domingo, 28 de dezembro de 2008

Top 10 Cinema Nacional

Fim de ano combina com as famosas listas dos melhores e piores de 2008. A seguir, o ranking do cinema brasileiro, segundo este apreciador de filmes nacionais:

1- Estômago
2- Linha de Passe
3- Nome Próprio
4- Ensaio sobre a Cegueira
5- Chega de Saudade
6- O Signo da Cidade
7- Vingança
8- Meu nome não é Jhonny
9- Última Parada 174
10- Feliz Natal

Concorda? Algum filme ficou de fora? Então, deixe seu comentário!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A "imparcialidade" da Veja

Quatro meses e mais de uma centena de depoimentos depois, o inquérito da PF que apura o grampo ilegal de conversas do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, chega ao fim do ano sem provas de autoria nem vestígios do áudio cuja transcrição divulgada pela revista ''Veja'' resultou no afastamento do diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Paulo Lacerda.

O inquérito está nas mãos da Justiça, que analisa o pedido de prorrogação feito pelos delegados Rômulo Berredo e William Morad. A tendência é que a investigação ganhe sobrevida de 30 dias, mas, ainda assim, na PF poucos acreditam que ela chegue aos culpados.

A dificuldade de se comprovar a existência do áudio coloca em dúvida a veracidade da informação divulgada pela revista Veja. A revista, escorada na desculpa do ''sugilo da fonte'', recusa-se a dizer onde e através de quem conseguiu a suposta gravação. Também nega-se a fornecer o original que recebeu.

Diante de tanta relutância, não será surpresa se a investigação da PF concluir que a revista forjou a matéria e mentiu com objetivos inconfessáveis. Não seria a primeira vez que a revista da família Civita seria flagrada mentindo aos seus leitores. Reportagens como a dos dólares cubanos engarrafados e a suposta ajuda do PT às Farc são apenas dois dos casos conhecidos em que a revista usou informações sabidamente falsas para tentar criar fatos políticos.

No caso do suposto grampo no STF, não faltam motivos para a Veja fabricar a matéria. Basta lembrar que foi o ministro Gilmar Mendes quem concedeu, por duas vezes e em prazo recorde, habeas corpus que mantiveram o banqueiro Daniel Dantas longe das grades. O mesmo Daniel Dantas é acusado de subornar jornalistas da grande imprensa para que atuassem a seu favor. Um dos colaboradores da revista Veja, Diogo Mainardi, é apontado como um dos porta-vozes dos interesses de Daniel Dantas na mídia.

Informações do site Vermelho

sábado, 20 de dezembro de 2008

Barrigas do ano

No jargão jornalístico, "barriga" significa a publicação de uma notícia falsa ou imprecisa. Ao longo de 2008, a mídia brasileira cometeu alguns erros memoráveis nesse quesito. Veja alguns:

Febre amarela
Durante a cobertura sobre a epidemia de febre amarela no começo do ano, a imprensa supervalorizou dados da doença e incentivou a vacinação de toda população, contrariando especialistas que recomendavam o procedimento somente para pessoas que viajassem para áreas de risco. A desinformação causou filas enormes nos postos de saúde. O episódio ainda teve uma vítima fatal, uma mulher que morreu após ser vacinada desnecessariamente.

Caso Eloá
Alguns veículos de comunicação divulgaram precipitadamente a morte da garota Eloá que foi mantida em cativeiro por seu ex-namorado na cidade de Santo André (SP). A adolescente só viria a morrer horas depois da divulgação. Além disso, a mídia num primeiro momento "comprou" a versão oficial da polícia de que a invasão ao apartamento só ocorreu após disparos de Lindemberg, idéia negada por Nayara que também ficou na mira do criminoso durante o sequestro.

Crise econômica
A imprensa brasileira divulgou que 2008 seria marcado como o ano da "lembrancinha" como efeito da crise econômica global. Pessimistas, jornais chegaram a falar em recessão, pátios lotados e demissão em massa. No entanto, os números surpreenderam, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 6,8% no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, além disso, as vendas no comércio batem recordes, frustrando muitos analistas que apostavam na inibição do consumo.
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O fetiche da velocidade, o sensacionalismo ou até mesmo os interesses políticos e empresariais de alguns veículos de comunicação ajudam a explicar essas e outras barrigas da mídia brasileira.
A sociedade espera que os profissionais da comunicação tenham maior rigor na divulgação de uma notícia, na análise de um cenário e nas especulações quanto ao futuro. Como formadores de opinião, os jornalistas precisam fazer uma autocrítica, avaliando o efeito daquilo que publicam na vida das pessoas. Que 2009 seja um ano menos "barrigudo" em relação ao trabalho da imprensa.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Um filme com a marca do diretor

A grande e única ironia de Feliz Natal, filme de estréia de Selton Mello, é seu título. No longa de estréia do ator e agora diretor sobra melancolia. Um drama familiar que mostra que o passado pode deixar feridas difíceis de serem cicatrizadas. A história que num primeiro momento parece uma crítica à superficialidade das comemorações de final de ano, se revela um ensaio sobre os conflitos das relações humanas.

Clique aqui para conferir na íntegra

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Programação infantil é precária nas TVs abertas

Brasil despreza leis para conteúdo infantil na TV

Laura Mattos

As emissoras abertas brasileiras investem cada vez menos na programação infantil, que tem se concentrado nos canais pagos, restritos às classes econômicas mais privilegiadas. No Brasil, investir ou não nesse tipo de conteúdo é uma decisão das redes, uma vez que não há nenhuma lei para regulamentar faixas da programação dirigidas às crianças.

Essa é uma das lacunas da legislação brasileira na proteção da infância e adolescência, de acordo com um estudo realizado pela Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância).O levantamento foi apresentado hoje pelo secretário executivo da instituição, Veet Vivarta, no Fórum Global para Desenvolvimento da Mídia, na Grécia

Por um ano, a Andi mapeou, em 14 países da América Latina, leis e projetos de lei que abordam a relação entre os meios de comunicação e o direito de crianças e adolescentes. Em seguida, comparou com a legislação da Suécia, considerada modelo mundial nessa área, com um sistema regulatório implementado há quase cem anos. Concluiu que, apesar de o continente não viver um "vazio regulatório", não há nada "tão coeso" como na Suécia, principalmente por serem raros na América Latina órgãos reguladores independentes.

No Brasil, além da programação infantil, não há leis que regulamentem o trabalho de menores em meios de comunicação -só a Argentina possui esse tipo de norma. Também não está contemplada na legislação brasileira a publicidade dirigida à criança, como acontece no México e no Paraguai.

O estudo constatou não existir, em nenhum dos 14 países, cotas para exibição de desenhos animados nacionais nem para a garantia de veiculação de produções regionais.

O Brasil se destaca na classificação indicativa dos programas. Recém-implementada, é considerada "a mais completa". Em comum entre os países há o fato de a TV ser o principal meio de informação e de emissoras públicas e educativas serem pouco representativas.

sábado, 6 de dezembro de 2008

A mídia e os direitos humanos

No próximo dia 10, comemoram-se 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, instituída pela ONU, em 1948, entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o início da Guerra Fria. Muitos avanços foram alcançados ao longo desse tempo, mas ainda hoje a humanidade convive com trabalho infantil, opressão, intolerância religiosa, perseguição à minorias, racismo, fome, tortura, genocídios, entre outros atentados contra a dignidade e a paz.

Diante dessa realidade, o que a mídia vem fazendo para a defesa e promoção dos direitos humanos?

Muitas vezes, é disseminada nos meios de comunicação a idéia de que os direitos humanos só servem para proteger bandido. No entanto, eles existem justamente para assegurar a igualdade e a justiça entre as pessoas, independente de raça, credo, escolaridade ou conta bancária. Ter acesso à educação, assistência social, saúde, moradia, emprego e cultura é um direito de todos que o Estado não pode negligenciar a ninguém.

