segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Os grandes erros da imprensa em 2011



Grande imprensa esconde livro bombástico: O silêncio absoluto da grande mídia em relação ao livro A Privataria Tucana (Geração Editorial), do jornalista Amaury Ribeiro Jr., foi constrangedor, demonstrando toda seletividade dos grupos de comunicação do país quando os casos de corrupção envolvem figuras do PSDB. Ignorar um fenômeno editorial com mais de 30 mil exemplares vendidos em poucas semanas é tentar esvaziar o assunto para que não ganhe novos contornos. O silêncio foi quebrado só quando políticos citados no livro comentaram sobre o assunto, mesmo assim, as matérias se preocuparam mais em desqualificar o autor do livro e apontar contradições na obra do que aprofundar as denúncias contra a alta cúpula dos tucanos.


Jornalismo pautado pelo pastor I: O Domingo Espetacular, da Rede Record, apresentou uma reportagem de quase quarenta minutos sobre o ritual religioso chamado cair no espírito, muito comum em algumas igrejas evangélicas. O grande problema é que a emissora pertence a um grupo religioso rival aos retratados na matéria. Além disso, a matéria é tendenciosa ao fazer quase uma pregação contra a doutrina, utilizando vídeos de internet. O outro lado da questão não foi ouvido para comentar sobre o assunto. Mais um sinal de que o jornalismo da emissora é pautado pela alta cúpula da Universal.



Jornalismo ou programa de entretenimento?: A substituição da jornalista Fátima Bernardes por Patrícia Poeta na bancada do Jornal Nacional durou cerca de quinze minutos, um exagero para qualquer telejornal diário. Quando o próprio jornalista se transforma em notícia principal é porque algo muito sério está acontecendo com a imprensa. Ao tratar uma simples troca de apresentadoras como um fato de grande potencial noticioso, o Jornal Nacional ignora o interesse público. Quantas reportagens mais importantes poderiam ter sido exibidas durante esses quinze minutos?



Jornalismo pautado pelo pastor II: Uma verdadeira aula de mau jornalismo. Só assim podemos definir o noticiário da Rede Record sobre a distribuição de kits do programa Escola sem Homofobia. A emissora, cujo dono é o mandatário da Igreja Universal, ignorou qualquer princípio jornalístico ao adotar uma abordagem conservadora e manipuladora. O material que foi criado, sob supervisão do MEC, por entidades que lutam contra a homofobia e trabalham com a temática da sexualidade está sendo intitulado pejorativamente de "kit-gay". Ao estigmatizá-lo dessa maneira, o jornalismo da Rede Record tenta reforçar a tese de que o material incentivaria a homossexualidade, como se a questão pudesse ser reduzida dessa maneira.



Band adota discurso autoritário contra governo e grevistas: Em editorial veiculado no Jornal da Band, lido pelo jornalista Joelmir Beting, o Grupo Bandeirantes critica a greve dos trabalhadores dos Correios, não reconhecendo-a como direito e instrumento de luta dos servidores. O texto ainda ataca o Governo Federal pela "falta de ação das autoridades diante da greve" e em tom ameaçador, dispara: "Autoridades: cuidado!". Ao manifestar essa opinião, a Bandeirantes se coloca contra os movimentos sociais, particularmente o sindical, numa tentativa de conseguir adesão da sociedade contra os trabalhadores dos Correios.


TV Globo ignora o Pan: Por não ter os direitos de transmissão dos Jogos Panamericanos de Guadalajara, a emissora optou por uma cobertura mínima, reservando apenas alguns segundos sobre o dia a dia das competições. A TV Globo não aceitou as condições da Record, detentora dos direitos, que exigia que as imagens fossem levadas ao ar com o logotipo do canal de Edir Macedo e que houvesse a inscrição "imagens cedidas pela TV Record". Por não aceitar essa condição, a emissora da família Marinho praticamente escondeu o Pan, relativizando sua importância.




