 6 de novembro de 2010

Um retorno nada feliz



Ficar quinze anos sem filmar parece ter feito mal a Arnaldo Jabor. A Suprema Felicidade marca sua reestreia e o que poderia ser uma volta triunfal, se transforma numa história anódina, feita de raros bons momentos. O diretor faz um mergulho nostálgico na cidade do Rio de Janeiro das décadas de 40 e 50, narrando as experiências de Paulo, um garoto em busca dessa tal felicidade.

A trama começa depois do fim da guerra. Paulo é filho de Marco (Dan Stulbach), aviador da FAB, e Sofia (Mariana Lima), uma mulher à frente de seu tempo. O garoto testemunha o fracasso do pai em realizar o sonho de pilotar um jato e a tristeza da mãe pela distância do marido. Tudo isso mexe com Paulo, que encontra refúgio na cumplicidade do avô Noel (Marco Nanini), boêmio e um grande contador de histórias.

Paulo e seu melhor amigo, Cabeção (César Cardadeiro), começam a descobrir o mundo além dos muros da escola e do quintal de casa. O primeiro porre, as noitadas nos cabarés e as frustrações amorosas. São situações intensas, mas que não significam a felicidade que Paulo tanto busca. Ele então conhece Marilyn (Tammy Di Calafiori), uma jovem dançarina, pela qual se apaixona loucamente.

A Suprema Felicidade é um longa repleto de referências, como os musicais de outros épocas. No entanto, a tentativa é constrangedora de tão ruim. A atuação do protagonista também decepciona. Jayme Matarazzo, que vive Paulo com 18 anos, não emplaca, falta carisma e expressão. Os melhores momentos ficam com Marco Nanini que se diverte com os devaneios de seu personagem. Outra atração é João Miguel que encarna o pipoqueiro Bené, um sujeito engraçado que conta suas aventuras com as mulheres.

Se como cronista, Arnaldo Jabor desperta mais ódio do que admiração, como diretor de cinema, ele é muito respeitado. Por exemplo, Eu Sei Que Vou Te Amar é uma obra-prima. Mas em A Suprema Felicidade, o cineasta opta por uma história arrastada que não empolga o público e cheia de anticlímax. De feliz, o filme só tem o saudosismo. Será que Jabor ficou enferrujado depois desse longo jejum? 

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Lições de uma eleição


“Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!” Esse comentário foi postado no twitter um dia depois da consagração de Dilma Rousseff (PT) nas urnas. A frase demonstra o radicalismo que dominou as eleições deste ano. A campanha foi marcada por táticas clandestinas que envolveram desde o terrorismo religioso até o preconceito de gênero passando por uma cobertura partidarizada da mídia. A vitória da candidata petista ensina que o povo brasileiro  está cada vez mais pragmático, votando de acordo com sua vontade e não se deixando tutelar pelo posicionamento dos “formadores de opinião”.

Muitos desses eleitores que ficaram indignados com a vitória de Dilma Rousseff atribuíram aos nordestinos o peso decisivo no resultado do segundo turno. No entanto, os votos do Nordeste apenas aumentaram a vantagem que a petista obteve no restante do Brasil. Considerando apenas Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste, a ex-ministra somou 1.873.507 votos a mais do que o tucano José Serra. Nessa análise precipitada e inverossímil reside o preconceito arcaico que não admite que o voto do “intelectual” paulista tenha o mesmo valor da bordadeira cearense.

As eleições deste ano conseguiram a façanha de unir conservadores religiosos, jovens despolitizados e a elite separatista. A articulação desses setores e da coordenação do PSDB foi responsável por uma campanha difamatória contra Dilma sem precedentes na história política brasileira. A rede de boatos funcionou em bloco, enviando correntes de e-mails e repercutindo-os nas redes sociais, fora a distribuição de panfletos apócrifos, como os produzidos a mando do bispo de Guarulhos. José Serra (PSDB) se transformou no candidato classista, ou seja, aquele que melhor representava os grupos arrivistas e reacionários.