A imprensa deve denunciar qualquer tipo de violação dos direitos humanos, exigindo que o poder público faça cumprir a Declaração Universal. Por outro lado, a mídia, como espelho da sociedade, precisa oferecer uma programação que não agrida a dignidade humana. Não adianta mostrar o trabalho escravo durante o Jornal Nacional e promover o preconceito religioso na novela das oito.

sábado, 29 de novembro de 2008

A comunicação a serviço da solidariedade

Em questões de segundos, um estado soterrado. Milhares de lares destruidos. Mais de cem mortos. Cerca de 80 mil desabrigados. Muitos desaparecidos. Famílias arruinadas. Uma catástrofe com prejuízos incalculáveis. O dilúvio que arrasou Santa Catarina criou um cenário desolador de caos e sofrimento. As imagens da tragédia chocaram tanto a sociedade brasileira que uma grande rede solidária se formou no país para ajudar as vítimas e reconstruir as cidades atingidas.
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Nesta semana, telejornais e programas foram transmitidos ao vivo dos locais da tragédia. Mesmo com os excessos de praxe, os meios de comunicação souberam canalizar a comoção coletiva, promovendo e incentivando a doação de dinheiro, alimentos, remédios, brinquedos e água para os desabrigados. Sensacionalista ou não, a mídia se comportou como um verdadeiro instrumento de mobilização social, capaz de sensibilizar desde empresários até alunos da pré-escola.
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Essa tragédia mostrou que o país se une em torno do lamento e da solidariedade. Numa época em que a sociedade está cada vez mais individualista, ver tantos voluntários ajudando as famílias do Vale do Itajaí é uma demonstração que o mundo ainda jeito. Nesse aspecto, a mídia tem um papel fundamental, divulgando essa "onda solidária" para os quatro cantos. Se isso dá audiência ou vende jornal é outra conversa.

sábado, 22 de novembro de 2008

Um thriller à brasileira

Vingança, do diretor e roteirista Paulo Pons, mostra como fazer cinema com pouco dinheiro no Brasil. Com um modesto orçamento de R$ 80 mil, o longa é uma boa opção frente aos blockbusters. Câmera nervosa, história intrigante e elenco afinado são elementos que minimizam qualquer problema de produção.

A história começa numa cidade do interior do Rio Grande do Sul onde a jovem Camila (Barbara Borges) é violentada. Ela é uma lembrança viva na cabeça de Miguel (Erom Cordeiro), um enigmático rapaz que chega ao Rio de Janeiro e inicia um relacão inusitada com a espevitada Cris (Branca Messina), irmã de Bruno (Marcio Kieling), que passa férias na capital carioca e guarda um grande segrado.

As atuações dos protagonistas surpreendem. Erom se destaca pelo olhar melancólico e misterioso. Branca por sua naturalidade e doçura. Já Bárbara, convence em suas cenas de intensa dramaticidade. José de Abreu faz uma pequena, mas marcante participação como o pai da menina estrupada. Um legítimo gaúcho, querendo lavar a honra da filha com sangue.

Se Vingança tem uma trama envolvente e bem construída, o desfecho é um pouco frustrante, mas não a ponto de comprometer o filme. Alternando momentos de suspense e de sonolência, o longa está seguramente entre as melhores produções nacionais do ano, justificando a indicação ao Festival de Gramado.

Vingança é fruto do programa Pax/Riofilme para longas de baixo orçamento que prevê a realização de mais três trabalhos. Mas pouco dinheiro significa dificuldades com divulgação. Lançado somente em 12 salas de exibição, o filme de Paulo Pons conta apenas com a propaganda boca-a-boca e a internet para levar o público ao cinema.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

De que consciência estamos falando?

Vinte de Novembro, Dia da Consciência Negra, uma data simbólica para os afro-brasileiros que foram oprimidos durante séculos e ainda hoje sofrem com o preconceito racial e as desigualdades sociais. É o momento de celebrar a memória de Zumbi dos Palmares, líder quilombola morto brutalmente em 1695.
Apesar de todo o significado, observa-se que a cobertura sobre o Dia da Consciência Negra é burocrática, mostrando atos e eventos pontuais. Na realidade, fica a impressão que se trata de mais um feriado daqueles que ninguém sabe por que existe. É preciso dedicar um espaço maior na mídia para a data, resgatando a história e a cultura africana.
Aproveitando o "gancho", os meios de comunicação poderiam promover uma campanha anti-racista no país, repudiando toda e qualquer forma de preconceito. Além disso, é oportuno comentar sobre o fosso social que ainda divide brancos e negros no que se refere ao acesso à educação, saúde, emprego e renda. Essas informações contribuiriam muito para justificar a data como um dia de luta e resistência e, não somente como mais um feriado para ir à praia.
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Leia mais sobre o negro na mídia:

sábado, 15 de novembro de 2008

Uma exibição que não é brincadeira

Recentemente, um vídeo com cenas de uma menina de 15 anos sendo violentada por três jovens numa festa foi colocado na internet. O caso ocorrido em Joaçaba (SC) chocou tanto pelo estupro como pela audácia dos criminosos em divulgar as imagens na web. Este fato é uma amostra assustadora da "sociedade do espetáculo" em que vivemos.
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A necessidade de exibicionismo marca essa geração conectada que não vive sem celular ou câmera digital. Não basta viajar com amigos, é preciso tirar várias fotos e postá-las no Orkut. Não basta ir ao show de música, tem que registrar a curtição e publicá-la no Youtube. Parece que disponibilizar as imagens na internet é mais importante do que viver o momento em si.
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Nessa concepção, um fato para ter valor de verdade é preciso que seja exibido na web ao alcance de todos. No caso da menina de 15 anos, o grande "lance" para os rapazes não era somente o estupro, mas mostrar ao mundo o que foram capazes de fazer. Essa atitude conta com a audiência de milhares de internautas que agem como verdadeiros voyeurs.
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É preciso criar leis rígidas contra a publicação de imagens e vídeos que promovam qualquer forma de violência. Além disso, os sites deveriam ter maior controle no que se refere ao conteúdo divulgado pelas pessoas. A internet não pode ser um espaço conivente com o crime. Apesar dos holofotes, nem tudo que vai ao ar é espetáculo.

sábado, 8 de novembro de 2008

A cor da discórdia

Moreno. Mulato. Preto. Mestiço. Afinal, como pode ser definido o presidente eleito dos EUA, Barack Obama? Filho de um queniano negro de origem muçulmana e uma norte-americana branca, o novo homem forte da Casa Branca causa polêmica quando o assunto é a sua etnia.

Muitos ativistas do movimento afro-americano vêem Obama como sucessor de Martin Luther King, grande ícone da luta contra o racismo, assassinado em 1968. Já a Ku Klux Klan, organização xenofóbica que prega a supremacia branca, considera o presidente democrata só metade negro, uma vez que foi criado num ambiente familiar de brancos.

O sociólogo Demétrio Magnoli comenta que a imprensa errou ao estampar a manchete "Eleito o primeiro presidente negro dos EUA". Segundo ele, o democrata se apresentou como candidato pós-racial. É verdade que mesmo convivendo com o preconceito na infância e na juventude, Obama não compartilha dos mesmos ideais do reverendo Jesse Jackson, líder americano dos direitos civis, defensor de ações reparatórias.

Em nenhum momento da campanha presidencial, Obama se colocou como candidato negro. Até porque esse posicionamento poderia afugentar o voto de 85% do eleitorado norte-americano que é branco. O democrata não defende bandeiras históricas e exclusivas da população negra. Não costuma falar de raça nem de cotas.

As referências de alguns chefes de Estado a Obama também são curiosas. O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, afirmou que ele é "bonito, jovem e bronzeado". Já Hugo Chavez, presidente da Venezuela, disse esperar que "a eleição de um afrodescendente marque o início de novas relações com Washington".

Mesmo criado por brancos, formado em uma instituição como Harvard, é inegável que a cor da pele de Obama é negra. Mais clara, menos escura, não interessa. Este é o seu fenótipo. A manchete dos jornais está correta. No entanto, ele parece acima dessa questão étnica. Apesar de simbólica, sua vitória representa mais um avanço da democracia do que a ascensão de um povo.

Independente de ser negro ou não, o novo presidente dos EUA já entrou para a história como um fenômeno mundial, de Wall Street à Nairóbi passando por Tóquio. Ele hoje encarna a figura do salvador, aquele que pode acabar com o colapso financeiro, retirar as tropas americanas do Iraque e, quem sabe, revogar o embargo à Cuba. Agora é torcer para que essa expectativa não seja frustrada.

sábado, 1 de novembro de 2008

Somos uma nação colonizada?