Criatividade ou mal gosto?: Imagino que o jornalista responsável por esta manchete do jornal A Tribuna tenha tido a intenção de ser criativo ou, pelo menos, fugir do lugar comum. Mas, sem a devida reflexão, acabou produzindo um título, no mínimo, controverso. A tragédia em Realengo, na Zona Oeste do Rio, causou uma tremenda comoção na sociedade brasileira, principalmente por envolver crianças. O episódio em si já é doloroso e revoltante demais, por isso mesmo, não precisa ser espetacularizado, ganhando contornos ficcionais e dramáticos. Numa situação como essa, a cobertura deve ser o mais equilibrada possível, respeitando o sofrimento dos familiares das vítimas e da população em geral.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Os destaques do cinema nacional


8. Onde Está a Felicidade?

9. Malu de Bicicleta

10. Os 3

COMENTÁRIO: Este ano tivemos uma boa safra de filmes nacionais, apesar que as maiores bilheterias continuam sendo as comédias da Globo Filmes, como Cilada.com, De Pernas Pro Ar e Qualquer Gato Vira Lata. Em 2011, ainda tivemos Bruna Surfistinha, que contava com uma atriz de sucesso na pele da prostituta mais famosa do país. Realmente, tinha tudo para lotas as salas de cinema. 


A surpresa positiva foi O Palhaço, que ultrapassou a marca de 1 milhão de espectadores, confirmando todo o talento de Selton Mello como diretor. O longa é encantador, tanto no riso quanto no drama. Bróder, de Jefferson De, mostra que é possível contar uma história que se passa na periferia sem recorrer a estereótipos. Lixo Extraordinário, indicado ao Oscar, é o melhor documentário do ano. O projeto do artista Vik Muniz com os catadores de lixo rende uma história emocionante. 


Esperamos que 2012 nos reserve boas surpresas para o cinema nacional.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Os melhores estrangeiros do ano



A Pele que Habito: Almodóvar se reinventa nesse filme que mistura suspense, terror e ficção-científica. É lógico que não falta o lado sádico e grotesco do cineasta espanhol. Ao final da sessão, o sentimento é de perturbação e perplexidade. Até Antonio Banderas convence como o médico cirurgião alucinado.

Cisne Negro: Um thriller psicológico que consagrou Natalie Portman com o Oscar de Melhor Atriz. A intensidade com que vive os dramas da jovem bailarina é emocionante. Eu imaginei que se tratava só de uma história sobre um espetáculo de balé, mas me surpreendi com o resultado, é de perder o fôlego mesmo.

Incêndios: Esse filme canadense foi indicado ao Oscar de Melhor Estrangeiro. Conta a jornada de dois irmãos em busca do pai e de um irmão. Trata-se de uma história de reviravoltas, com um desfecho surpreendente. Destaque para o roteiro envolvente.

Melancolia: Dividido em duas partes, o filme do polêmico Lars Von Trier conta a história das irmãs Justine e Claire. Na primeira, o público até fica entediado, sem entender muito bem o que está rolando. Já na segunda, grandes atuações e uma linda fotografia. A última cena entra para o rol das imagens históricas do cinema.

Em um Mundo Melhor: O mundo cruel e complexo dos adultos sob olhar de dois garotos. Uma história aparentemente simples, mas que desperta muitas reflexões. Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Biutiful:  O diretor Iñárritu novamente aposta numa história multicultural. Indicado ao Oscar de Melhor Ator, Javier Bardem vive um pai sensitivo e amoroso, marcado pela desolação e pela dor. Toca num assunto delicado que é a imigração ilegal.

O Vencedor: A história verídica de um boxeador campeão, que enfrentou vários conflitos até o estrelato. Christian Bale mereceu o Oscar de Melhor Ator Coadjuante pelo papel de Dicky, ex-lutador drogado que se torna treinador do irmão, causando-lhe muitos problemas. Os conflitos familiares são o auge do filme.

Confiar: O diretor tem o mérito em tocar num tema muito contemporâneo: pedofilia na internet. Destaque para a fantástica interpretação de Clive Owen, que encarna o pai da garota violentada.

127 Horas: Trilha sonora e fotografia empolgantes. O filme narra a trágica saga do alpinista Aaron Ralston que acabou amputando o braço para sobreviver. Em seu melhor papel, James Franco faz a dor transcender a tela.