Dilma teve mais de 55 milhões de votos e entrou para a história como a primeira mulher presidente do Brasil. Mas sua eleição não foi nada fácil, principalmente pelo partidarismo de alguns meios de comunicação. Ainda ano passado, o jornal da Folha de S. Paulo publicou uma ficha falsa do DOPS em que a ex-ministra da Casa Civil era tia como uma terrorista perigosa que planejava seqüestros. O Estado de S.Paulo declarou em editorial que apoiava o candidato tucano. A revista Veja se transformou num braço da campanha de oposição e de forma escancarada requentava denúncias contra Dilma e o PT. No caso da bolinha de papel, o Jornal Nacional dedicou mais de dez minutos para tentar comprovar que Serra foi atingido por uma fita adesiva, com direito até a análise do perito Molina.

O debate sobre questões importantes para o país foi esvaziado, e o eleitor saiu perdendo. As reformas tributária, previdenciária, política e trabalhista passaram longe da pauta dos candidatos que preferiram o denuncismo e a tática do revide. Se Dilma tinha Erenice, a pedra no sapato de Serra era Paulo Preto. Os casos só contribuíram para nivelar os dois presidenciáveis. Os profissionais do marketing novamente tentaram construir o modelo de político padrão: humilde, religioso e de moral ilibada. As marcas pessoais foram diluídas pouco a pouco, prevalecendo ações previamente arquitetadas, como a visita de ambos à Aparecida.

Mas um fato novo que surpreendeu nestas eleições foi a militância virtual. Se no primeiro turno, a onda verde de Marina Silva ganhou corpo, no segundo turno tucanos e petistas travaram um verdadeiro duelo no twitter. A grande disputa era para emplacar uma #tag nos trending topics. Os blogs também mostraram força por desempenharam o papel de contrafala no sentido de apresentar múltiplas vozes sobre os assuntos pautados pela campanha como o aborto e as privatizações. E com a expansão da internet em todo o país, todo mundo se tornou um pouco ativista, seja da lan-house ou do computador pessoal.

O único problema é que certos usuários acreditam que a rede é um espaço sem regras, em que o ódio pode ser disseminado, como a estudante “classista” que postou o comentário preconceituoso contra os nordestinos. A eleitora de Serra deverá responder judicialmente por racismo e incitação pública de prática de crime. Na verdade, democracia não exige unanimidade, mas respeito à maioria, e no caso, a maior parte do povo brasileiro optou por Dilma Rousseff.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Como esquecer: perdas que aproximam







O que fazer para superar a perda de um grande amor? Como esquecer, de Malu de Martino (Mulheres do Brasil) conta como essa busca pode ser dolorosa. Júlia (Ana Paula Arosio) é uma professora de literatura inglesa que luta para reconstruir sua vida após uma relação intensa com Antônia. Um drama contemporâneo que aborda temas que vão além da caricatura associada a homossexuais.

Deprimida e em meio a uma série de conflitos internos, Julia se isola do mundo, mas seu amigo Hugo (Murilo Rosa) tenta trazê-la para o convívio social. A perda é um traço que os une, e os dois vão morar juntos com Lisa (Natália Lage), uma jovem que também vive uma situação complicada. A professora viverá um experiência transformadora, dividindo tristezas, felicidades, tentando superar os traumas do passado e voltar a sorrir.

Ana Paula Arósio é uma verdadeira atriz dramática e, em Como esquecer, isso é comprovado. A dor de Julia parece incomensurável, ganhando contornos shakespearianos de tão carregada. Ela vive essa fossa com tanta intensidade que, às vezes, irrita. Talvez, a diretora tenha errado na dose. Mas quem pode julgar a perda do outro?

Adaptação da história autobiográfica de Miriam Campello, Como esquecer não pode ser reduzido a filme de temática GLS, como alguns sites citaram. Até porque a homossexualidade é uma questão secundária na história. Sem estereótipos, o longa de Malu de Martino fala de pessoas comuns que enfrentam um dos maiores dilemas da vida: a perda de alguém muito importante.