Para provocar:

* Porque os brasileiros celebram o Halloween, uma festa tipicamente norte-americana? O Dia do Saci, comemorado na mesma data, não mereceria um destaque maior por se tratar de um patrimônio da cultura nacional?
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* Porque o telejornal de maior audiência do Brasil destina quase uma edição inteira para cobertura da eleição presidencial norte-americana? O pleito municipal, que afeta diretamente a vida do cidadão brasileiro, não deveria ter o mesmo tratamento?
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* Porque os brasileiros lotam os cinemas para assistir o filme High School Musical 3, fenômeno pop norte-americano, em detrimento das produções nacionais, como o nosso representante na corrida pelo Oscar, o longa Última Parada 174?
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Algumas respostas são lógicas, outras nem tanto. A globalização, o processo histórico, enfim, muitas são as razões para esse comportamento do povo brasileiro. Mas, às vezes, a impressão é que vivemos numa colônia dos EUA, submissa e condicionada ao modo american life.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Uma história requentada

Para emplacar, Última Parada 174 de Bruno Barreto tem que superar três grandes desafios. O primeiro é convencer o público que não se trata de mais um longa do gênero “favela movie”. O segundo é contar uma nova história de um tragédia amplamente conhecida. O último, e não menos complicado, é justificar a sua escolha para representar o país na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Clique aqui para ler na íntegra

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A tragédia e o espetáculo midiático

Uma obsessão temática. É assim que a mídia contemporânea trata a violência. A cobertura sobre o sequestro das garotas Eloá e Nayara em Santo André é mais um triste exemplo dessa realidade. Neste caso, todos os limites éticos e do bom senso foram ultrapassados. Na busca frenética por índices de audiência, as emissoras de TV comprometeram de forma crucial o trabalho da polícia, contribuindo muito para o desfecho tão trágico. A loucura de um psicopata e a angústia de uma família foram transformadas em um verdadeiro espetáculo midiático transmitido em cadeia nacional.

Entre os equívocos cometidos pela mídia, o maior deles foi glamourizar a figura do sequestrador Lindemberg. Um desses programas da tarde chegou a conversar ao vivo com ele, assumindo um papel de negociador que cabia exclusivamente à polícia. Outra apresentadora teve a coragem de pedir um "tchauzinho" ao criminoso. Alguns comunicadores fizeram apelos no ar pela libertação das garotas. No entanto, nenhum canal avaliou que essas atitudes apenas reforçavam o momento de celebridade do ex-namorado de Eloá. Não é à toa que ele se sentia o "príncipe do gueto", como revelou o depoimento de Nayara.

Os meios de comunicação precisam fazer uma autocrítica depois desse episódio. Será que a cobertura repetitiva e desumana desse sequestro não é em si uma violência? O fato precisava ser informado, mas a tragédia não deveria ser explorada de uma maneira tão sensacionalista. Durante a cobertura, a mídia poderia ter um caráter propositivo, promovendo discussões sobre temas relacionados à juventude e afetividade, ao diálogo com pais ou mesmo sobre a importância da doação de órgãos.

Mas nenhum veículo se arrisca a fugir do lugar-comum, é como se todos seguissem o mesmo manual. A lógica da audiência impede que a mídia aprofunde questões importantes que a própria tragédia revela. Como o professor de comunicação da PUC-SP Norval Baitellho Jr explica na Folha de S. Paulo, "o fetiche da informação a qualquer custo não passa de espetacularização".

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A mídia paulistana é anti-PT?

O locutor pergunta:
“Você sabe mesmo quem é o Kassab?

Sabe de onde ele veio?
Qual a história do seu partido?
De quem foi secretário e braço direito?
De quem esteve sempre ao lado, desde que começou na política?
Se já teve problemas com a justiça?
Se melhorou de vida depois da política?
É casado? Tem filhos?
Já que ele não informa nada, não é mais prudente se informar melhor sobre ele?"

As perguntas em negrito fazem alusão à homossexualidade? Sinceramente, acho que não. Mas a maioria dos formadores de opinião considera que esse tipo de questionamento veiculado na propaganda eleitoral da candidata Marta Suplicy (PT) tem conotação discriminatória.

A mídia, que até agora disfarçava sua predileção, escancarou seu posionamento depois do polêmico comercial. Os jornais e sites repercutem o caso incansavelmente, entrevistando grupos GLBTT, políticos e sociólogos a fim de comprovar a tese que a campanha petista foi preconceituosa ao levantar tais insinuações. A imprensa em geral adotou um discurso que vitimiza o prefeito e condena a ex-ministra.

Realmente, ser casado e ter filhos são informações irrelevantes se forem comparadas com a trajetória política de cada candidato. Creio que essas perguntas de ordem pessoal mostram mais o nível de desconhecimento do eleitor em relação ao atual prefeito do que dúvidas quanto a sua opção sexual. Essa polêmica tomou conta do debate programático, esvaziando qualquer análise aprofundada das propostas dos candidatos para as áreas da saúde, educação, transporte, cultura, entre outras. Isso acaba favorecendo quem está na frente das pesquisas, no caso Kassab.
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P.S: A revista Veja dessa semana traz na Carta ao Leitor o editorial O povo não é bobo. Nele, a publicação comenta sobre o resultados das eleições municipais, destacando o desempenho de Kassab e afirmando que a população votou nos melhores, independente do partido. O texto é acompanhado por uma foto do prefeito com a legenda "Gilberto Kassab, de São Paulo: exemplo de que a maioria dos brasileiros sabe, sim, votar". Agora, não há dúvida de que lado está a revista do grupo Abril. Pelo menos, não disfarça essa manifestação de apoio de matéria jornalística isenta.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Uma crise difícil de entender

O mundo está assustado com a crise que atinge todos os mercados financeiros. Nunca se ouviu falar tanto de commodities, circuit-breaks, câmbio, risco-país, Nasdaq, Dow Jones, entre outros termos. Para explicar o fenômeno que está derrubando as bolsas, a mídia abusa do economês, confundindo a maioria das pessoas, que não faz idéia do significado dos gráficos mostrados na TV e nos jornais.
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Na verdade, o público quer saber as reais dimensões dessa crise. Será que vai prejudicar a criação de empregos no país ou gerar a disparada dos preços nos supermercados? A oferta de crédito está comprometida? São essas questões que a mídia precisa responder, traduzindo o discurso dos analistas financeiros para uma linguagem acessível a todas classes sociais. Assim, não basta informar que os EUA criarão pacotes de socorro aos bancos falidos, o importante é saber o quanto isso vai influenciar o mercado interno brasileiro.
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Quando o assunto é economia, os meios de comunicação devem ser quase didáticos para tornar a informação clara e prática. Quem prefere um conteúdo mais aprofundado, deve procurar publicações e veículos especializados. Dessa forma, ao falar de risco-Brasil, é preciso explicar que quanto maior esse índice, menor é a confiança do investidor externo nas finanças brasileiras, ou seja, pior para o desenvolvimento do país.
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P.S: A mídia pode apontar várias causas para esse colapso global, mas a principal delas é ignorada: o fracasso do capitalismo como modelo econômico. O exemplo norte-americano de estabilidade acabou, o império está ruindo, provando que hegemonias também têm prazo de validade.

sábado, 4 de outubro de 2008

Além da grande mídia (*)

Por que ler Caros Amigos, Brasil de Fato e Carta Capital?

Caros Amigos é uma revista mensal que há mais de dez anos é um alimento sério e um contra-veneno para as intoxicações da chamada grande mídia ou, mais concretamente, a mídia empresarial, patronal, corporativa ou simplesmente burguesa. É um apanhado do mês que traz informações, fatos e dados que esclarecem o que, às vezes, ficou confuso ou incompreendido durante o período. Traz uma visão crítica, de esquerda, que é a antítese da versão e do enfoque que a direita vomita diariamente sobre a cabeça dos caros ouvintes, caros leitores, ou mais ainda caríssimos telespectadores.

Brasil de Fato é uma publicação de esquerda que a cada semana trata de vários temas centrais e atuais no debate político. Serve como um desinfetante contra a mídia que está do outro lado, o lado patronal, o lado do capitalismo, seja ele financeiro, industrial, comercial, nacional ou internacional. É uma publicação plural que abriga, em suas fileiras, desde bispos a tradicionais comunistas de vários partidos: do PCB, PCdoB, PSTU, PSOL, PT, PDT ao PSB. Reúne desde ativistas militantes de vários movimentos sociais, com destaque para o MST, que é a alma do semanário, a renomados professores, comunicadores e cientistas políticos. Dele participam ativistas ambientalistas, feministas, lutadores pelos direitos humanos e, especificamente, o direito de os trabalhadores construírem sua sociedade.

