Uma verdadeira aula de mau jornalismo. Só assim podemos definir o noticiário da Rede Record sobre a distribuição de kits do programa Escola sem Homofobia. A emissora, cujo dono é o mandatário da Igreja Universal, ignorou qualquer princípio jornalístico ao adotar uma abordagem conservadora e manipuladora.
O material que foi criado, sob supervisão do MEC, por entidades que lutam contra a homofobia e trabalham com a temática da sexualidade está sendo intitulado pejorativamente de "kit-gay". Ao estigmatizá-lo dessa maneira, o jornalismo da Rede Record tenta reforçar a tese de que o material incentivaria a homossexualidade, como se a questão pudesse ser reduzida dessa maneira.
Outra distorção refere-se ao público-alvo, diferentemente do que foi veiculado, as cartilhas e os vídeos não seriam disponibilizados para menores de 14 anos. Além disso, as imagens não mostram cenas de sexo, no máximo, casais de mãos dadas. O tom adotado é de um sensacionalismo como poucas vezes se viu na TV brasileira. O objetivo é convencer o público sobre os “riscos” desse material didático.
Mas o mais escandaloso é o uso do jornalismo de uma TV aberta para veicular uma posicionamento religioso e conservador. A matéria do Jornal Record (vídeo acima) abandona um princípio básico do jornalismo, que é escutar os dois lados de um determinado assunto. A matéria exibe vários depoimentos contrários ao kit, incluindo de parlamentares e de “especialistas”. O direcionamento é tão evidente que não é exibida nenhuma fala que defenda a iniciativa, como a Unesco e o Conselho Federal de Psicologia que aprovam o kit.
Esta semana um grupo de parlamentares da chamada bancada evangélica teve um encontro com o ministro da Educação, Fernando Haddad, para convencê-lo a desistir da distribuição do material. Pastores também estão se mobilizando contra o kit, seja em horários pagos nas TVs abertas ou mesmo em seus blogs, como Edir Macedo. Neste sábado (22 de maio), até uma marcha foi organizada contra o programa Escola sem Homofobia.
O kit deve ser questionado no que se refere a sua aplicabilidade. Afinal, esse material só pode ser trabalhado em sala de aula depois que os professores participarem de uma ampla formação. Além disso, seria ótimo também envolver os pais dos estudantes para que o combate à intolerância não ficasse somente a cargo da escola.
Com essa postura manipuladora, a Rede Record, a serviço da Igreja Universal, impede que um debate sério sobre a questão seja estabelecido. Quem mais perde é a sociedade brasileira, que acaba recebendo uma informação distorcida e tendenciosa. Em pleno século XXI, a educação e a luta contra o preconceito não podem ficar a cargo de um proselitismo religioso.