Como esquecer ainda conta Arieta Corrêa como a sedutora Helena, prima de Lisa, e Bianca Comparato vivendo Carmem Lygia, uma aluna de Julia que tenta ser íntima da professora.





segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tropa 2: Uma tese simples, mas um filmaço


Sem dúvida, Tropa de Elite 2, de José Padilha, era o filme mais esperado do ano. Motivos não faltavam – da pirataria, passando pela acusação de fascista, até a consagração no Festival de Berlim. Será que Capitão Nascimento e seus ‘caveiras’ continuariam a ‘soltar o dedo’ e colocar os malandros no saco?  Se o primeiro não tinha a pretensão de ser um fenômeno, a sequência foi produzida para se tornar o maior sucesso do cinema brasileiro, desde a Retomada. Perfeito tecnicamente, Tropa de Elite 2 vai agradar a maioria, com ação do começo ao fim, com doses simplificadas de reflexão.

Capitão Nascimento (Wagner Moura), quinze anos mais velho, passa a ser comandante geral do BOPE e depois sub-secretário de inteligência. Ao fazer parte da cúpula da segurança pública do Rio de Janeiro, ele descobre, como o próprio subtítulo do filme diz, que "o inimigo agora é outro". No vácuo dos traficantes, policiais milicianos começam a tomar conta das comunidades, cobrando propina por serviços como “gatonet” e entrega de gás. A espinha dorsal do esquema inclui figuras da política, como deputados, secretários estaduais e até mesmo o governador.

Apesar de o filme alertar no começo que se trata de uma obra ficcional, a história é bem verossímil, com elementos que remetem a alguns fatos recentes da realidade. O deputado de esquerda, que defende os direitos humanos e quer abrir um CPI para investigar a polícia. A jornalista que arrisca a própria vida para conseguir provas contra os acusados. O apresentador sensacionalista de um programa policial que enaltece a ação do BOPE para obter mais audiência. Todos esses personagens mais o próprio Nascimento dão um ar de “baseado em fatos reais”, a estratégia cativa o público e confere veracidade.

Nesta sequência, Nascimento além de combater o sistema, precisa conviver com o distanciamento de seu filho. Para piorar, o padrasto do garoto é um de seus grandes desafetos. O comandante do BOPE se mostra mais humano em Tropa 2, apesar de seu jeito durão. O ‘herói’ é um cara sozinho, cheio de conflitos, que já não sabe porque aperta o gatilho. Wagner Moura está espetacular na pele desse ser tão complexo. Sua interpretação é um dos destaques do filme. Outras atuações marcantes são de Iradhir Santos, como o deputado Fraga, e Sandro Rosa como o policial miliciano Rocha.

Tropa 2 também salta aos olhos por seu resultado na telona. Cenas alucinantes que lembram os melhores filmes de ação norte-americanos. Fotografia e edição perfeitas. O roteiro, assinado por Braulio Mantovani, é bem construído e ajuda a dar ritmo a história. O único problema nesse sentido são algumas passagens, que poderiam ser excluídas na montagem, como a dos policiais milicianos numa lancha e a do governador reclamando do material de campanha.

Talvez o que mais incomode em Tropa 2 seja seu fatalismo. A narração do Capitão Nascimento não permite ao público outra conclusão que não esta: os políticos são os grandes culpados e o povo que os elegem é cúmplice. Uma tese que fica na superficialidade, mesmo quando tenta mostrar o embate entre esquerda e a direita em termos de discurso no combate à violência. Mas nada disso parece preocupar Padilha, que deseja simplesmente mostrar a barbárie em que a sociedade vive.  Com simplificações sociológicas ou não, o longa cumpre seu papel ao tocar em questões importantes. Além disso, muitos espectadores querem ver mesmo o Capitão Nascimento esculachando os criminosos e repetindo um de seus bordões, como “pede para sair”.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Memórias, encenações e um personagem singular

Pedro de Almeida, garimpeiro de 81 anos de idade, comanda como mestre de cerimônias o velório, o cortejo fúnebre e o enterro de João Batista, que morreu com 120 anos. O ritual sucede-se no quilombo Quartel do Indaiá, distrito de Diamantina, Minas Gerais. 

