Luciano Huck e Angélica são os rostos que melhor representam a elite brasileira. Ricos, brancos, profissionais de mídia e que adoram fazer “filantropia”. A capa da revista Veja desta semana ao estampá-los com a manchete a “Reinvenção do bom-mocismo” eleva o casal à perfeição, como um modelo a ser seguido. A publicação da editora Abril procura com isso rejuvenescer a cara da burguesia do país, que nos últimos tempos vem perdendo espaço na formação da opinião pública.
O que num primeiro parece caridade, na verdade, não passa de marketing pessoal. Durante a tragédia na região serrana do Rio de Janeiro, Luciano Huck, que é o sócio do site de compras coletivas Peixe Urbano, lançou uma campanha, no mínimo, controversa. A compra de cupons por meio do site reverteria benefício às vítimas das enchentes. Detalhe, era necessário se cadastrar no canal de negócios de Huck. O apresentador global utilizou da comoção nacional para alavancar seu empreendimento, fidelizando novos clientes, além de ter um ganho incalculável em sua imagem perante os brasileiros. Imagine o alcance dessa ação, levando-se em conta que ele possui mais de 2 milhões de seguidores no twitter. Realmente, o cara é um gênio do business.
Esse mesmo Luciano Huck em 2007 se mostrou revoltado com a violência urbana quando teve roubado seu Rolex na capital paulista. Na época ele escreveu um artigo publicado na Folha de S. Paulo em que se descrevia como alguém que “passa o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana(...)”. O texto misturava desabafo de playboy com a histeria de alguém que, segundo ele próprio, paga uma fortuna com impostos e por isso exigia um melhor tratamento. É evidente que um assalto deixa qualquer vítima indignada e traumatizada, mas as palavras do apresentador global dava a impressão que logo ele não merecia passar por uma situação daquelas.
Huck apresenta um programa para toda a família, mas com grande apelo entre os jovens. Suas atrações são, em sua maioria, cópias de produções norte-americanas, como Lata Velha e Lar Doce Lar. Nelas, ele promove o mesmo assistencialismo que Gugu ou Celso Portioli cansam de mostrar, mas com uma roupagem moderna. A lógica é simples: o participante, sempre marcado por uma história triste, para conseguir o prêmio precisa superar desafios ou simplesmente “pagar mico”. O apresentador adora visitar comunidades pobres, como o Complexo do Alemão e a Rocinha, potencializando sua imagem de celebridade com responsabilidade social.
Neste momento em que a elite brasileira precisa se oxigenar, nada mais conveniente do que estampar um casal bem-sucedido e com grande credibilidade entre o público. Luciano Huck e Angélica são ótimos representantes de um segmento da sociedade que só se preocupa realmente com o povo para fazer marketing solidário ou para garantir alguns pontos no IBOPE.