sábado, 30 de janeiro de 2010

Conflitos e bom humor na dose certa

Geralmente, quando um filme tenta ultrapassar a barreira de gênero é sinal que pretende fugir do convencionalismo. É proibido fumar, de Anna Muylaert (Durval Discos), é um exemplo dessa busca. O longa estrelado por Glória Pires e Paulo Miklos transita entre a comédia romântica e o drama, passando, em certa medida, pelo suspense.

Baby (Glória) é uma professora de violão solteirona que nutre o desejo de encontrar um grande amor. Ela vê suas chances crescerem com a mudança do músico Max (Miklos) para o apartamento vizinho ao seu. Logo, os dois começam um relacionamento, o único problema é a compulsão de Baby, que fuma um cigarro atrás do outro.

Para dá fim ao seu vício, Baby procura um grupo de apoio a fumantes. Repetindo o lema “o cigarro parece meu amigo, mas é meu inimigo”, ela enfrenta uma crise de nervos com a abstinência de nicotina. Esse quadro é agravado quando Baby desconfia que seu novo affair está lhe traindo. A partir desse momento, o filme dá uma virada com direito a chantagens e investigação policial.

Paralelamente à trama central do filme, existe uma disputa inusitada por um sofá velho, herança de uma tia, entre Baby e suas irmãs Pop (Marisa Orth) e Teca (Daniela Nefussi). O que pode soar como bobagem, apenas para “encher lingüiça”, ajuda a explicar a instabilidade emocional da protagonista.

É proibido fumar reafirma toda a versatilidade de Glória Pires e comprova o talento do roqueiro Paulo Miklos. Os dois estão perfeitos em cena, mostrando sintonia e leveza. Além das atuações, o filme agrada pela trilha sonora formada por muitas jóias da MPB. Aliás, há todo um clima de nostalgia no longa, das músicas à decoração do apartamento de Baby.

O filme de Anna Muylaert saiu vitorioso do último Festival de Brasília com oito troféus, incluindo o Candango de melhor longa, melhor atriz para Glória Pires e melhor ator para Paulo Miklos. Ainda levou os prêmios técnicos de montagem, trilha sonora, direção de arte e roteiro. Lançado em dezembro de 2009, É proibido fumar passou despercebido do grande público, uma pena, afinal, não é sempre que um diretor consegue subverter a lógica do gênero.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Controle social não é censura

No mínimo, o editorial divulgado pelo Jornal da Noite da Rede Bandeirantes na última sexta (dia 22) é irônico. Primeiro, porque foi declamado por Boris Casoy, aquele mesmo que humilhou os garis em rede nacional. Segundo, porque tenta martelar a idéia de que o governo quer acabar com a liberdade de imprensa com o 3º Plano Nacional dos Direitos Humanos e a Política Nacional de Cultura.


A liberdade de expressão e a manifestação de pensamento são asseguradas pelo artigo 220 da Constituição Federal. Ele também proíbe toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. Assim, nenhum governo se arriscaria em tomar uma medida que contrariasse esses direitos, nem mesmo Lula com toda sua popularidade.


Mas o mesmo artigo também prevê que o Estado defenda a sociedade contra programas que desrespeitem os direitos humanos. Além disso, o artigo 221 exige que a programação das emissoras de rádio e TV privilegie conteúdos educativos, artísticos, culturais e informativos. O dispositivo ainda fala sobre a necessidade da promoção da cultura regional e o estímulo à produção independente. Será que os empresários da comunicação estão levando a sério esses princípios?


Os donos de emissoras têm pavor do chamado controle social da mídia. É verdade que as pessoas não costumam gostar do verbo controlar, mas nesse caso, significa a criação de conselhos que permitam à sociedade, através de representantes democraticamente eleitos, acompanhar, verificar e avaliar se as políticas públicas de comunicação cumprem o que diz a Constituição.


Dessa forma, acusar a proposta de controle social da mídia de censura é pura distorção da mídia conservadora, que insiste em manter velhas estruturas de poder e manipulação. Enquanto o Brasil não avança nessa discussão, o único controle que a sociedade dispõe em relação à mídia é o remoto. Que tal usá-lo para trocar de canal quando figuras repugnantes, como Boris Casoy, estiverem no ar?

sábado, 16 de janeiro de 2010

Campanha SOS Haiti

Cáritas e CNBB lançam Campanha SOS Haiti

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Cáritas Brasileira lançam a Campanha SOS Haiti para a arrecadação de donativos para os atingidos do terremoto que devastou o país caribenho neste último dia 12 de janeiro.

Em carta divulgada, o presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, e o presidente da Cáritas Brasileira, Dom Demétrio Valentim, conclamam todas as comunidades eclesiais, paróquias e dioceses a promoverem, no próximo domingo, dia 17/1, ou no dia 24/1, ou em outra data conveniente, orações e coletas em dinheiro para as vítimas do desastre.

As doações em dinheiro podem ser feitas nas seguintes contas bancárias:

- Banco do Brasil - Agência: 3475-4; Conta Corrente: 23.969-0;

- Caixa Econômica Federal - OP: 003; Agência:1041; Conta Corrente:1132-1;

- Banco Bradesco - Agência: 0606; Conta Corrente: 70.000-2.