Com uma canequinha esmaltada, ele joga as últimas gotas de cachaça sobre o cadáver já assentado na cova: “O que você queria taí! Nós não bebeu ela não, a sua taí. Vai e não volta pra me atentar por causa disso não. Faz sua viagem em paz”.

Dessa maneira acaba o sepultamento de João Batista, após 17 horas de velório, choro, riso, farra, reza, silêncios, tristeza. No cortejo, muita cantoria com os versos dos vissungos, tradição herdada da áfrica. Descendente de escravos que trabalhavam na extração de diamantes, nas Minas Gerais do tempo do Brasil Império, Pedro é um dos últimos conhecedores dos vissungos, as cantigas em dialeto banguela cantadas durante os rituais fúnebres da região, que eram muito comuns nos séculos 18 e 19.

Garimpeiro de muita sorte, Pedro já encontrou diamantes de tesouros enterrados pelos antigos escravos, na região de Diamantina. Mas, o primeiro diamante que encontrou, há 70 anos, o tio com quem trabalhava o enterrou e morreu sem dizer onde. Depois disso, vive sempre em uma sinuca: para reencontrar o diamante só se invocar a alma de seu tio João dos Santos. “É um diamante e tanto, você precisa ver que botão de mágoa”. Ao conduzir o funeral de João Batista, Pedro desfia histórias carregadas de poesia e significados metafísicos, que nos põem em dúvida o tempo inteiro: João Batista tinha pacto com o Diabo?; O Diabo existe?; estamos sozinhos, ou as almas também estão entre nós?; como Deus inventou a Morte?

A atuação de Pedro e seus familiares frente à câmera nos provoca pela sua dramaturgia espontânea, uma auto-mise-en-scène instigante. No filme, não se sabe o que é fato e o que é representação, o que é verdade e o que é um conto, documentário ou ficção, o que é cinema e o que é vida, o que é africano e o que é mineiro, brasileiro.

O que diz o diretor:
“Na virada de 2004 para 2005, estava enredado pelo livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. Famoso por atrair ao sertão de Minas Gerais gente de todo o mundo, o livro fez com que eu e minha mulher imprimíssemos uma viagem em busca do sertão mítico e profundo retratados pelo escritor.

No caminho, encontrei Pedro Vieira, conhecido como Pedro de Alexina, guardião das tradições fúnebres que os africanos trouxeram para a região de Diamantina no século 18. Esse encontro transformou minha viagem em uma expedição ao imaginário da tradição oral que remonta aos povos andantes. Essas histórias emendam-se umas nas outras, misturando os contos populares ao mundo vivido e a uma miríade de mitos de diferentes origens.

Dois anos depois, em maio de 2007, voltei ao Quartel do Indaiá, comunidade remanescente de quilombo, para fazer um filme com seu Pedro. Foram 30 dias de filmagens. Mediado pela imaginação, pela memória dos antepassados e de suas histórias, Pedro me levou a um lugar onde o sertão encontra a África de séculos atrás, onde a morte encontra a vida e onde Deus e o “Outro” coexistem”.

Em tempo: Conferi Terra deu Terra come no sábado e não tive inspiração suficiente para escrever algo à altura da magnitude desse filme instigante. Mas reproduzo aqui o release, divulgado no site oficial do longa e o depoimento do diretor Rodrigo Siqueira.

Em exibição no Espaço Unibanco Miramar 18h

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mídia Cidadã apoia Luiza Erundina



O signatário deste blog conheceu a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) numa palestra na Universidade Federal de São Paulo, em Santos. Neste evento, ela afirmou que tão importante quanto a reforma política, é a reforma nas comunicações. Um pouco antes da palestra, tive a oportunidade de trocar algumas ideias com a deputada, lembro que a parabenizei por sua atuação em favor da Confecom (Conferência Nacional da Comunicação) e ela me falou que estava sendo “massacrada” por causa disso. Imagino que cutucar grandes impérios de mídia  seja realmente uma cruzada de Davi contra Golias. 