O Garoto da Bicicleta: Apesar de superestimado pela crítica especialista, o filme é um bálsamo. O interdiscurso, ou seja, o não dito é o grande destaque da história. Menino abandonado pelo pai tenta aprender o que é o amor.

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Para você, qual a maior injustiça dessa lista?


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sábado, 10 de dezembro de 2011

Classificação ameaçada



Publicado originalmente no site O Dia Online

Marcus Tavares (*)

Depois de um intenso e polêmico processo de discussão nacional sobre o papel do Estado, dos pais e dos canais de televisão sobre a classificação indicativa dos programas de TV, culminado com a aprovação da portaria 1.220, em 2007, a medida que tem o objetivo de proteger a infância e adolescência está mais uma vez ameaçada.

Na última quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) só não julgou a inconstitucionalidade da veiculação dos programas de acordo com a faixa horária e etária, proposta pela portaria da classificação indicativa, porque houve pedido de vista do processo pelo ministro Joaquim Barbosa. Na prática, se a ação for aprovada, as emissoras poderão exibir qualquer programa em qualquer horário e em qualquer território nacional, que possui hoje três fusos horários.

O STF julga a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 2404) ajuizada pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em 2001, contra o dispositivo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), especificamente o artigo 254, que classifica como infração administrativa a transmissão de programa de rádio ou televisão em horário diverso do autorizado pelo Governo Federal. Este artigo é um dos fundamentos da regulação da classificação indicativa.

Sabe-se que decisão judicial não se discute, cumpre-se. Mas convenhamos que as justificativas dos quatro ministros que já deram parecer favorável à ação são questionáveis. Eles justificam o voto em nome da liberdade de expressão. Segundo eles, vincular a programação a uma faixa horária e etária configura censura prévia. Essa discussão amplamente discutida com a sociedade e inclusive com os canais de TV já está ultrapassada.

(*) Professor e jornalista especializado em Educação e Mídia

domingo, 4 de dezembro de 2011

Sentimentos encenados


Texto produzido originalmente para o site Mídiativa

Triângulo amoroso é um tema recorrente na ficção. Recentemente tivemos a série global Aline. No cinema, Os SonhadoresTrês Formas de Amar e o clássico Jules e Jim de François Truffaut. Os 3, de Nando Olival, bebe dessa fonte, mas apresenta um elemento novo: a vida num reality show. Com uma linguagem moderna, o filme tem um público alvo bem definido.
O filme de Olival conta a história de Camila (Juliana Schalch), Cazé (Gabriel Godoy) e Rafael (Victor Mendes), três jovens universitários que, vindos de diferentes lugares, se encontram numa fila de banheiro e depois de algumas cervejas e muita conversa, decidem morar juntos. Uma regra de convivência fica estabelecida: os três não poderão se envolver entre si. O tempo, então, mostra que é impossível cumprir esse acordo. Os sentimentos de amizade e amor se misturam nessa relação que parece perfeita.
Com a proximidade do curso, Camila, Cazé e Rafael estão próximos da despedida. Mas após a apresentação de um trabalho na faculdade, o trio é convidado para participar de um reality show que acompanhará em tempo real o cotidiano dos três no apartamento em que vivem. O programa é patrocinado por uma grande loja de departamentos, que espera faturar muito com as vendas online de tudo o que os jovens usam no dia a dia, desde TV até mochila.
O produtor do reality e o trio percebem que a vida cotidiana não é suficiente para atrair o público e aumentar o faturamento do patrocinador. Daí, a necessidade de a realidade se confundir com a ficção, surgindo verdades baseadas em mentiras e mentiras inspiradas em verdades. Emoções são encenadas e sentimentos são retraídos na frente das câmeras. O programa se torna um grande sucesso, até que uma quarta pessoa surge na história, o que coloca em xeque a relação dos três jovens.
O filme conta com boas atuações e tem uma história interessante. No entanto, se perde ao tentar mostrar os conflitos do triângulo amoroso, ao mesmo tempo, que discute a linha que separa realidade e ficção. Os 3 é uma representação pueril dos jovens universitários, em que a ousadia fica no que é sugerido e não no que realmente acontece. Faltou a provocação de Os Sonhadores e a poesia de Jules e Jim.