O fio condutor do Brasil de Fato é a construção de outra sociedade, com nome e sobrenome: uma sociedade socialista. Uma alternativa a esta sociedade capitalista neoliberal.

CartaCapital não é uma revista de nenhum grupo ou partido de esquerda. Definiria como uma revista social-democrata assumida. Como tal, não aceita a sociedade e as injustiças por ela produzidas. Combate e apresenta sempre outra versão da comunicação truncada, distorcida ou simplesmente falsificada que a sociedade produz para se sustentar. Com extrema clareza e coragem, fustiga o sistema e seu aparato de divulgação e sustentação ideológica, a mídia. Sua marca, até hoje, tem sido a independência e a distância do poder. É riquíssima em informações, dados e fatos que só ela conhece, investiga e publica, sem medo. É uma ferramenta essencial para quem quer agir e mudar este mundo.

Essas três publicações não podem faltar na bolsa, sacola, mesa ou nas mãos de todo lutador por uma nova sociedade. Ler estes três veículos não é uma opção. É uma condenação. Sem eles é como brincar de cabra cega. Em tempo: essa condenação é um enorme prazer, como o nascer do sol após uma noite sem lua.

(*) Por Vito Giannotti, no Boletim do Núcleo Piratininga de Comunicação

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Quando a simplicidade emociona


Um drama na acepção da palavra. Urbano, contemporâneo e desolador. Assim pode ser definido Linha de Passe, filme dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas, que retrata o cotidiano de uma família da periferia de São Paulo. Cleusa e seus quatro filhos tentam não perder a esperança na vida, mesmo diante de todas as dificuldades. A paixão nacional pelo futebol serve de pano de fundo para a trama.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A farsa da imparcialidade nas eleições

Segue um trecho da coluna do jornalista Ricardo Kotscho
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(...) Não sei quem teve a idéia numa reunião com Octavio Frias de Oliveira, mas o dono do jornal a aprovou no ato: cada repórter deveria escrever um artigo para a edição dominical da semana anterior à eleição, informando em quem iria votar e por quais motivos.

Os principais jornais norte-americanos já adotavam esta prática havia muito tempo, declarando apoio explícito a um ou outro candidato, mas aqui no Brasil foi um espanto. Apesar da minha declaração de voto, Lula ficaria em terceiro ou quarto lugar(*). Jornalistas não são tão influentes, como muitas vezes pensam os chamados formadores de opinião, mas também têm o direito de revelar suas preferências a exemplo de qualquer cidadão.

A duas semanas das eleições municipais de 2008, os repórteres já não sofrem tantas pressões e cobranças como no tempo dos “luas pretas”(**). A democracia faz parte da nossa rotina e não há motivos para fazer de conta que somos apartidários, imparciais, neutros, meros observadores da campanha que entra em sua reta final. (...)
(*) eleições para governador de 82 (**) marqueteiros
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A isenção jornalística é um princípio bastante proclamado pelos órgãos de imprensa, porém, impossível de ser alcançado. Para o público, é melhor conhecer o voto de um jornalista de maneira transparente do que ver matérias aparentamente informativas e imparciais, mas que nas entrelinhas estão direcionadas para favorecer ou prejudicar determinado candidato.
O processo democrático brasileiro precisa avançar nesse sentido. O jornalista, com seu posicionamento político devidamente manifestado, só não pode ser panfletário no veículo em que trabalha. Fica aí o exemplo do bom e velho Kotscho, petista que vota no PSDB.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A mídia nos tempos da sustentabilidade

Nos últimos anos, a agenda ambiental vem ganhando espaço na pauta da mídia. Mas questões como desenvolvimento sustentável, consumo consciente, aquecimento global, desmatamento, entre outras, estão sendo devidamente abordadas? O que se observa é que o tratamento da imprensa sobre esses assuntos oscila entre o alarmismo, a superficialidade e a falta de contextualização.
Um exemplo disso ocorre geralmente quando os números do desmatamento na Amazônia são divulgados, o espectador em casa não sabe dimensionar o impacto dos índices apresentados. Além disso, é preciso informar que nem todo corte de madeira é simplesmente devastação. Para evitar controvérsias, a mídia deve confrontar os dados oficiais com os das entidades não governamentais.
Aliás, o debate na mídia em relação às questões ambientais é dominado pela visão dos técnicos e dos políticos. É preciso ampliar a discussão, escutando ativistas, comunidades locais, trabalhadores rurais, fazendeiros, índios, enfim, todas as partes interessadas.
Alguns fatos recentes, como a polêmica da transposição do Rio São Francisco e a batalha judicial da reserva Raposa/Serra do Sol, mostram que a imprensa faz questão de ressaltar o lado sensacionalista da situação. Do ponto de vista jornalístico, é natural retratar a greve de fome do bispo, mas a ênfase deveria ser na análise do projeto.
Os meios de comunicação podem contribuir efetivamente com a causa sustentável, basta abrir espaço para a educação ambiental em seus veículos, mobilizando dessa forma os cidadãos para a coleta seletiva do lixo, a manutenção de áreas verdes, a busca de formas alternativas de energia, o uso racional dos recursos não-renováveis, entre outras ações positivas com o planeta.
O meio ambiente deve ser pauta obrigatória na mídia e não apenas lembrado em datas especiais, como no "singelo" dia da árvore.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A cegueira nossa de cada dia

Acabei de ler Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, e o sentimento é que de fato somos cegos que vêem. Vemos, mas não enxergamos o mundo e as pessoas como são realmente. A cegueira metafórica do livro nos angustia por mostrar o ser humano no seu estado natural, ou melhor, selvagem, sem regras de civilidade. O caos faz o homem ser tão animal como qualquer outra espécie. Essa realidade não está tão longe dos centros urbanos, onde uma simples discussão de trânsito pode acabar em morte.

Toda essa reflexão só aumenta a ansiedade em torno do filme do diretor brasileiro Fernando Meirelles. Adaptar Ensaio sobre a Cegueira para o cinema é uma grande responsabilidade. O longa estréia na sexta (dia 12) cercado de muitas expectativas. A maior delas é se a sensação de nó na garganta do livro será reproduzida nas telonas.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O desafio do cinema tupiniquim

Os Desafinados, de Walter Lima Jr., estreou no último dia 29
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O perfil do freqüentador brasileiro de cinema foi traçado em pesquisa encomendada pelo Sindicato dos Distribuidores do Rio de Janeiro ao instituto Datafolha, que ouviu 2.120 pessoas em dez cidades brasileiras no fim do ano passado.

Em abril deste ano, a pesquisa foi aprofundada com um grupo de consumidores, na chamada fase qualitativa.

A pesquisa identificou o que desagrada os espectadores que afirmaram não gostar da produção nacional. O tema dos filmes foi a resposta de 80% dos freqüentadores de cinema.

A segunda resposta mais freqüente (32%) aponta que "os filmes são pornográficos, com baixarias, palavrões, vocabulário vulgar"; 20% acham que "os temas/roteiros não têm conteúdo, começo, meio e fim".

Esse estudo mostra que o cinema nacional ainda precisa superar alguns estereótipos, remanescentes da pornochanchada. Parece que a produção brasileira é monotemática, predominando temas como a criminalidade e a pobreza. Mas, na realidade, essa impressão se deve à cobertura da mídia que prioriza longas com essas histórias.

É inegável que o cinema brasileiro evoluiu muito nos últimos tempos, a maior prova disso é o reconhecimento internacional como recentemente aconteceu nos festivais de Cannes e Berlim. No entanto, isso não garante "casa cheia", nem salas de exibição. O público se acostumou com o padrão hollywoodiano e tem dificuldades de aceitar o experimentalismo e a criatividade de nossas produções.

