sábado, 25 de junho de 2011

Inversão: Um thriller policial brasileiro


Se há um gênero raro no cinema brasileiro é o thriller policial. Talvez porque exija cenas de perseguição, tiros e explosões, o que encarece qualquer filme. Nesse sentido, Inversão, de Edu Felistoque, é um sopro de novidade na produção nacional. Mesmo apostando numa estética questionável e abusando de alguns clichês, o longa consegue fisgar o público com uma história cheia de suspense e tensão no ar.

Tudo se passa em maio de 2006, quando a população de São Paulo se vê refém de uma organização criminosa, que paralisa o maior estado do país, exigindo a mobilização da força policial e ganhando todas as manchetes de jornais. Paralelamente, um seqüestro está em andamento. Um bem sucedido empresário é capturado por um grupo que parece acima de qualquer suspeita. Mas um inesperado acontecimento muda todos os planos.

A investigação do sequestro fica a cargo da delegada recém-admitida Juliana (Marisol Ribeiro) juntamente com os policiais Ariovaldo (Wander Wildner) e Carlão (Rodrigo Brassoloto). Para solucionar o caso, a novata terá que aprender a lidar com a realidade do submundo policial, superando seus próprios traumas e a desconfiança de seus ajudantes, que a consideram uma menina frágil e “certinha” demais.

O público acompanha as duas narrativas: os passos dos criminosos e a investigação da polícia. O roteiro é bem realizado, apesar de não mostrar muito sobre quem é cada personagem da história. A imagem tremida é uma escolha estilística, o modo câmera na mão ajuda a construir o clima de ação, mas o recurso às vezes atrapalha na compreensão. Além disso, o filme exagera na sombra e nas distorções. 

O título do filme é explicado pela inversão de valores que a sociedade está passando, isso fica evidenciado pelo perfil dos seqüestradores e pela conduta da dupla de tiras. Mas mostrar carros com o volante do lado direto é um pouco demais, afinal, o filme se passa no Brasil. Outro aspecto negativo é a exploração de alguns estereótipos como o personagem negro e homossexual que utiliza rituais de feitiçaria para se vingar do companheiro, um dos seqüestradores. Realmente, desnecessário.

As melhores atuações cabem à dupla de policiais e também aos seqüestradores vividos por Alexandre Barillari e Rubens Caribé. O elenco feminino destoa, Marisol Ribeiro como delegada e  Gisele Itié como seqüestradora não convencem. Para um filme de baixo orçamento, Inversão é um thriller policial que não fica muito atrás dos produzidos por aí, apesar dos deslizes. O cinema brasileiro bem que poderia investir mais no segmento, até para acertar mais vezes.

domingo, 19 de junho de 2011

Jornalismo policialesco é preferência nacional?

Ao longo da história, a TV brasileira coleciona muitos programas jornalísticos com temática policial. Essas produções são conhecidas por glaumorizarem a ação da polícia contra o crime. Muitos defendem a tese de que esse tipo de programa consagra o jornalismo verdade, aquele que mostra a realidade das ruas. Mas tem quem considere que esse tipo de atração apenas explora o mundo cão. Não se pode negar que são bons de audiência, prova disso é a contratação de José Luiz Datena pela Rede Record para relançar o Cidade Alerta. Alguém duvida?

sábado, 11 de junho de 2011

A era dos dataholics


Vivemos num mundo intensivamente midiatizado em que jornal, rádio, TV e internet se retroalimentam. Parece que não conseguimos mais viver sem ter acesso às últimas novidades. E o mais intrigante é que, mesmo mais sintonizados, temos a sensação de estarmos desatualizados. Os fatos surgem, repercutem e são esquecidos numa velocidade cada vez mais rápida. Esse processo opressor é responsável pelo crescimento dos chamados dataholics, indivíduos viciados em notícias.

