domingo, 29 de maio de 2011

sábado, 21 de maio de 2011

Anti-Jornalismo: A notícia a serviço do Pastor



Uma verdadeira aula de mau jornalismo. Só assim podemos definir o noticiário da Rede Record sobre a distribuição de kits do programa Escola sem Homofobia. A emissora, cujo dono é o mandatário da Igreja Universal, ignorou qualquer princípio jornalístico ao adotar uma abordagem conservadora e manipuladora.

O material que foi criado, sob supervisão do MEC, por entidades que lutam contra a homofobia e trabalham com a temática da sexualidade está sendo intitulado pejorativamente de "kit-gay". Ao estigmatizá-lo dessa maneira, o jornalismo da Rede Record tenta reforçar a tese de que o material incentivaria a homossexualidade, como se a questão pudesse ser reduzida dessa maneira. 

Outra distorção refere-se ao público-alvo, diferentemente do que foi veiculado, as cartilhas e os vídeos não seriam disponibilizados para menores de 14 anos. Além disso, as imagens não mostram cenas de sexo, no máximo, casais de mãos dadas. O tom adotado é de um sensacionalismo como poucas vezes se viu na TV brasileira. O objetivo é convencer o público sobre os “riscos” desse material didático.  

Mas o mais escandaloso é o uso do jornalismo de uma TV aberta para veicular uma posicionamento religioso e conservador. A matéria do Jornal Record (vídeo acima) abandona um princípio básico do jornalismo, que é escutar os dois lados de um determinado assunto. A matéria exibe vários depoimentos contrários ao kit, incluindo de parlamentares e de “especialistas”. O direcionamento é tão evidente que não é exibida nenhuma fala que defenda a iniciativa, como a Unesco e o Conselho Federal de Psicologia que aprovam o kit. 

Esta semana um grupo de parlamentares da chamada bancada evangélica teve um encontro com o ministro da Educação, Fernando Haddad, para convencê-lo a desistir da distribuição do material.  Pastores também estão se mobilizando contra o kit, seja em horários pagos nas TVs abertas ou mesmo em seus blogs, como Edir Macedo. Neste sábado (22 de maio), até uma marcha foi organizada contra o programa Escola sem Homofobia.

O kit deve ser questionado no que se refere a sua aplicabilidade. Afinal, esse material só pode ser trabalhado em sala de aula depois que os professores participarem de uma ampla formação. Além disso, seria ótimo também envolver os pais dos estudantes para que o combate à intolerância não ficasse somente a cargo da escola. 

Com essa postura manipuladora, a Rede Record, a serviço da Igreja Universal, impede que um debate sério sobre a questão seja estabelecido. Quem mais perde é a sociedade brasileira, que acaba recebendo uma informação distorcida e tendenciosa. Em pleno século XXI, a educação e a luta contra o preconceito não podem ficar a cargo de um proselitismo religioso. 

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Informação ou propaganda disfarçada?



Engraçado como alguns dogmas do jornalismo que são ensinados nas escolas de jornalismo são totalmente abandonados pelos grandes veículos de comunicação. Uma exigência ética que deveria nortear o trabalho dos jornalistas é a clara distinção entre informação e publicidade. Numa reportagem como essa do Jornal da Globo, veiculada na semana passada, seria realmente necessária a menção das marcas dos estabelecimentos de fast food?

A matéria além de citar as marcas, ainda informa o valor dos produtos em promoção e de quanto foi a queda nos preços. Um telespectador mais distraído certamente imaginaria que se trata de fato de uma propaganda. Na verdade, é publicidade disfarçada de jornalismo, com a vantagem de que o discurso da imprensa possui a credibilidade que o publicitário não tem. A omissão dos nomes das marcas não causaria nenhum prejuízo ao fundamental da matéria que é a redução dos preços e o acirramento entre os concorrentes.

Esse tipo de tabelinha jornalismo-publicidade também é fartamente utilizado no jornalismo impresso. Um exemplo recorrente é a publicação das notas do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) em que há uma ampla divulgação das melhores escolas, com destaque para as particulares, em que o jornalista procura ressaltar o diferencial dessas unidades para obter um bom desempenho no exame. Em alguns casos, a cara de pau é tão gritante que a notícia está ao lado de um informe publicitário da própria escola mencionada no texto.

A divulgação de nomes de empresas ou produtos deve ocorrer somente em casos em que a menção é primordial para o entendimento da matéria, como a notícia de um acidente envolvendo uma companhia aérea ou o recall de um veículo. Parece que o jornalismo contemporâneo não tem essa preocupação ética em separar a redação do setor comercial. Quem sabe da próxima vez a matéria do Jornal da Globo também não divulga as formas de pagamento.