Num ano de queda, o único filme brasileiro que passou da marca de um milhão de espectadores, foi Meu Nome não é Johnny que estreou nas férias de janeiro e teve uma ampla divulgação da Globo Filmes. Alguns lançamentos previstos ainda para 2008, como Os Desafinados, Linha de Passe, Romance e Última Parada 174, têm potencial para alcançar uma boa bilheteria. Entretanto, se não conseguirem, que, pelo menos, ajudem a mudar esse consenso do público em relação às produções nacionais, afinal, a era da pornochanchada já passou há muito tempo.

sábado, 23 de agosto de 2008

Candidatos pasteurizados

O festival de promessas está de volta. Na última terça-feira, começou o horário eleitoral gratuito na TV e no rádio. De dois em dois anos, a história se repete: planos mirabolantes, discursos demagógicos, "musiquinhas" pegajosas, números superestimados, visuais recauchutados, tudo em nome de uma eficaz estratégia de marketing político para convencer o público.

Muitos marqueteiros acreditam que o resultado de uma eleição pode ser decidido pelo horário eleitoral. Mas basta assisti-lo por alguns minutos para observar que os candidatos estão cada vez mais parecidos, dificultando qualquer tipo de distinção entre eles. O modelo consagrado do "eu prometo" predomina descaradamente em todos os partidos. Não importa a viabilidade ou o custo do projeto, o que interessa é criar uma marca registrada no imaginário do eleitor.

Para coibir o estelionato eleitoral, seria interessante que todos os postulantes aos cargos de prefeitos e vereadores assinassem um documento em que se comprometeriam em cumprir as propostas defendidas na TV e no rádio. No entanto, enquanto esse termo não é assumido, os eleitores terão que garimpar bastante na busca de um candidato ideal.

O horário político pode até ajudar alguns candidatos, mas o formato que possui hoje, só causa aversão no eleitor, amplificando a idéia de que todos são iguais e que a política brasileira valoriza a embalagem em detrimento do conteúdo.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Um país conectado

Especialistas estimam que, na virada do ano, metade da população brasileira, ou mais de 90 milhões de indivíduos, terá, de alguma maneira, acesso à internet, seja em casa, no trabalho, no celular, seja em locais públicos. Quando se pensa apenas em usuários domésticos, os números são mais modestos. Pesquisa do Ibope Monitor, que leva em conta apenas as residências, mediu 22,9 milhões de usuários.

O Brasil, segundo a ONG norte-americana Internet World Stats, mantém um dos ritmos mais fortes em todo o mundo de crescimento do acesso. Entre 2000 e junho de 2008, o número de novos conectados cresceu 900%.

Uma pesquisa recente do Datafolha contabilizou que 47% dos brasileiros já têm acesso à internet. Há outros dados surpreendentes:

- Somos o país no qual os usuários passam mais tempo conectados por mês. São mais de 22 horas mensais, ante 20 horas da França e 17,5 na Alemanha.

- Brasileiros alavancam febres na internet, como a do Orkut e a do Second Life. Estima-se que 27 milhões de nativos naveguem pelo Orkut, o mais popular site de relacionamentos da rede.

- O Brasil chegou aos 50 milhões de computadores no ambiente doméstico e corporativo, segundo a Fundação Getulio Vargas.

- No último dia 5 de agosto, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) divulgou a previsão de venda de computadores em 2008: 13 milhões de unidades. Com os atuais 50 milhões de máquinas, o País tem uma média de 26 computadores para 100 habitantes, valor superior à média global, de 21 equipamentos para cada centena.


Informações: Revista Carta Capital

Para Refletir: Será que esse avanço digital resultará em mudanças significativas na difusão do conhecimento e na participação de novos atores sociais? Não é contraditório um país com milhões de analfabetos funcionais, que mal sabem sacar dinheiro no caixa eletrônico, ter um índice tão grande de conectividade?

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Manifesto pela Conferência Nacional de Comunicação

A Comissão Pró-Conferência Nacional de Comunicação está empenhada, juntamente com diversas entidades, na coleta de assinaturas em defesa da convocação, pelo Governo Federal, da I Conferência Nacional de Comunicação. O abaixo assinado tem o intuito de pressionar o governo para que seja conclamada a conferência, levando em consideração que mais de 50 conferências setoriais já aconteceram.

Esse espaço é de suma importância para que a sociedade discuta e delibere no que diz respeito às políticas públicas e o novo marco regulatório do setor das comunicações no Brasil.

O Movimento Pró-Conferência Nacional de Comunicação surgiu oficialmente em junho de 2007, no final do Encontro nacional de Comunicação. Hoje é composto por cerca de 30 entidades da sociedade civil de caráter nacional, pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDMH) e pelo Ministério Público Federal.

Sua participação e empenho podem contribuir para o avanço na conquista pela democratização dos meios de comunicação.

Leia a nota oficial do Movimento Pró-Conferência Nacional de Comunicação, lançada em 19/03/08, acessando o link http://www.proconferencia.com.br/nossaproposta.htm.

Para assinar, basta seguir os seguintes passos:

1) Acesse o síte http://www.petitiononline.com/pcom2009/
2) Clique no botão: "Click here to Sign Petition"
3) Preencha seus dados
4) Clique no botão: "Preview your signature"

Pronto. Você ajudou na consolidação da democracia brasileira.

Ajude a divulgar o abaixo assinado! Envie para todos da sua lista!

Fonte: Movimento Pró-Conferência Nacional de Comunicação.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Órfãos de heróis


Nos Jogos Olímpicos, a linha que separa a glória da decepção é tênue. A demasiada expectativa gerada em torno de um atleta pode resultar num grande sentimento de frustração geral. No caso da delegação brasileira, a pressão em busca de um herói nacional faz a mídia supervalorizar alguns nomes, como os de Diego Hypólito e Jade Barbosa.

O país está longe de ser uma potência olímpica. Para se ter uma idéia, as marcas alcançadas pelos brasileiros no Pan do Rio são irrelevantes no cenário mundial. Em algumas modalidades, a conquista da vaga já pode ser considerado um grande feito. Sem glamour e nem incentivo, muitos atletas do Brasil chegam aos Jogos apenas para cumprir tabela.

Uma geração de atletas só é formada quando o esporte é atrelado à educação, da pré-escola à universidade. Enquanto essa transformação não acontece, nenhum resultado pode ser exigido, ao contrário, toda participação brasileira em Pequim deve ser comemorada como uma medalha de ouro.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Um retrato bem brasileiro?

A novela A Favorita, de João Emanuel Carneiro, reacende a discussão sobre a questão racial na mídia. O ator Milton Gonçalves vive o corrupto deputado Romildo Rosa. O personagem é a síntese do político brasileiro. Já Taís Araújo interpreta a mimada e fútil Alicia, filha do parlamentar. O núcleo ainda é formado pelo alcoólatra Didu, vivido por Fabrício Boliveira. É evidente que existem negros com essas características na sociedade, mas porque o novelista optou justamente por uma família negra para tal retrato?

Clique aqui para ler na íntegra

terça-feira, 29 de julho de 2008

Por um jornalismo de qualidade

Na última sexta-feira (dia 25), foi publicada a portaria nº 342/08 do Ministério do Trabalho e Emprego que institui um grupo de estudos sobre a regulamentação da profissão de jornalistas no Brasil. Uma das pautas será a obrigatoriedade do diploma para a prática jornalística, além da criação de um conselho federal da categoria nos moldes da OAB e do CRM.

Em 2004, houve uma grande discussão em torno da criação do conselho. O governo na época recuou porque grandes "medalhões" do jornalismo brasileiro foram contra a proposta, acusando-a de censura. Na verdade, a grande imprensa não tem interesse na implantação de um órgão que irá apontar seus erros e cobrar ética.

A criação desse grupo de estudos sinaliza a necessidade de discutir a precariedade do jornalismo brasileiro. Atualmente, tem modelo, atriz e até participante de reality show fazendo reportagem, fora os ex-jogadores que se julgam cronistas esportivos. Profissionais de outras áreas, sem diploma de jornalista, deveriam, no máximo, trabalhar como colaboradores.

Como se trata de uma iniciativa do governo, esse grupo de estudos pode não resultar em nada. É possível também que os órgãos de imprensa se mobilizem contra novamente, abortando qualquer debate sobre a profissão de jornalista, que cada vez mais se encontra na berlinda.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Será o fim da liberdade na internet?

No último dia 9 de julho, o projeto que pune os crimes cibernéticos foi aprovado no Senado. A iniciativa do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) está gerando muitas controvérsias, principalmente no artigo 285-B, que criminaliza a ação de "obter ou transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular, quando exigida". A pena prevista para esse delito é de reclusão de um a três anos, além de multa.