A deputada Luiza Erundina é uma guerreira incansável contra o monopólio dos meios de comunicação. Defensora da democratização das comunicações, Erundina é a parlamentar que mais luta para acabar com as distorções que existem em torno da radiodifusão brasileira.
A deputada defende o controle social dos meios de comunicação como instrumento para garantir a própria democracia brasileira. Para ela, é preciso assegurar leis que tornem real o direito à comunicação.

Erundina é considerada uma das parlamentares mais influentes do Congresso, como revela o DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).  Ela é finalista do Prêmio Congresso em Foco 2010 que destaca os melhores congressistas. A deputada ainda tem um grande trabalho nas áreas da infância, dos direitos da mulher e da cultura.  

Por tudo isso, o blog Mídia Cidadã apoia e recomenda a reeleição da deputada federal Luiza Erundina. Sua fala durante o ato contra o golpismo midiático só aumenta a convicção da escolha certa. A luta deve continuar!!!


Em tempo: Luiza Erundina foi a 10ª deputada mais bem votada de São Paulo, tendo recebido 211.848 votos de confiança. O Mídia Cidadã parabeniza a parlamentar e espera que ela continue lutando por todos nós no Congresso.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O medo se avizinha





O que pode fazer um homem simples, honesto e trabalhador ao perceber que a paz de sua família está ameaçada? Esse é o grande dilema de Valter (Marat Descartes) em Os Inquilinos, de Sergio Bianchi. O mais panfletário e ácido diretor brasileiro abandona seu didatismo, investindo numa trama cheia de mistério e dramaticidade. A história mostra que é preciso ter nervos de aço para conviver com a ameaça que mora ao lado.

Como muitos brasileiros, Valter trabalha durante o dia e estuda à noite. Sua mulher, Iara (Ana Carbatti) é dona-de-casa e cuida dos dois filhos do casal. A tranquilidade da família é quebrada quando novos vizinhos se mudam. Os três rapazes, que ninguém sabe de onde vieram, não trabalham e vivem fazendo festinhas regadas a música alta, bebidas e mulheres. Seu Dimas (Umberto Magnani), que mora no mesmo lote, é refém da truculência desses inquilinos muito suspeitos.

Os excessos dos novos vizinhos irritam Iara, que observa tudo de sua janela. Ela desconfia que os rapazes são bandidos e estão envolvidos com algo muito grave.  Todo dia, Valter escuta o relato da esposa, isso faz com que ele comece a se sentir pressionado. Como “provedor” e macho, não pode deixar sua família correr risco. Esse sentimento domina a cabeça de Valter, que não é de briga e só quer dormir depois de uma cansativa jornada. Um desfecho trágico será inevitável?

Depois de filmes-tese como Quanto Vale ou é por Quilo? e Cronicamente Inviável, Bianchi agora mostra que pode tocar em questões sociais, apenas contando uma boa história. Os Inquilinos transmite o clima de medo que domina a maioria das cidades brasileiras. Conviver com a violência é um traço da sociedade atual. O longa faz alusão aos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) em 2006, que acabou paralisando São Paulo.

O elenco se destaca pela naturalidade das interpretações, principalmente Marat Descartes, que torna Valter um sujeito muito familiar. O longa ainda conta com as participações especiais de Caio Blat e de Cássia Kiss que, aliás, está brilhante como uma professora de português. Realmente, a maior virtude de Os Inquilos é a simplicidade. Um retrato do cotidiano da periferia, não somente ligado à violência, mas a valores como honra e família. E Bianchi ressalta isso nos detalhes.


sábado, 11 de setembro de 2010

Números que dizem quase tudo

Já é tradição. O dia é riscado no calendário. A pauta preestabelicidda. A capa do jornal reservada. Os jornalistas não veem a hora de repercutir. A divulgação de estudos do IBGE ou de outras instituições de pesquisa é um bálsamo para as redações, ávidas por um assunto que renda boas matérias. Dependendo da linha editorial do veículo, os números apresentados serão superdimensionados ou relativizados, principalmente em tempos de campanha eleitoral. No centro de tudo isso, o cidadão, que não sabe se o Brasil vem melhorando ou não.