Graças à convergência midiática, TV, rádio e internet estão no celular, facilitando o acesso dos dataholics às informações mais recentes. Esse indivíduo passa o dia todo conectado, no trabalho, na faculdade, no metrô, enfim, em todo lugar. E quando chega em casa ainda liga a TV ou mesmo o computador para se atualizar antes de dormir, sendo que muitas das notícias são as mesmas que ele teve acesso durante o dia. A busca por novidades ocorre de modo frenético.

Segundo pesquisa da agência Giovanni+DraftFCB, divulgada ano passado, os dataholics são, em geral, os mais jovens. Conectados à internet, eles dominam as ferramentas de comunicação e estão sempre buscando mais novidades. Não se perdoam por não saber o que está acontecendo, não importando a relevância do fato.

A necessidade de estar atualizado é uma panacéia promovida pela própria mídia. Estar desinformado significa exclusão, como se o indivíduo estivesse fora do mesmo microcosmo dos altamente informados. No entanto, o que preocupa nos dataholics é o tempo que destinam para acompanhar as últimas notícias, os vídeos que “bombam” na internet ou os assuntos mais comentados no twitter.

Toda essa atualização não quer dizer mais conhecimento, pelo contrário, no afã de não perder nada, os dataholics não conseguem refletir a respeito do conteúdo que consomem. A informação é importante, mas devemos nos tornar seletivos nesse sentido. Seja material noticioso ou de entretenimento, nem tudo precisa ser acessado. Informação em excesso e sem criticidade não passa de saturação, sintoma típico da pós-modernidade e dos dataholics.

sábado, 4 de junho de 2011

Destinos cruzados


A vida é feita de encontros e desencontros. Previstos ou inusitados. O filme Não se pode viver sem amor, de Jorge Durán, se alimenta dessa máxima para contar uma história cheia de reviravoltas, melancolia e realismo fantástico. É dia 23 de dezembro, pessoas desconhecidas terão seus caminhos entrelaçados para sempre, como num conto de fadas.

Gabriel (Victor Navega Motta) e Roseli (Simone Spoladore) chegam ao Rio de Janeiro para encontrar o pai do menino, que os abandonou há algum tempo. Essa busca revelará que Gabriel é uma criança diferente, que parece antever os acontecimentos. O olhar perdido do garoto é como a janela da alma.

João (Cauã Reymond), advogado desempregado namora a misteriosa dançarina de boate, Gilda (Fabiula Nascimento). Os dois vivem uma relação conflituosa, em que a falta de perspectiva vai consumindo o amor do casal. Gilda sonha em mudar de vida e, por isso, exige que o namorado consiga dinheiro de qualquer modo.  Desesperado, o jovem vai se envolver com algo perigoso que mudará a vida de todos.

Pedro (Ângelo Antônio), pesquisador universitário, não sabe se aceita a bolsa de estudos e viaja para o exterior ou fica com sua namorada. Ele ainda precisa cuidar de seu pai, um taxista que anda doente. Indeciso, o acadêmico esquecerá seus problemas quando seu destino cruzar com estranhos na antevéspera do Natal.

Os personagens de Não se pode viver sem amor estão à procura de respostas para as suas angústias. Os sentimentos estão à flor da pele. Todos querem encontrar essa tal felicidade. Eles terão que aprender a cultivar a esperança, mesmo diante dos problemas do cotidiano. E, juntos, precisam continuar acreditando que só o amor pode transformar a vida pra valer.

O elenco está afinado, com destaque para Simone Spoladore e o garoto Victor Navega Motta. Ângelo Antônio como sempre está muito bem. Alías, a cena do banho de chuva entre os três é uma boa amostra dessa sintonia. Cauã interpreta um personagem muito parecido ao que viveu em Se Nada Mais Der Certo (2008). Já está ficando marcado por este tipo de papel.

Dúran, que dirigiu Proibido Proibir (2007), aposta num drama onde tudo é possível, em que a realidade não aprisiona e a imaginação ganha asas. Até a cidade do Rio de Janeiro é mostrada sob um olhar bucólico. Não se pode viver sem amor é um filme para gente de mente aberta, que causa estranhamento para quem não embarcar na história.