terça-feira, 18 de junho de 2013

Protestos, demagogia e redes: um breve análise




Nada como uma boa noite de sono para organizar as ideias e refletir melhor sobre o histórico “17 de Junho de 2013”. Contendo a euforia ingênua e relativizando o caráter revolucionário dos protestos de ontem, destaco quatro características que me chamou a atenção:

1 – Creio que nenhum político consiga se capitalizar eleitoralmente, personificando esse clamor de mudanças. Há um desgaste natural em relação ao PT e ao PSDB, juntos, há vinte anos no poder. Marina Silva, que recentemente defendeu o deputado Marco Feliciano (PSC), tem uma postura ambígua, gosta de estar bem com todos os setores sociais, não propondo nenhuma grande ruptura com o que temos aí. Assim, pode ser que nas próximas eleições os partidos de esquerda (PSOL, PSTU e PCO) cresçam politicamente e se tornem uma opção viável de poder. Mas o que avança mesmo entre os jovens é o APARTIDARISMO, em que nenhuma força política os representa.

2- Existe nesse movimento um grande e nítido processo de despolitização. Se em virtude das redes sociais, os jovens hoje têm acesso a todo tipo de informação, falta conhecimento sobre o funcionamento de nossas instituições, sobre os três Poderes. Puxar um coro contra a Dilma é fácil (até empolga a galera), mas lembrar em quem votou nas últimas eleições é que é difícil. Pedir o impeachment da Dilma e do Alckmin, sem nenhum fato realmente comprometedor e devidamente comprovado é um atentado à democracia. Ambos foram eleitos democraticamente e devem ser cobrados, mas daí querer tirá-los na base do grito é GOLPE. Multiplicam-se pela internet as chamadas petições online, creio que se trata de um instrumento legítimo, mas cômodo em termos de exercício de cidadania. Por isso, menos “Caras Pintadas” e mais “Diretas Já”. Quem conhece os dois momentos, sabe diferenciá-los muito bem. Na realidade, tinha manifestante mais preocupado em postar fotos no Instagram do que protestar por uma tarifa social no transporte público.

3- Há uma evidente cisão entre os movimentos, formados em grande pela classe média, e a periferia. Em Santos (no litoral paulista), quase não vi negros, o mais incauto logo concluiria que eles são acomodados, mas são os que estão dentro dos ônibus, nas ciclovias, voltando de um dia duro de trabalho. Voltando para casa, na periferia de São Vicente, os comentários eram um uníssono: “esses vagabundos não trabalham, por isso, atrapalham a nossa volta para a casa”. Não creio que essa indignação coletiva esteja massificada a ponto de animar os mais pobres, esses estão mais preocupados com aspectos mais ligados a seu cotidiano. Alguns logo dirão que são alienados pelo sistema opressor, outros falarão que por não terem educação de qualidade, não sabem exercer seu papel de cidadão. A questão é que esses movimentos que nascem nas redes e ganham as ruas, ainda não ganharam a confiança da periferia.

4- A mídia, em particular a Rede Globo, tenta transformar o movimento Passe Livre em um movimento nacional contra a corrupção, fazendo uma aproximação ao julgamento do mensalão. A tática redutora é simples: os protestos começaram reivindicando a redução da tarifa, depois questionaram os gastos com a realização da Copa, mas agora estão reivindicando o fim da corrupção no Brasil, numa analogia clara ao movimento de direita conservadora, o chamado “Cansei”. É lógico que a estratégia é esvaziar a pautas originais – a redução das tarifas e a proposta de uma nova política para o transporte público– e fragilizar politicamente o governo Dilma. Mas o que se viu nas manifestações, foi um levante contra a presença dos profissionais da emissora, que costumam ressaltar somente os eventuais excessos dos manifestantes e a quebra da “ordem” pela ação de alguns vândalos infiltrados.

Mas diante da dimensão que tomou esses protestos, figuras, como Arnaldo Jabor, Marcelo Tas e alguns artistas da Globo começam a se apoderar do protagonismo desse movimento, diante desse oportunismo, é preciso refletir sobre os rumos que isso tudo tomará. 

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