Primeiro, vamos a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada na última quarta (dia 8): 

Segundo a pesquisa, o índice de lares brasileiros que ainda não têm acesso a rede coletora ou fossa séptica chega a 26,4%. Isso significa que cerca de um em cada quatro casas utilizam formas irregulares de esgotamento ou deixam os dejetos a céu aberto.

No mesmo levantamento, 98,2% dos domicílios têm luz, um acréscimo de 0,5% em relação ao ano anterior. Em relação ao abastecimento de água, 83,3% das casas brasileiras possuem esse serviço, o ritmo de 2007 foi o mesmo do ano anterior: 0,1%. A coleta de lixo atinge 87,5% dos domicílios brasileiros, um acréscimo de 0,9% comparado a 2006.

Ainda segundo a Pnad, um em cada cinco brasileiros com 15 anos ou mais é analfabeto funcional. O número corresponde a mais de 29 milhões de pessoas, ou 20,3% da população nesta faixa etária, que é de 143 milhões. No período de 2004 a 2009, o analfabetismo entre os brasileiros com mais de 15 anos caiu de 11,5% para 9,7%.

Já a pesquisa A Nova Classe Média: o lado brilhante dos pobres, da Fundação Getúlio Vargas revela que cerca de 3,1 milhões de pessoas das classes D e E migraram para o segmento C, entre 2008 e 2009. Com isso, 94,9 milhões de pessoas passaram a compor a classe média, totalizando 50,5% da população. A pobreza, representada pela classe E com 28,8 milhões de pessoas, recuou 4,34% em plena crise, isso significa que um milhão de brasileiros cruzou a linha da miséria. 

Até julho deste ano, o mercado formal de trabalho criou 181.796 vagas, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego. Com isso, o saldo acumulado em 2010 chega a 1.655.116 empregos com carteira assinada, representando uma expansão de 5,02%, no melhor resultado para o período, desde que foi criado o índice.

Diante de tantos números, o leitor fica perdido, não tendo a noção exata do que eles representam em termos de avanço ou retrocesso. A expansão de serviços básicos, como rede de esgoto e abastecimento de água, tem sido lenta no Brasil? Lógico que sim, principalmente para um país que pretende ser a quinta economia mundial. Mas se pensarmos que o país possui dimensões continentais, com abismos entre os estados da federação, podemos ter uma ideia das dificuldades para conseguir a cobertura total desses serviços. 

Quando o assunto é economia, a imprensa costuma comparar o crescimento do PIB brasileiro ao da China ou da Índia, mas isso é factível? Apesar de nações emergentes, há grandes diferenças em relação ao regime de trabalho e ao tipo de mercado que caracteriza cada país. Aspectos históricos e culturais também são ignorados nessa análise comparativa.  Seria mais razoável ter como referência os números de nossos vizinhos, como a Argentina.

Parece que os dados são manipulados conforme o enfoque que o jornal pretende dá a matéria. As análises seguem uma linha ora alarmista ora otimista, faltando equilíbrio para uma interpretação mais precisa e dentro da realidade. Aquela máxima de que os números não mentem jamais não se aplica necessariamente ao trabalho da imprensa. A apresentação de pesquisas sem a devida contextualização não favorece o debate, pior, torna o assunto restrito a tecnocratas, especialistas em decodificar números.

A discussão em torno dos resultados apresentados pela Pnad é importante para que a opinião pública cobre ações efetivas do Estado, com metas e prazos bem definidos. Não há mais como conviver com esse índice tão elevado de lares sem esgoto ou de brasileiros em situação de miséria, mesmo que esse quadro venha mudando nos últimos anos. 

