sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Divulgação científica, direito do cidadão


A sociedade do século XX é fruto da cultura tecnocientífica. Os avanços obtidos nas áreas da saúde, habitação, alimentação, energia ou comunicação estão associados às descobertas de cientistas e técnicos. Muitos desses avanços científicos foram desenvolvidos em pesquisas de instituições públicas de ensino, financiados por organismos ligados ao Estado, o que exige a devolutiva à sociedade do conhecimento desenvolvido nesses espaços.

As instituições científicas possuem responsabilidades sociais específicas, que incluem a prestação de contas dos recursos públicos utilizados, como a obrigação de ser uma organização transformadora, capaz de contribuir para o desenvolvimento do senso crítico dos cidadãos.

A divulgação científica tem três objetivos principais: educacional, que amplia o conhecimento e a compreensão do público leigo a respeito do processo científico; cívico, que desenvolve uma opinião pública informada sobre os impactos do desenvolvimento científico e tecnológico sobre a sociedade; e de mobilização popular, que instrumentaliza os atores sociais na formulação de políticas públicas e na escolha de opções tecnológicas.

Dessa maneira, é necessário que universidades e centros de pesquisa invistam em políticas de divulgação científica. Primeiramente, para traduzir o conhecimento da ciência para o público em geral, de forma que as pessoas observem na prática os resultados dos fenômenos estudados cientificamente.

Além desse aspecto, a divulgação da ciência significa uma população mais informada a respeito das descobertas científicas e tecnológicas. Isso contribui para a quebra de paradigmas, instrumentalizando os atores sociais para a mudança de comportamento, seja no cuidado à saúde ou na preservação do meio ambiente. 

A questão da divulgação científica também está ligada ao direito à informação - assegurado pelo artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamado pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em 1948. Dessa forma, a socialização do saber é uma obrigação de qualquer Estado democrático. A ciência não pode continuar falando somente para os pares e circunscrita ao mundo acadêmico.

domingo, 7 de agosto de 2011

A fome e a função do jornalismo


Quando me deparei com essa capa fiquei perplexo. Vários pensamentos povoaram minha cabeça. Num primeiro momento, pensei que capa sensacionalista, explorando a imagem de uma criança africana em situação de miséria. Mas depois refletindo melhor concluí o quanto essa foto é adequada enquanto denúncia. O jornalismo só se faz necessário numa sociedade por sua função social.

É lógico que a foto da criança faminta choca, nos incomoda como ser humano. Às vezes, penso como o mundo ainda convive com cenas desse tipo. A fome que atinge milhões de pessoas Somália não pode ser ignorada pelos países mais ricos, pela ONU e por cada um de nós. É triste ver como boa parte de nossa sociedade considere normal a miséria nos países africanos. Parece que nossa capacidade de sensibilizar com o sofrimento do outro está cada vez menor. 

Voltando à função da imprensa, vejo que a manchete escolhida é sobre o medo de recessão mundial e a sub-manchete se refere à saída de Nelson Jobim do Ministério da Defesa. Pelos dogmas do jornalismo, está tudo correto. A primeira é mais forte pelo alarmismo e pela escala global. A segunda nos remete à questão local, a troca de posto numa pasta importante do Executivo Nacional. Mas, então, porque só a foto com uma pequena legenda da criança faminta? Inegavelmente, a imagem chama a atenção, mas o assunto em si não é novidade. Cenas de uma África miserável em que as crianças morrem de fome devido a conflitos armados ficaram banalizadas. Elas não causam mais indignação, no máximo, um sentimento de resignação. 

A fome é a maior denúncia social que o jornalismo pode fazer. Pensar que crianças morrem por não terem o que comer é de um absurdo que não pode ser ignorado por todos nós. É evidente que a mídia é movida por seus interesses políticos e econômicos, mas vejo que os profissionais que trabalham nela podem fazer a diferença. Utopia ou não, creio que a imprensa tem um papel importante ao resgatar certos sentimentos na sociedade e a capacidade de se indignar com a fome é um deles.