Contrários ao projeto, alguns professores universitários elaboraram uma petição virtual pelo veto a essa legislação que já ultrapassa as 60 mil assinaturas. A grande crítica é a falta de clareza da lei que classifica como crime muitas atividades cotidianas realizadas na internet, como o download de uma música, a publicação de uma foto ou a troca de um arquivo pela rede.

O uso da internet para a prática criminosa precisa ser realmente combatido. O ciberespaço não é uma "terra de ninguém", onde tudo é permitido. No entanto, nenhuma legislação, por mais necessária que seja, pode engessar a difusão do conhecimento, o trabalho de profissionais da Web e o lazer de milhões de internautas. Na verdade, o projeto do senador Eduardo Azeredo ainda precisa ser amplamente discutido pela sociedade antes de se tornar lei pra valer.

Para assinar a petição contra o projeto, acesse:

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A história de uma blogueira

SINOPSE

Nome Próprio conta a história de uma jovem mulher que dedica a vida à sua paixão, escrever. Camila (Leandra Leal) é intensa, complexa e corajosa. Para ela, o que interessa é construir uma trajetória como ato de afirmação. Sua vida é sua narrativa. Construir uma existência complexa o suficiente para se escrever sobre ela.

Nome próprio é um filme sobre a paixão de Camila. De sua busca por redenção. Quer a literatura como ato de revelação. Para tal, cria vínculos. Carente, os destrói. Por excesso. Por apego. Por paixão.

Nome Próprio é o olhar sobre uma personagem feminina que encara abismos e, disso, retira a força que necessita para existir. Para Camila, a vida floresce das cicatrizes de seu processo de entrega absoluta e vertiginosa.

Veja o trailer:
http://br.youtube.com/watch?v=AIReTYJuPSw

Mais informações do filme:
http://nomepropriofilme.blogspot.com/

Exibido no Espaço Unibanco (Shopping Miramar) com sessões às 19 e 21h30.

Depois eu conto as minhas impressões sobre este filme que promete, pena que estréia na mesma semana do Batman - Cavaleiro das Trevas.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Quando restringir é mais fácil do que fiscalizar


A resolução Nº 22.718/08 do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) restringiu a utilização da internet nas eleições deste ano. A propaganda eleitoral na mídia digital será permitida somente na página do candidato destinada exclusivamente à campanha. Com essa restrição do TSE, os postulantes não poderão usar comunidades virtuais, salas de bate-papo, blogs, links patrocinados, emails, Youtube ou Second Life para divulgarem seus nomes.

O TSE informa que avaliará cada situação especificamente, deixando claro que falta um marco regulatório para essa nova realidade. A legislação, por exemplo, não diz nada em relação ao uso da internet por terceiros na divulgação de seus candidatos. E as páginas de propaganda eleitoral que já existem no Orkut, serão retiradas do ar? O envio de torpedos pelo celular é outro recurso que não foi regulamentado.

Ao contrário de outros países, o Brasil limitou a internet na campanha eleitoral a fim de evitar o abuso do poder econômico. Em tese, o postulante com mais recursos teria a possibilidade de construir uma grande rede virtual a seu serviço. A resolução Nº 22.718/08 também criou dificuldades para os os candidatos "blogueiros" que não poderão explorar sua atividade junto aos eleitores.

Outra grande incoerência da legislação eleitoral é liberar a divulgação paga de propaganda política na imprensa escrita. Essa possibilidade favorece os candidatos mais ricos que podem pagar por um anúncio na capa de um jornal de grande circulação.

Na realidade, parece que o TSE ainda está confuso quanto à normatização da propaganda política na internet. As novas mídias trouxeram uma grande dor de cabeça para os juízes eleitorais acostumados a julgar abusos somente em jornais, rádios e emissoras de TV.

sábado, 28 de junho de 2008

Jornalismo Colaborativo: Outras vozes no cenário midiático

Nos últimos anos, os grandes portais vêm abrindo espaço para os internautas na produção de conteúdo. Com isso, não precisa ser jornalista para enviar fotos, textos e vídeos sobre diversos assuntos. Esse tipo de jornalismo colaborativo contribui para ampliar o olhar da mídia, geralmente pautada pelos mesmos assuntos.

No entanto, a iniciativa ainda é tímida, sendo pouco explorada pelos internautas. Observando alguns sites de conteúdo colaborativo, como VC no G1 (Globo), Minha Notícia (IG) e VC Repórter (Terra), é possível afirmar que o material enviado se refere sobretudo a flagrantes ou curiosidades. Uma das razões que inviabilizam a participação do público são as regras de uso que censuram algumas notícias.

Os sites de mídia alternativa são uma saída para os internautas que não se conformam com o veto dos portais. O Overmundo e o CMI permitem a publicação de qualquer conteúdo, independente de questões políticas ou comerciais. Outra exemplo de espaço democrático na internet são os blogs que apresentam uma multiplicidade de opiniões.

Mas o jornalismo colaborativo não é unanimidade. Alguns profissionais do ramo afirmam que falta qualidade ao conteúdo publicado pelo público. Porém, a participação de novos atores sociais na comunicação garante pluralidade de idéias, acabando de certa maneira com a supremacia de alguns poucos formadores de opinião. Então, vamos lá, mãos à obra!!!

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O óbvio da cobertura esportiva

Os esportes e, especialmente o futebol, mexem com as emoções do povo brasileiro, ocupando um grande espaço nos meios de comunicação. São programas diários, hotsites, jornais especializados, transmissões de partidas, entre outras atrações do segmento. No entanto, esse grande número de profissionais envolvidos não significa qualidade. Pelo contrário, uma das marcas da cobertura esportiva é a padronização e a falta de criatividade.

Não adianta trocar de canal, parece que todos os repórteres seguem a mesma cartilha. Perguntas cretinas do tipo "o que você espera da partida?" ou "por que o time perdeu?" são feitas exaustivamente. Além dessas obviedades, alguns jornalistas se comportam como verdadeiros torcedores. A análise tática dá lugar a comentários passionais. A isenção é totalmente esquecida. Um exemplo disso foi a cobertura sobre a final da Copa do Brasil em que toda a imprensa paulista afirmava veementemente que o Corinthians seria campeão, não levando em conta toda a campanha do Sport na competição.

Recentemente, o locutor Luciano do Valle, da Band, questionou a capacidade de seus colegas de emissora. Ele criticou profissionais que comentam sobre futebol sem possuírem diploma de jornalismo. Essa crise de credibilidade, levanta uma questão: Será que os jornalistas esportivos são os mais despreparados da mídia? Uma pesquisa do site Comunique-se com pessoas do ramo aponta que não. Veja os números:

Os jornalistas podem até não considerarem a editoria de esportes um reduto de mal preparados, mas é inegável a mediocridade de muitos profissionais. A cobertura esportiva precisa fugir do lugar-comum, tentando captar além do lance. Se não, pérolas como "o que você achou da vitória?" serão ditas novamente e o público não merece.

domingo, 15 de junho de 2008

O DNA da imprensa brasileira

O livro "1808 - Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil", do jornalista Laurentino Gomes, traz um trecho revelador quanto às origens de nossa imprensa:

"Para fugir à censura, o Correio Braziliense, primeiro jornal brasileiro, era publicado em Londres. Seu fundador, o jornalista Hipólito José da Costa, nasceu no Rio Grande do Sul e deixou o Brasil quando tinha 16 anos (...)
(...) O mesmo Hipólito que defendia a liberdade de expressão e idéias acabaria, porém, inaugurando o sitema de relações promíscuas entre imprensa e governo no Brasil. Por um acordo secreto, D. João começou a subsidiar Hipólito na Inglaterra e a garantir a compra de um determinado número de exemplares do Correio Braziliense, com o objetivo de prevenir qualquer radicalização nas opiniões expressas no jornal. Segundo o historiador Barman, por esse acordo, negociado pelo embaixador português em Londres, D. Domingos de Sousa Coutinho, a partir de 1812, Hipólito passou a receber uma pensão anual em troca de críticas mais amenas ao governo de D. João, que era um leitor assíduo dos artigos e editoriais da publicação".