O jornalista precisa enxergar além dos números frios, afinal, por trás de gráficos e tabelas sobre o analfabetismo, existem milhares de pessoas que não sabem ler nem o próprio nome.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Você já pensou em ser educomunicador?


Publicado originalmente no site MídiativaSantos

A centralidade da comunicação na vida das pessoas vem transformando vários setores da sociedade, particularmente a educação. Educar já não é mais exclusividade de pais e professores. Com as novas tecnologias, a informação circula rapidamente e o conhecimento é construído de forma horizontal. Ser mediador nessa nova conjuntura é uma das funções do educomunicador, uma carreira que está começando a ser descoberta no Brasil e no mundo. Para se ter uma ideia, a Universidade de São Paulo (USP), a partir de 2011, passa a oferecer 30 vagas para o curso de Licenciatura em Educomunicação.

Nos dias 23 e 24 de agosto, o Núcleo de Comunicação e Educação da USP promoveu o II Encontro Brasileiro de Educomunicação, com o tema Diálogo entre sociedade civil e universidade. No evento, pesquisadores, representantes do Poder Público e membros do terceiro setor trocaram experiências sobre diversas ações educomunciativas que estão sendo realizadas com êxito em todo o país. Além disso, os convidados discutiram sobre as várias possibilidades desse novo profissional no mercado de trabalho, que vai desde a gestão de projetos na área de mídia-educação até a consultoria na formação de educadores, passando pela atuação nas emissoras de TV e rádio.

A própria LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) sugere que o ensino regular se abra a novos campos do conhecimento, como a comunicação, trabalhando-os de forma transversal em sala de aula. Organizações internacionais como a UNESCO também incentivam projetos na área da educomunicação, conhecida nos EUA como media-literacy. O consultor da entidade, Guilherme Canela, considera muito importante esse novo campo por explorar as habilidades de saber acessar as mensagens, avaliar a qualidade da informação e produzir conteúdos usando as diferentes linguagens e plataformas.

Em muitos lugares do Brasil, a educomunicação já está sendo tratada como política pública. Na capital paulista, ela foi institucionalizada por meio de um projeto de lei que ampliou o programa Educom, criado em 2001. A medida pretende envolver as secretarias municipais, as unidades escolares, os profissionais do jornalismo e toda a comunidade. No norte paranaense, a cidade de Bandeirantes é referência ao adotar projetos de mídia-educação no cotidiano escolar e nas comunidades carentes. Lá, os alunos, entre outras atividades, aprendem técnicas de fotografia e de produção de vídeo.

Mas a educomunicação não se limita somente à educação formal nas salas de aula. Instituições do terceiro setor também estão se articulando em torno de projetos de comunicação educativa. A ONG Cala-Boca-Já-Morreu é pioneira em desenvolver oficinas de rádio, vídeo e jornal impresso para crianças e adolescentes. A Viração é outro exemplo na capacitação de jovens educomunicadores. A entidade atua em comunidades pobres e em parceria com escolas, estimulando o protagonismo infanto-juvenil e a formação de sujeitos autônomos. Essas iniciativas demonstram que a educomunicação também contribui para o exercício pleno da cidadania ao garantir o direito à liberdade de expressão.

Como cada vez mais a mídia faz parte do universo do ser humano, a educomunicação atende a uma demanda da contemporaneidade, suprindo a lacuna entre o saber formal e o midiático. Apesar de parecer algo muito complexo, o perfil do educomunicador é simplesmente o de um profissional crítico, aberto ao diálogo, capaz de criar ecossistemas comunicativos e que tenha grande sensibilidade social. Quantas pessoas possuem essas qualidades e não sabem que carreira seguir? O vestibular 2011 da FUVEST pode ser uma grande oportunidade. Para saber mais sobre o curso, acesse: http://www.cca.eca.usp.br/educom