Os recursos serão destinados às ações de socorro imediato, reconstrução e recuperação das condições de vida do povo haitiano.


Mais informações:

José Magalhães, assessor da Cáritas Brasileira

Telefones: + 55 61 3214 5400/5429 ou + 55 61 81319639

magalhaes@caritas.org.br

sábado, 9 de janeiro de 2010

Isso é uma vergonha

O vídeo em que o apresentador do Jornal da Band, Boris Casoy, ofende os garis virou hit na internet. No final de uma reportagem, exibida no último dia 31, os garis aparecem desejando feliz ano novo, Boris, pensando que estava em off, dispara durante a vinheta do jornal: "Que merda, dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. Dois lixeiros... O mais baixo da escala de trabalho". Os comentários do jornalista puderam ser ouvidos pelo público.

No dia segunte, Boris pediu desculpas ao vivo: “Ontem durante o intervalo do Jornal da Band, num vazamento de áudio, eu disse uma frase infeliz, por isso quero pedir profundas desculpas aos garis e aos telespectadores do Jornal da Band”.

O áudio só revela o pensamento de uma elite decadente e que tem como porta-voz o jornalista da Band. A mesma emissora que faz editoriais contra as cotas nas universidades, a redução da jornada de trabalho, a demarcação das terras Raposa do Sol, a revisão dos índices de produtividade da terra, entre outras bandeiras dos movimentos sociais.

Boris, conhecido pelo bordão "Isso é uma vergonha", deveria ser afastado do jornalismo imediatamente. Depois de conhecer sua opinião sobre os garis, como confiar na informação transmitida por este homem? Essa polêmica serve para reacender a discussão sobre a necessidade de criar um Conselho Nacional dos Jornalistas que regulamente a atividade desses profissionais, exigindo responsabilidade.

Não é possível que figuras como o apresentador do Jornal da Band continuem no ar como arautos da ética, sendo que nos bastidores disseminam preconceitos.

Clique aqui para conferir o vídeo

sábado, 2 de janeiro de 2010

A saga de um filho com a cara do Brasil

Antes de assistir Lula, o filho do Brasil, de Fábio Barreto, o público deveria se perguntar: será que o presidente precisa realmente de um filme para potencializar seu poder de influência nas eleições deste ano? Depois dessa reflexão, as pessoas poderão assistir a um drama, semelhante ao de milhões de brasileiros, contado com contornos épicos e muita emoção.


O filme é baseado na biografia Lula: o Filho do Brasil, de Denise Paraná, que também assina o roteiro do longa. A história narra a trajetória de Luis Inácio da Silva, de Caetés (PE), sua cidade natal, até a sua prisão no ABC em 1980, com menção a sua consagração nas urnas em 2002.


Tudo começa com a vinda de Dona Lindu (Glória Pires), mãe de Lula, e os filhos para Santos (SP) num pau-de-arara em 1950. Ela reencontra o marido, Aristides (Milhem Cortaz), um homem alcoólatra e violento, que não quer as crianças estudem. Cansada de tanto sofrimento, a matriarca da família Silva decide ir para Vila Carioca em São Bernardo do Campo em busca de um futuro melhor.


Dona Lindu fica ao lado de Lula nos momentos mais dramáticos de sua vida, desde o acidente no torno mecânico até a perda da primeira esposa e do filho no parto. A matriarca não queria que Lula se envolvesse com sindicato, mas, aos poucos, ele se torna um líder entre os metalúrgicos. Nesta época, ele conhece Marisa Letícia (Juliana Baroni) e os dois acabam se casando.


Trata-se de um filme bem realizado, de bela fotografia, trilha sonora que dita o ritmo e o mais impressionante são as passagens de tempo que acontecem de maneira sutil. Outra boa solução é alternar imagens ficcionais com reais para retratar a greve geral dos metalúrgicos do ABC em março de 1979, aliás, é uma das melhores sequências do longa.


Rui Ricardo Diaz, que interpreta Lula adulto, se esforça para fugir da caricatura, na maioria das vezes, até consegue, porém, quando a língua presa vem à tona soa cômico. Isso não compromete o desempenho do ator, que tem carisma e dá conta da carga dramática do personagem. Mas quem rouba a cena é Glória Pires, que encarna com maestria Dona Lindu, uma mãe batalhadora e conselheira, a grande mulher por trás do mito.


Depois de fracassos como Bela Donna (1998) e A Paixão de Jacobina (2002), Fábio Barreto tenta salvar a carreira com uma cinebiografia de respeito, apesar de omitir alguns fatos importantes. Para mostrar credibilidade e isenção, os produtores do filme não recorreram a leis de incentivo. Mesmo sem dinheiro público, Lula, o filho do Brasil conta com uma lista extensa de patrocinadores privados, entre eles, empresas que costumam fazer doações para o PT.


Quem leu nos últimos meses os comentários sobre Lula, o filho do Brasil, imaginou que o filme não passasse de propaganda de governo. A má vontade dos “críticos” não é com o longa em si, mas com a figura do protagonista. A ascensão de Lula ainda causa aversão em muitos formadores de opinião, isso fica evidente em algumas críticas, que nada têm a haver com aspectos cinematográficos.