Fazendo uma analogia com a mídia atual, observamos que essa dependência do capital público continua até hoje. A publicidade oficial ainda sustenta muitos jornais e revistas pelo Brasil inteiro. No mínimo, essa relação "incestuosa" compromete a credibilidade desses veículos, criando um conflito de interesses.
Comemorando 200 anos, a imprensa brasileira precisa fazer uma auto-reflexão. Se em alguns momentos da história, ela foi fundamental na apuração da verdade, revelando fatos obscuros. Em outros, o jornalismo esteve a serviço de grupos políticos e empresariais.
Ao examinarmos o passado, chegamos a conclusão que muitos de nossos problemas só se agravaram, para alegria de quem está no poder.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Tabu ou bom senso?

Se existe um assunto que é garantia de polêmica na mídia, este é a homossexualidade. A revista semanal Época, da editora Globo, vetou a imagem de um beijo gay entre dois militares na capa de sua última edição. A publicação contou a história dos sargentos do Exército Laci Marinho de Araújo e Fernando de Alcântara de Figueiredo, que assumiram ser homossexuais, causando grande repercussão na sociedade brasileira, principalmente nas Forças Armadas. Mas para não criar uma "saia-justa" com os leitores, os editores da revista resolveram optar por uma foto mais discreta dos parceiros.
Essa mesma polêmica foi levantada recentemente na novela Duas Caras, da Rede Globo, em que os personagens Bernardinho (Thiago Mendonça) e Carlão (Lugui Palhares) se beijariam depois de formalizarem sua união civil. Mas a emissora proibiu a cena de ir o ar, contrariando o autor do folhetim, Aguinaldo Silva, gay assumido.
Esses casos devem ser analisados com cuidado. Primeiro, seria preciptado acusar a Rede Globo de conservadorismo, afinal, todas as novelas das oito têm gays na história. No entanto, a emissora nunca correria o risco de exibir algo que pudesse afastar seus anunciantes, como a cena de um beijo entre pessoas do mesmo sexo no horário nobre. A ojeriza do público significa perda de receita para qualquer empresa de entretenimento.
Paralelamente, um outro aspecto que chama a atenção é a espetacularização do homossexualismo por alguns veículos. Um exemplo foi a cobertura sobre a Parada do Orgulho Gay, em que o caráter político do evento foi completamente esquecido pela mídia, que preferiu retratar apenas o lado festivo e caricato, dando destaque para as figuras mais escandalosas da Avenida Paulista.
Na realidade, a mídia trata os gays ora com deslumbramento, ora com moralismo. Numa nação de maioria católica, o beijo entre homossexuais numa novela ou estampando a capa de uma revista de circulação nacional ainda é um tabu. Por isso, os meios de comunicação de massa são instrumentos importantes na luta contra o preconceito e pelos direitos das minorias. No entanto, esse postura deve ser pautada pela isenção, sem militância nem hipocrisia.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

A cruzada contra o tabagismo


As novas imagens contidas nas advertências dos maços de cigarros são chocantes. A propaganda negativa inclui fotos de corpos mutilados, pessoas sofrendo e até um feto morto. Segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer), responsável pelo Programa de Controle do Tabagismo, essa nova ação pretende evitar a experimentação do produto, principalmente por adolescentes e crianças.

Além dessas ilustrações, as embalagens dos cigarros também informarão os teores de nicotina, alcatrão e monóxido de carbono e o telefone do Disque Saúde (0800-61-1997), um serviço de orientação à população que deseja parar de fumar.

Os números justificam a iniciativa contra o cigarro. Só para ter uma idéia, conforme informações do Ministério da Saúde, o total de mortes devido ao uso do tabaco atingiu a cifra de 4,9 milhões de mortes anuais no mundo, o que corresponde a mais de 10 mil mortes por dia.

Muitos podem até alegar que os fumantes não se sensibilizarão com essas imagens aterrorizantes, mas é inegável que essa nova ofensiva do governo provocará grandes questionamentos em potenciais consumidores de cigarro, como os mais jovens.

Leia mais sobre o combate ao tabagismo no link abaixo:

http://www.inca.gov.br/tabagismo/index.asp

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A arte "subversiva" do Teatro Mágico

Fãs enlouquecidos. Músicas cantadas em uníssono. Discursos politicamente engajados. Uma atmosfera envolvente. Música, teatro, circo e poesia num grande sarau. Essa é a fórmula do sucesso do Teatro Mágico que fez show em Santos no último dia 24, dando uma prévia do que será o segundo albúm. O grande desafio do grupo é continuar fazendo arte alternativa e independente, sem sucumbir ao assédio da indústria do entretenimento.

Texto na íntegra:
http://www.artefatocultural.com.br/portal/index.php?secao=colunistas_completa&subsecao=
20&id_noticia=169&colunista=Michel%20Carvalho

domingo, 18 de maio de 2008

A cor da mídia


Alguns dados para reflexão:
  • Segundo pesquisa do IBOPE com o Instituto Ethos, realizado em 2007, apenas 3,5% dos cargos de chefia são de negros. Ainda de acordo com o estudo, o índice de negras executivas não passa de 0,5%;
  • Salário de brancos e negros deve se igualar somente daqui a 32 anos, diz pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada);
  • De acordo com o Dieese, negros ganham, em média, 50 % menos do que demais trabalhadores;
  • 70% da população miserável do país é negra;
  • A taxa de analfabetismo entre a população negra de 15 anos de idade ou mais é o dobro em relação às pessoas brancas.

Esses são apenas alguns números da estrutura excludente baseada na cor da pele perpetuada no Brasil. Será que essa realidade discriminatória não é reproduzida também pelos meios de comunicação? Sendo 49,5% da população brasileira, os negros não deveriam ocupar mais espaço na mídia? Após 120 anos da abolição da escravatura no país, porque a questão da igualdade racial não é aprofundada pela imprensa? Por que a maioria dos comunicadores e dos formadores de opinião pública é branca?

É preciso tocar nas feridas para cicatrizá-las...

sábado, 10 de maio de 2008

Uma mídia cega e burra




Qual dos fatos abaixo mereceria um destaque maior na mídia?

1. A polêmica envolvendo o jogador Ronaldo Fenômeno e as três travestis;

2. A prisão preventiva do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusado de assassinar a pequena Isabella;

3. A absolvição do fazendeiro Vitalino Bastos de Moura, acusado de ser o mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang.

A maioria dos meios de comunicação optou pelo sensacionalismo, destacando o primeiro fato. Um escândalo envolvendo um dos jogadores de futebol mais conhecidos do mundo garante assunto para muitos dias. A semana começou com uma entrevista exclusiva concedida à jornalista Patrícia Poeta em que Ronaldo jurou ser um homem de bem. A orientação sexual do Fenômeno passou a ser tema em mesas-redondas, humorísticos e programas de fofocas. As travestis acabaram prestando um novo depoimento, inocentando o jogador que parece contar com a simpatia de boa parte da mídia brasileira. Apesar da curiosidade que provoca, essa polêmica, em termos de interesse público, é absolutamente insignificante.

Já o segundo fato, é na verdade mais um capítulo de um caso que está sendo tratado como uma novela pela mídia brasileira. Diariamente, o assunto é atualizado com a divulgação de "novos" detalhes do inquérito. Na última quarta-feira, a saída do casal do prédio da família Jatobá interrompeu a transmissão do jogo do São Paulo pela Taça Libertadores na Rede Globo. Aliás, foi no momento da interrupção que saiu o gol são-paulino. A cansativa e exagerada cobertura desse crime informa até o que o casal come na prisão, como se esse tipo de informação fosse mudar o rumo das investigações.

E como a mídia reagiu ao terceiro fato? Ela simplesmente noticiou. O fazendeiro tinha sido condenado no primeiro julgamento a 30 anos. Como sua pena foi superior a 20 anos, foi julgado novamente, mas dessa vez o assassino da missionária assumiu sozinho a autoria do crime, levantando muitas suspeitas. No final, Vitalmiro foi absolvido por 5 votos a 2. Essa reviravolta mancha profundamente a imagem internacional da justiça brasileira, reforçando a idéia de país da impunidade. Mas a imprensa em geral não entendeu a gravidade. No dia seguinte, o caso Dorothy era apenas mais uma triste recordação, lembrada somente em datas especiais.

Esse comportamento da mídia diante desses três fatos demonstra que ela segue uma lógica de espetáculo em que prevalece sempre o fato com maior potencial de audiência e retorno comercial. Assim, o sentimento de indignação coletiva da sociedade brasileira, ora é inflamado, ora é canalizado, numa postura maniqueísta dos meios de comunicação.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Censura ou Regulamentação?

A propaganda de bebida alcoólica incentiva o consumo em crianças e adolescentes? O movimento Aliança Cidadã pelo Controle do Álcool acha que sim. O grupo lançou uma campanha que apóia a limitação da propaganda de bebidas alcoólicas ao horário entre às 6h e 21 horas. A iniciativa é encabeçada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Uniad - Unifesp).

Na contramão, a Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) está veiculando um anúncio que inocenta a publicidade de cerveja e ainda acusa a restrição de censura. A ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) também lançou uma campanha que defende a propaganda responsável e a liberdade da comunicação.
Esse briga promete, afinal, se trata de um negócio milionário. Os empresários do setor e o mercado publicitário irão pressionar os deputados federais para que rejeitem o projeto de lei 2.733/2008 que restringe as propagandas de cervejas.

Os fabricantes de bebidas já ganharam um round. A medida provisória nº 415/08, que proibia a venda de bebidas alcoólicas nos bares e restaurantes à beira de estradas federais, foi modificada e agora permite a comercialização no perímetro urbano, mantendo a proibição apenas na zona rural.

Coincidência ou não, o fato é que
a proibição da propaganda de cigarro foi um dos motivos apontados pelos especialistas para a diminuição do número de fumantes no Brasil. No caso do álcool, a regulamentação vai garantir, no mínimo, que crianças e adolescentes não fiquem expostos aos persuasivos comerciais de cerveja. Ou alguém duvida do poder de convencimento do "brahmeiro" Zeca Pagodinho?

terça-feira, 29 de abril de 2008

"Q" de qualidade...Será?

Recentemente foi divulgado o 14º Ranking da Baixaria na TV. Novamente o campeão de denúncias foi o Big Brother Brasil da Rede Globo. Ironicamente, no momento em que a emissora do "plim-plim" veicula uma propaganda exaltando a sua tal "QUALIDADE", os programas que encabeçam a lista são justamente os da sua grade.
Entre as reclamações recebidas pela campanha
Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania, estão a exibição de diversas cenas de discriminação, o apelo sexual, a violência, o vocabulário inadequado para o horário, a exposição de pessoas ao ridículo, além da vulgarização das relações humanas.
Os detalhes dos pareceres de cada programa da lista estão disponíveis no site:
http://www.eticanatv.org.br/index.php?sec=2&cat=6&pg=2

E vocês concordam com o ranking? Ficou algum programa de fora?

sexta-feira, 25 de abril de 2008

PODER, SEXO E MUITA COMIDA

Estômago, filme do diretor Marcos Jorge, mostra a estreita relação entre poder e comida. Raimundo Nonato, vivido de maneira espetacular pelo ator João Miguel, é um nordestino que chega na cidade grande à procura de uma vida melhor e acaba se tornando um especialista na arte de cozinhar.
Passando pelos butecos, restaurantes e pelas curvas de uma prostituta, Nonato aprende rápido as regras de uma sociedade formada por devoradores e devorados.
O longa consegue prender a atenção do público que acompanha paralelamente duas passagens da vida de Nonato, o antes e o depois de ir para a cadeia. E o grande mistério da história é este: o que fez o humilde e ingênuo retirante para ser preso?
Poético, enigmático e bem-humorado, o premiado filme de Marcos Jorge ressalta que hierarquia existe em todos os setores da sociedade, inclusive na cadeia. Lá, Nonato descobre que dormir no lugar mais alto do beliche significa muito mais do que aparenta.
Estômago é daqueles longas que a gente tem certeza que se fosse hollywoodiano seria campeão de bilheteria, mas é uma co-produção brasileiro-italiana, sendo assim, se alcançar 100 mil de público já será considerado um sucesso. Para finalizar, uma coisa é certa, ou esse filme lhe abrirá o apetite ou lhe dará uma tremenda incongestão.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Novos tempos...

Os wapishanas

Os xavantes

Os tapajós

Neste último final de semana, foi realizada a Festa Nacional do Índio em Bertioga. Durante o evento, tribos de várias partes do Brasil mostraram sua cultura, com seus rituais e artesanatos. É uma tentativa válida de promover e preservar a cultura indígena, mas a realidade desses povos é muito diferente da época em que viviam em ocas e caçavam animais para se alimentar.
Hoje, muitos índios possuem aparelhos de celular, usam jeans e têm email. Sim, isso é sinal de integração, o isolamento já não é mais uma alternativa. No entanto, impressiona ver os xavantes, ianomâmis, tapájós, entre outros, negociando seus artefatos como num camelódromo.
E os índios são bons de negócio, é tudo na base do "um é dez, três é vinte". Eles só foram impedidos pelo IBAMA de comercializar artesanatos que utilizam pele de animais silvestres. Esse é o preço do hibridismo cultural, assim, se os povos indígenas quiserem continuar vendendo quinquilharias terão que se adequar as leis do "homem branco".

Fotos: Michel Carvalho

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Entretenimento versus cultura

O desafio de democratizar a cultura

Michel Carvalho (*)

Há alguma incompatibilidade entre entretenimento e cultura? Depende do ponto de vista. No Brasil, ainda existe a tendência de fazer da ação cultural um instrumento de lazer para o tempo livre. Essa contradição é explicada em parte pela falta de sensibilidade do Poder Público que continua tratando o tema como supérfluo diante de outras demandas da população. Em tempos de dengue, falar de arte parece escárnio.

Segundo dados do próprio IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em mais de 80% das cidades brasileiras não há órgãos exclusivos para gerir a cultura. Assim, a área é "empurrada" para outras secretarias, como a de educação, de turismo, de esporte ou mesmo de lazer. Esse descaso é agravado por um investimento pífio de menos de 1% do orçamento municipal em ações culturais.

(*) Jornalista e Educador da ONG Educafro

Texto na íntega no site:
http://www.artefatocultural.com.br/portal/index.php?secao=colunistas_completa&subsecao=65&id_noticia=120&colunista=Michel%20Carvalho

terça-feira, 8 de abril de 2008

Quase uma novela

O caso da garota Isabella Nardoni choca a sociedade brasileira, tanto pela crueldade contra uma criança indefesa, quanto pela possibilidade do próprio pai da vítima ser o autor do crime.
A cobertura da mídia contribui para esse estado de comoção coletiva, assim como fez no caso do menino João Hélio, morto brutalmente no Rio de Janeiro em 2007 .
Vídeos caseiros da menina, reconstituições e flashes ao vivo das delegacias em que estão presos o pai e a madrasta de Isabella reforçam o sentimento de revolta ou mesmo de curiosidade do telespectador que acompanha esse caso como uma novela.
Para "alimentar" essa história diariamente, as emissoras precisam de fatos novos, assim, recorrem a depoimentos do delegado, do porteiro, dos pais dos acusados e da mãe de Isabella. Para se ter uma idéia dessa obsessão, imagens da menina no supermercado horas antes do crime foram repetidas exaustivamente pelos programas e telejornais. Até infográficos foram elaborados para detalhar os ferimentos sofridos pela vítima. Há mais de dez dias, a mídia trata o pai e a madrasta como culpados pela morte de Isabella numa postura de "caça às bruxas". Eles podem até serem os autores desse crime bárbaro, mas a sentença não cabe à imprensa . Nesse triste episódio, é preciso cautela para ser fazer justiça, afinal, todo mundo é inocente até que se prove o contrário. Essa cobertura sufocante da mídia não esclarece, apenas canaliza a atenção do público.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

FAVELA, MÚSICA E ROMANCE...

Maré, Nossa História de Amor, da diretora Lúcia Murat, estréia amanhã (04/04) nos cinemas. Fiquei curioso para assisti-lo porque o filme promete ser um musical, tendo a favela como cenário. Ultimamente foram produzidos vários longas retratando comunidades marginalizadas, mas a cultura sempre ficou relegada. Parece que em Maré, Nossa História de Amor, a violência serve de pano de fundo para um romance inspirado na história de Romeu e Julieta de Shakespeare. A conferir.
Que tal assistir um filme nacional nesse final de semana? Ah, segundo o site de divulgação do filme,
Maré, Nossa História de Amor estará em cartaz no Espaço Unibanco (Miramar) e no Cinemark (Praiamar).

Confira o trailer:
http://br.youtube.com/watch?v=S4R8bM4MHaA